Pular para o conteúdo principal

Parashá LECH LECHÁ

1
3ª do ano, 3ª de Bereshit
Gênesis (Bereshit) 6: 9-11:32
Haftará
Is 40.27-41.16
B’rit Hadashá
Rm 4.1-25
Tehilim (Salmos)
110
Estudo adicional EGW
Patriarcas e Profetas, Pág 125-176
A Vocação de Abraão
Pág. 125
2
Depois da dispersão de Babel, a idolatria tornou-se novamente quase universal, e o Senhor deixou afinal os empedernidos transgressores que seguissem seus maus caminhos, enquanto escolheu a Abraão, da linhagem de Sem, e o fez guardador de Sua lei para as gerações futuras. Abraão tinha crescido em meio de superstição e paganismo. Mesmo a casa de seu pai, pela qual o conhecimento de Deus tinha sido preservado, estava a entregar-se às influências sedutoras que os rodeavam, e "serviram a outros deuses" (Jos. 24:2) em vez de Jeová. Mas a verdadeira fé não devia extinguir-se. Deus sempre preservou um remanescente para O servir. Adão, Sete, Enoque, Matusalém, Noé, Sem, em linha ininterrupta, preservaram, de época em época, as preciosas revelações de Sua vontade. O filho de Terá se tornou o herdeiro deste sagrado depósito. A idolatria acenava-lhe de todo o lado, mas em vão. Fiel entre os infiéis, incontaminado pela apostasia prevalecente, com perseverança apegou-se ao culto do único verdadeiro Deus. "Perto está o Senhor de todos os que O invocam, de todos os que O invocam em verdade." Sal. 145:18. Ele comunicou Sua vontade a Abraão, e deu-lhe um conhecimento distinto das exigências de Sua lei, e da salvação que se realizaria por meio de Cristo.
Foi feita a Abraão a promessa de uma posteridade numerosa e de grandeza nacional, promessa especialmente acatada pelo povo daquela época: "Far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção". E a isto acrescentou-se esta certeza, mais preciosa do que todas as outras para o herdeiro da fé, de que o Redentor do mundo viria de sua linhagem: "Em ti serão benditas todas as famílias da Terra". Gên. 12:2 e 3. Contudo, como primeira condição de cumprimento, deveria haver uma prova para a fé; um sacrifício foi exigido.
Pág. 126
Veio a Abraão a mensagem de Deus: "Sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que Eu te mostrarei". Gên. 12:1. A fim de que Deus o pudesse habilitar para a sua grande obra, como guardador dos oráculos sagrados, Abraão devia desligar-se das relações de sua vida anterior. A influência de parentes e amigos incompatibilizar-se-ia com o ensino que o Senhor Se propunha a dar a Seu servo. Agora que Abraão estava, em sentido especial, ligado ao Céu, devia habitar entre estranhos. Seu caráter devia ser peculiar, diferindo de todo o mundo. Ele não podia nem mesmo explicar sua maneira de proceder, de modo que fosse compreendido por seus amigos. As coisas espirituais são discernidas espiritualmente, e seus intuitos e ações não eram entendidos por seus parentes idólatras.
"Pela fé, Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia." Heb. 11:8. Aquela obediência expedita de Abraão é uma das provas mais notáveis de fé a serem
3
encontradas em toda Bíblia. Para ele, a fé era "o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem". Heb. 11:1. Confiando na promessa divina, sem a menor garantia exterior de seu cumprimento, abandonou o lar, os parentes e a terra natal, e saiu, sem saber para onde, a fim de seguir aonde Deus o levasse. "Pela fé habitou na terra da promessa, como em terra alheia, morando em cabanas com Isaque e Jacó, herdeiro com ele da mesma promessa." Heb. 11:9.
Não fora uma pequena prova aquela a que foi assim submetido Abraão, nem pequeno o sacrifício que dele se exigira. Fortes laços havia para o prender ao seu país, seus parentes, seu lar. Ele, porém, não hesitou em obedecer ao chamado. Não teve perguntas a fazer concernentes à terra da promessa - se o solo era fértil, e o clima saudável, se o território oferecia um ambiente agradável, e proporcionaria oportunidades para se acumularem riquezas. Deus falara, e Seu servo devia obedecer; o lugar mais feliz da Terra para ele seria aquele em que Deus quisesse que ele se achasse.
Muitos ainda são provados como o foi Abraão. Não ouvem a voz de Deus falando diretamente do Céu, mas Ele os chama pelos ensinos de Sua Palavra e acontecimentos de Sua providência. Pode ser-lhes exigido abandonarem uma carreira que promete riqueza e honra, deixarem associações agradáveis e
Pág. 127
proveitosas, e separarem-se dos parentes, para entrarem naquilo que parece ser apenas uma senda de abnegação, dificuldades e sacrifícios. Deus tem uma obra para eles fazerem; mas uma vida de comodidade, e a influência de amigos e parentes, embaraçariam o desenvolvimento dos traços essenciais para a sua realização. Ele os chama para fora das influências e auxílio humanos, e os leva a sentirem a necessidade de Seu auxílio, e a confiarem nEle somente, para que Ele possa revelar-Se-lhes. Quem está pronto, ao chamado da Providência, para renunciar planos acariciados e relações familiares? Quem aceitará novos deveres e entrará em campos não experimentados, fazendo a obra de Deus com um coração firme e voluntário, considerando por amor a Cristo suas perdas como ganho? Aquele que deseja fazer isto tem a fé de Abraão, e com ele partilhará daquele "peso eterno de glória mui excelente" (II Cor. 4:17), com o qual "as aflições deste tempo presente não são para comparar". Rom. 8:18.
A chamada do Céu primeiramente viera a Abraão enquanto ele morava em "Ur dos Caldeus" (Gên. 11:31), e em obediência à mesma ele se mudou para Harã. Até este ponto a família de seu pai o acompanhou; pois, juntamente com sua idolatria, uniam-se ao culto ao verdadeiro Deus. Ali permaneceu Abraão até a morte de Terá. Apenas sepultado seu pai, a voz divina mandou-lhe que prosseguisse. Seu irmão Naor, com a família, apegaram-se a seu lar e seus
4
ídolos. Além de Sara, mulher de Abraão, apenas Ló, filho de Harã, falecido havia muito, optara partilhar da vida peregrina do patriarca. Foi, contudo, uma grande multidão a que partiu da Mesopotâmia. Abraão já possuía extensos rebanhos e gado, o que era a riqueza do Oriente, e estava cercado de numeroso grupo de servos e agregados. Estava ele a partir da terra de seus pais, para nunca mais voltar, e levou consigo tudo o que tinha, "a sua fazenda, que haviam adquirido, e as almas que lhe acresceram em Harã". Gên. 12:5. Entre estas achavam-se muitos que eram levados por considerações mais elevadas do que as de serviço ou interesse particular. Durante sua permanência em Harã, tanto Abraão como Sara haviam levado outros à adoração e ao culto do verdadeiro Deus. Estes apegaram-se à casa do patriarca, e o acompanharam à terra da promessa. "E saíram para irem à terra de Canaã; e vieram à terra de Canaã." Gên. 12:5.
O lugar em que se detiveram a princípio foi Siquém. À sombra dos carvalhos de Moré, em um vale extenso e relvoso, com seus bosques de oliveiras, e fontes a jorrar, entre o Monte Ebal
Pág. 128
de um lado e o Monte Gerizim do outro, fez Abraão o seu acampamento. Era um belo e formoso território aquele em que o patriarca havia entrado - "terra de ribeiros d'águas, de fontes, e de abismos, que saem dos vales e das montanhas; terra de trigo e cevada, e de vides, e figueiras, e romeiras; terra de oliveiras, abundante de azeite e mel". Deut. 8:7 e 8. Mas para o adorador de Jeová, uma densa sombra repousava sobre a colina coberta de árvores e fértil planície. "Estavam então os cananeus na terra." Abraão atingira o alvo de suas esperanças de encontrar um país ocupado por uma raça estranha, entre a qual estava propagada a idolatria. Achavam-se estabelecidos nos bosques os altares dos deuses falsos, e sacrifícios humanos eram oferecidos nos lugares altos que ficavam próximos. Conquanto ele se apegasse à promessa divina, não foi sem angustiosos pressentimentos que armou sua tenda. Então "apareceu o Senhor a Abraão, e disse: À tua semente darei esta terra". Gên. 12:7. Sua fé fortaleceu-se pela certeza de que a presença divina estava com ele, de que ele não fora abandonado nas mãos dos ímpios. "E edificou ali um altar ao Senhor, que lhe aparecera." Gên. 12:7. Ainda como um peregrino, logo se mudou para um lugar próximo de Betel, e de novo construiu um altar, e invocou o nome do Senhor.
Abraão, o amigo de Deus, dá-nos um digno exemplo. A sua vida foi uma vida de oração. Onde quer que ele armasse a tenda, junto construía o altar, convocando todos os que faziam parte de seu acampamento para o sacrifício da manhã e da tarde. Quando a tenda era removida, o altar ficava. Nos anos subseqüentes, houve os que entre os cananeus errantes receberam instrução de Abraão; e, quando quer que um desses vinha àquele altar, sabia quem
5
havia estado ali antes; e, depois de armar a tenda, reparava o altar, e ali adorava o Deus vivo.
Abraão continuou a viajar para o Sul; e de novo foi provada sua fé. Os céus retiveram a chuva, cessaram os ribeiros de correr nos vales, e a relva secou-se nas planícies. Os rebanhos e gado não encontravam pasto, e a morte pela fome ameaçava todo o acampamento. Não pôs agora o patriarca em dúvida a direção da Providência? Não retrocedeu ele os seus olhares saudosos para a abundância das planícies da Caldéia? Todos estavam avidamente atentos para ver o que Abraão faria, ao sobrevir-lhe dificuldade após dificuldade. Enquanto sua confiança pareceu estar inabalável, pressentiam que havia esperança; estavam certos de que Deus era seu amigo, e de que ainda os estava guiando.
Pág. 129
Abraão não podia explicar a direção da Providência; não realizara as suas expectativas; mas mantinha com firmeza a promessa: "Abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção". Gên. 12:2. Com oração fervorosa considerava ele como preservar a vida de seu povo e de seus rebanhos, mas não consentia que as circunstâncias lhe abalassem a fé na palavra de Deus. Para escapar da fome desceu ao Egito. Não abandonou Canaã, nem, em sua situação angustiosa, voltou para a Caldéia, donde viera, e onde não havia falta de pão; mas buscou um refúgio temporário tão perto quanto possível da terra da promessa, tencionando voltar em breve para o lugar em que Deus o colocara.
O Senhor em Sua providência trouxera esta prova a Abraão a fim de lhe ensinar lições de submissão, paciência e fé, lições que deveriam ser registradas para benefício de todos os que mais tarde fossem chamados a suportar a aflição. Deus dirige Seus filhos por um caminho que eles não conhecem; mas não Se esquece dos que nEle põem a confiança, nem os rejeita. Permitiu que a aflição sobreviesse a Jó, mas não o abandonou. Consentiu que o amado João fosse exilado para a solitária ilha de Patmos, mas o Filho de Deus o encontrou ali, e sua visão esteve repleta de cenas de glória imortal. Deus permite que as provações assaltem Seu povo, a fim de que pela sua constância e obediência possam eles mesmos enriquecer espiritualmente, e possa o seu exemplo ser uma fonte de força aos outros. "Eu bem sei os pensamentos que penso de vós, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal." Jer. 29:11. As mesmas provações que da maneira mais severa provam a nossa fé, e fazem parecer que Deus nos abandonou, devem levar-nos para mais perto de Cristo, para que possamos depor todos os nossos fardos a Seus pés, e experimentar a paz que Ele, em troca, nos dará.
Deus sempre tem provado o Seu povo na fornalha da aflição. É no calor da fornalha que a escória se separa do verdadeiro ouro do caráter cristão. Jesus
6
vigia a prova; Ele sabe o que é necessário para purificar o precioso metal, para que este possa refletir o brilho de Seu amor. É por meio de sofrimentos severos, decisivos, que Deus disciplina Seus servos. Ele vê que alguns têm capacidades que poderão ser empregadas no avançamento de Sua obra, e põe tais pessoas à prova; em Sua providência Ele as leva a posições que provem seu caráter, e revelem defeitos e fraquezas que têm estado ocultas ao seu próprio conhecimento.
Pág. 130
Dá-lhes oportunidade para corrigirem tais defeitos e adaptarem-se ao Seu serviço. Mostra-lhes suas fraquezas, e os ensina a buscar nEle o apoio; pois que Ele é o seu único auxílio e salvaguarda. Assim é alcançado o Seu objetivo. São educados, adestrados, disciplinados, preparados para desempenharem o grandioso propósito para o qual lhes foram dadas as suas capacidades. Quando Deus os chama à atividade, eles se acham prontos, e anjos celestiais podem unir-se-lhes na obra a ser cumprida na Terra.
Durante sua permanência no Egito, Abraão deu prova de que não estava livre de fraqueza e imperfeição humana. Ocultando o fato de que Sara era sua esposa, evidenciou desconfiança no cuidado divino, falta daquela fé e coragem sublime tão freqüente e nobremente exemplificada em sua vida. ... Sara era "formosa à vista", e ele não duvidou de que os egípcios de pele morena, cobiçariam a bela estrangeira, e que, a fim de consegui-la, não teriam escrúpulo de matar a seu marido. Raciocinou que não seria culpado de falsidade ao apresentar Sara como sua irmã; pois que era filha de seu pai, posto que não de sua mãe. Mas esta ocultação da verdadeira relação entre eles, era engano. Nenhum desvio da estrita integridade pode encontrar a aprovação de Deus. Devido à falta de fé por parte de Abraão, Sara foi posta em grande perigo. O rei do Egito, sendo informado de sua beleza, fez com que ela fosse levada ao seu palácio, tencionando fazer dela sua esposa. Mas o Senhor, em Sua grande misericórdia, protegeu a Sara, enviando juízos sobre a casa real. Por este meio o rei soube a verdade a tal respeito; e, indignado pelo engano praticado para com ele, reprovou Abraão, e restituiu-lhe a esposa, dizendo: "Que é isto que me fizeste? ... Por que disseste: É minha irmã? de maneira que a houvera tomado por minha mulher; agora, pois, eis aqui tua mulher; toma-a e vai-te". Gên. 12:18 e 19.
Abraão tinha sido grandemente favorecido pelo rei; mesmo agora Faraó não permitiu que se fizesse mal a ele ou à sua multidão, antes ordenou que uma guarda os conduzisse em segurança para fora de seus domínios. Por esse tempo fizeram-se leis que proibiam aos egípcios relações tais com os pastores estrangeiros que os levassem a ter familiaridade para comerem ou beberem com eles. A despedida de Faraó a Abraão foi amável e generosa; mas ordenou-lhe que deixasse o Egito, pois não ousava permitir-lhe que aí
7
permanecesse. Sem o saber estivera a ponto de lhe fazer um grave mal; mas Deus interviera e salvara o rei de
Pág. 131
cometer tão grande pecado. Faraó viu neste estrangeiro um homem a quem o Deus do Céu honrava, e receou ter em seu reino alguém que de maneira tão evidente se achava sob o favor divino. Se Abraão ficasse no Egito, sua crescente riqueza e honra seriam de molde a despertar a inveja e a cobiça dos egípcios, e algum agravo lhe poderia ser feito, pelo qual o rei seria considerado como responsável, e o qual de novo poderia acarretar juízos sobre a casa real.
A advertência feita a Faraó demonstrou ser uma proteção para Abraão em suas relações posteriores com os povos gentios; pois tal coisa não pode ser conservada em segredo, e viu-se que o Deus que Abraão adorava, protegeria a Seu servo, e que qualquer mal a ele feito seria vingado. Coisa perigosa é ocasionar dano a um dos filhos do Rei do Céu. O salmista se refere a este capítulo da experiência de Abraão, quando diz, falando do povo escolhido, que Deus "por amor deles repreendeu reis, dizendo: Não toqueis nos Meus ungidos, e não maltrateis os Meus profetas". Sal. 105:14 e 15.
Há uma semelhança interessante entre a experiência de Abraão no Egito e a de sua posteridade, séculos mais tarde. Ambos desceram ao Egito por causa de uma fome, e ambos ali residiram temporariamente. Mediante as manifestações dos juízos divinos em seu favor o seu temor caiu sobre os egípcios; e, enriquecidos pelas dádivas dos gentios, saíram com muitos recursos.
12
Abraão em Canaã
Pág. 132
Abraão voltou para Canaã "muito rico em gado, em prata, e em ouro". Gên. 13:1-9. Ló ainda estava com ele, e novamente vieram a Betel, e armaram suas tendas ao lado do altar que haviam construído anteriormente. Logo acharam que os bens acrescentados traziam maiores dificuldades. Em meio de dificuldades e provações tinham morado juntos, em harmonia, mas em sua prosperidade havia perigo de contenda entre eles. Os pastos não eram suficientes para os rebanhos e gado de ambos, e as freqüentes discussões entre os pastores eram trazidas para ajuste aos seus senhores. Era claro que deviam separar-se. Abraão era superior a Ló em idade, e em parentesco, riqueza e posição; no entanto foi o primeiro a propor planos para conservarem a paz. Se bem que a terra toda lhe houvesse sido dada pelo próprio Deus, cortesmente declinou de seu direito.
8
"Ora não haja contenda", disse ele, "entre mim e ti, e entre os meus pastores e os teus pastores, porque irmãos somos. Não está toda a terra diante de ti? Eia, pois, aparta-te de mim; se escolheres a esquerda, irei para a direita; e, se a direita escolheres, eu irei para a esquerda."
Aqui se ostentou o nobre e abnegado espírito de Abraão. Quantos, em circunstâncias idênticas, não se apegariam com todo o risco aos seus direitos e preferências individuais! Quantos lares não se têm desta maneira esfacelado. Quantas igrejas não se têm desagregado, tornando a causa da verdade objeto de zombaria e injúria entre os ímpios! "Não haja contenda entre mim e ti", disse Abraão, "porque irmãos somos", não somente pelo parentesco natural, mas como adoradores do verdadeiro Deus. Os filhos de Deus, pelo mundo inteiro, são uma família, e o mesmo espírito de amor e conciliação os deve governar. "Amai-vos
Pág. 133
cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros" (Rom. 12:10) - é o ensino de nosso Salvador. A cultura de uma cortesia uniforme, de uma disposição para fazer aos outros conforme desejaríamos que nos fizessem, extinguiria a metade dos males da vida. O espírito de engrandecimento próprio é o espírito de Satanás; mas o coração em que o amor de Cristo é acalentado, possuirá aquela caridade que não busca o seu próprio proveito. Tal coração dará atenção ao mandado divino: "Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros". Filip. 2:4.
Embora Ló devesse a prosperidade à sua conexão com Abraão, não manifestou gratidão ao seu benfeitor. A cortesia determinava que ele cedesse à escolha de Abraão; mas, em lugar disso, esforçou-se egoistamente por tomar todas as vantagens. "E levantou Ló os seus olhos, e viu toda a campina do Jordão, que era toda bem regada, ... e era como o jardim do Senhor, como a terra do Egito, quando se entra em Zoar." Gên. 13:10-13. A região mais fértil de toda a Palestina era o vale do Jordão, lembrando o Paraíso perdido aos que a viam, e igualando a beleza e produtividade das planícies enriquecidas pelo Nilo, que tão recentemente haviam deixado. Havia também cidades, ricas e belas, convidando ao comércio lucrativo em seus concorridos mercados. Deslumbrado pela visão de proveitos mundanos, Ló não tomou em consideração os males morais e espirituais, que ali se encontrariam. Os habitantes da planície eram "grandes pecadores contra o Senhor"; mas a respeito disto ele estava em ignorância, ou, se o sabia, não o ponderou muito. Ele "escolheu para si toda a campina do Jordão", e "armou as suas tendas até Sodoma". Quão pouco previu ele os terríveis resultados daquela escolha egoísta!
9
Depois da separação de Ló, Abraão de novo recebeu do Senhor uma promessa de todo o país. Logo depois disto ele se mudou para Hebrom, construindo sua tenda sob os carvalhos de Manre, e erguendo ao lado um altar ao Senhor. Ao ar livre daqueles planaltos, com seus bosques de oliveiras e vinhedos, com seus campos de cereais a ondearem, e as vastas pastagens das colinas circunjacentes, morou ele muito contente, com sua vida simples e patriarcal, deixando a Ló o luxo perigoso do vale de Sodoma.
Abraão era honrado pelas nações circunvizinhas como um poderoso príncipe, e chefe sábio e capaz. Ele não excluía de seus vizinhos a sua influência. Sua vida, bem como caráter, em assinalado contraste com a dos adoradores de ídolos, exercia uma
Pág. 134
influência eloqüente em favor da verdadeira fé. Sua fidelidade para com Deus era inabalável, enquanto sua afabilidade e beneficência inspiravam confiança e amizade, e sua grandeza sem afetação impunha respeito e honra.
Não considerava sua religião como um tesouro precioso a ser guardado cuidadosamente, e unicamente desfrutado pelo seu possuidor. A verdadeira religião não pode assim ser tida; pois tal espírito é contrário aos princípios do evangelho. Enquanto Cristo habita no coração, é impossível esconder a luz de Sua presença, ou que aquela luz se enfraqueça. Ao contrário, tornar-se-á cada vez mais resplandecente, enquanto, dia após dia, os brilhantes raios do Sol da justiça dissipam as névoas do egoísmo e do pecado que envolvem a alma.
O povo de Deus são os Seus representantes na Terra, e é Seu desígnio que eles sejam luzes nas trevas morais deste mundo. Espalhados por todo o país, nas cidades, vilas e aldeias, são eles as testemunhas de Deus, os condutos pelos quais Ele comunicará a um mundo incrédulo o conhecimento de Sua vontade e as maravilhas de Sua graça. É Seu plano que todos os que são participantes da grande salvação, sejam para Ele missionários. A piedade dos cristãos constitui a norma pela qual os mundanos julgam o evangelho. Provações pacientemente suportadas, bênçãos recebidas com agradecimento, mansidão, bondade, misericórdia, e amor, manifestados habitualmente, são as luzes que resplandecem no caráter perante o mundo, revelando o contraste com as trevas que vêm do egoísmo do coração natural.
Rico na fé, nobre em generosidade, inabalável na obediência, e humilde na simplicidade de sua vida peregrina, Abraão era também sábio em diplomacia, e corajoso e hábil na guerra. Apesar de saber-se que ele era ensinador de uma nova religião, três régios irmãos, governadores das planícies dos amorreus, na qual ele habitava, manifestaram sua amizade, convidando-o a entrar em aliança com eles para maior segurança; pois o país estava cheio de violência e
10
opressão. Uma ocasião logo se apresentou para ele aproveitar-se desta aliança.
Quedorlaomer, rei de Elão, tinha invadido Canaã catorze anos antes, e a tornara sua tributária. Vários dos príncipes revoltaram-se agora, e o rei elamita, com quatro aliados, de novo marchou contra o país para os reduzir à submissão. Cinco reis de Canaã uniram suas forças, e enfrentaram os invasores no vale de Sidim, mas tão-somente para serem completamente derrotados.
Pág. 135
Grande parte do exército foi trucidada; e os que escaparam fugiram para as montanhas em busca de segurança. Os vitoriosos saquearam as cidades da planície, e partiram com rico despojo e muitos cativos, entre os quais se encontrava Ló com sua família.
Abraão, habitando em paz nos carvalhais de Manre, soube por um dos fugitivos a história da batalha, e a calamidade que sobreviera ao sobrinho. Não alimentara qualquer lembrança desagradável da ingratidão de Ló. Despertou-se toda a sua afeição por ele, e decidiu que devia ser libertado. Procurando antes de tudo o conselho divino, Abraão preparou-se para a guerra. Do seu próprio acampamento convocou trezentos e dezoito servos adestrados, homens ensinados no temor de Deus, no serviço de seu senhor, e no uso das armas. Seus aliados, Manre, Escol e Aner, uniram-se a ele com os seus grupos, e juntos partiram em perseguição dos invasores. Os elamitas e seus aliados tinham-se acampado em Dã, na fronteira ao Norte de Canaã. Entusiasmados pela vitória, e não tendo receio de um assalto por parte de seus adversários vencidos, entregaram-se à orgia. O patriarca dividiu suas forças de modo a aproximar-se por diversas direções, e veio sobre o acampamento à noite. Seu ataque, tão vigoroso e inesperado, resultou em uma rápida vitória. O rei de Elão foi morto, e suas forças, tomadas de pânico foram postas em fuga. Ló e sua família, com todos os prisioneiros e seus bens, foram recuperados, e um rico despojo caiu nas mãos dos vitoriosos. A Abraão, abaixo de Deus, foi devido o triunfo. O adorador de Jeová não somente havia prestado um grande serviço ao país, mas mostrara-se ser um homem de valor. Viu-se que a justiça não é covardia, e que a religião de Abraão tornava-o corajoso ao manter o direito e defender os oprimidos. Seu heróico ato deu-lhe uma dilatada influência entre as tribos circunvizinhas. À sua volta, o rei de Sodoma saiu com seu séquito para honrar o vencedor. Rogou-lhe que tomasse os bens, pedindo tão-somente que os prisioneiros fossem restituídos. Pelos usos da guerra, o despojo pertencia aos vencedores; mas Abraão não empreendera esta expedição com o intuito de lucros, e recusou-se a tirar vantagem daquele que fora infeliz, estipulando apenas que seus aliados recebessem a parte a que tinham direito.
11
Poucos, sendo submetidos a tal prova, ter-se-iam mostrado tão nobres como Abraão. Poucos teriam resistido à tentação de adquirir
Pág. 136
um despojo tão rico. Seu exemplo é uma reprovação aos espíritos egoístas e mercenários. Abraão tomava em consideração os direitos da justiça e humanidade. Sua conduta ilustra a máxima inspirada: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo". Lev. 19:18. "Levantei minha mão ao Senhor", disse ele, "o Deus altíssimo, o Possuidor dos Céus e da Terra, que desde um fio até à correia dum sapato, não tomarei coisa alguma de tudo o que é teu, para que não digas: Eu enriqueci a Abraão." Gên. 14:17-24. Ele não lhes daria ocasião para pensarem que se empenhara em guerra por amor ao ganho, ou para atribuírem sua prosperidade a dádivas ou favor deles. Deus prometera abençoar Abraão, e a Ele seria atribuída a glória.
Outro que viera para dar as boas-vindas ao patriarca vitorioso, foi Melquisedeque, rei de Salém, que trouxe pão e vinho para alimento de seu exército. Como "sacerdote do Deus altíssimo, pronunciou uma bênção sobre Abraão, e deu graças ao Senhor que operara um tão grande livramento por meio de Seu servo. E Abraão "deu-lhe o dízimo de tudo".
Abraão voltou com alegria para as suas tendas e rebanhos; mas seu espírito estava perturbado por pensamentos que o incomodavam. Tinha sido um homem de paz, excluindo tanto quanto possível a inimizade e a contenda; e com horror lembrava-se das cenas de carnificina que testemunhara. Mas as nações cujas forças ele havia derrotado, sem dúvida renovariam a invasão de Canaã, e dele fariam o objeto especial de sua vingança. Envolvendo-se desta maneira em questões nacionais, quebrar-se-ia a calma pacífica de sua vida. Demais, ele não havia entrado na posse de Canaã, tampouco poderia ter então esperança de um herdeiro, a quem pudesse cumprir-se a promessa.
Em uma visão da noite ouviu de novo a voz divina. "Não temas, Abraão", foram as palavras do Príncipe dos príncipes; "Eu sou o teu escudo, o teu grandíssimo galardão." Gên. 15:1-5. Mas sua mente estava tão oprimida com sinais que ele não pôde então apreender a promessa com implícita confiança, como antes fazia. Orou pedindo alguma prova palpável de que ela se cumpriria. E como deveria cumprir-se a promessa do concerto, enquanto o dom de um filho lhe era recusado? "Que me hás de dar", disse ele, "pois ando sem filhos?" Gên. 15:2. "E eis que um nascido na minha casa será o meu herdeiro." Gên. 15:3. Propôs fazer de seu fiel servo Eliézer seu filho adotivo, e herdeiro de suas posses. Mas foi-lhe
Pág. 137
12
assegurado que um filho dele mesmo seria o seu herdeiro. Levado para fora de sua tenda, foi-lhe dito que olhasse para as incontáveis estrelas a resplandecer nos céus; e, fazendo ele isto, foram proferidas estas palavras: "Assim será a tua semente." Gên. 15:5. "Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça." Rom. 4:3.
O patriarca pediu ainda algum sinal visível em confirmação de sua fé, e como prova para as gerações posteriores de que os propósitos de Deus, cheios de graça, para com elas, seriam cumpridos. O Senhor condescendeu em fazer um concerto com Seu servo, empregando as mesmas formas que eram usuais entre os homens para a ratificação de um contrato solene. Por determinação divina, Abraão sacrificou uma bezerra, uma cabra e um carneiro, cada um de três anos, dividindo os corpos, e pondo os pedaços a pequena distância entre si. A estes acrescentou ele uma rola e um pombinho, que, entretanto, não foram divididos. Isto feito, reverentemente passou entre as partes do sacrifício, fazendo a Deus um voto solene de perpétua obediência. Atento e perseverante permaneceu ao lado dos corpos mortos, até baixar-se o Sol, a fim de os guardar de serem contaminados ou comidos pelas aves de rapina. Aproximadamente ao pôr-do-sol, caiu em um profundo sono; "e eis que grande espanto e grande escuridão caiu sobre ele". Gên. 15:7-18. Ouvida a voz de Deus, ordenando-lhe que não esperasse a posse imediata da terra prometida, e indicando no futuro os sofrimentos de sua posteridade antes de seu estabelecimento em Canaã. O plano da redenção foi-lhe ali desvendado, na morte de Cristo, o grande sacrifício, e em Sua vinda em glória. Abraão viu também a Terra restabelecida à sua beleza edênica, para lhe ser dada em possessão eterna, como o cumprimento final e completo da promessa.
Como garantia deste concerto de Deus com os homens, um forno de fumo e uma tocha de fogo, símbolos da presença divina, passaram por entre as vítimas repartidas, consumindo-as totalmente. E de novo foi ouvida por Abraão uma voz, confirmando a dádiva da terra de Canaã a seus descendentes, "desde o rio Egito até o grande rio Eufrates".
Quando Abraão tinha estado quase vinte e cinco anos em Canaã, o Senhor lhe apareceu e disse-lhe: "Eu sou o Deus todo-poderoso, anda em Minha presença e sê perfeito." Gên. 17:1-16. Com temor reverente, o patriarca prostrou-se, rosto em terra, e a mensagem continuou: "Eis o Meu concerto contigo é, e serás o pai de uma multidão de nações". Gên. 17:4. Em sinal do cumprimento deste
Pág. 138
concerto, seu nome, que até ali era Abrão, foi mudado para Abraão, que significa: "pai de uma multidão". Gên. 17:5. O nome de Sarai tornou-se Sara -
13
"princesa", "porque", disse a voz divina, "será mãe das nações; reis de povos sairão dela". Gên. 17:16.
Nesta ocasião o rito da circuncisão foi dado a Abraão como "selo da justiça da fé quando estava na incircuncisão". Rom. 4:11. Deveria ser observado pelo patriarca e seus descendentes como sinal de que eram dedicados ao serviço de Deus e assim separados dos idólatras, e de que Deus os aceitava como Seu tesouro peculiar. Por meio deste rito comprometiam-se a satisfazer, por sua parte, as condições do concerto feito com Abraão. Não deveriam contrair matrimônio com os gentios; pois, assim fazendo, perderiam sua reverência para com Deus e Sua santa lei; seriam tentados a entregar-se às práticas pecaminosas de outras nações, e seduzidos à idolatria.
Deus conferiu grande honra a Abraão. Anjos do Céu andavam e falavam com ele como faz um amigo a outro. Quando juízos estavam para cair sobre Sodoma, este fato não lhe foi oculto e ele se tornou intercessor junto a Deus pelos pecadores. Sua entrevista com os anjos apresenta também um belo exemplo de hospitalidade.
Na hora de maior calor de um dia de verão, o patriarca estava assentado à porta de sua tenda, olhando para a silenciosa paisagem, quando viu a distância três viajantes aproximando-se. Antes que chegassem à sua tenda, os estranhos pararam, como que consultando a respeito de seu caminho. Sem esperar que pedissem qualquer favor, Abraão levantou-se rápido e, quando aparentemente estavam a tomar outra direção, foi apressado após eles, e com a maior cortesia insistiu que o honrassem, detendo-se um pouco para uma merenda. Com as próprias mãos trouxe água para que lavassem de seus pés o pó da viagem. "Ele mesmo escolheu o alimento, e, enquanto estavam a descansar à fresca sombra, preparou-se a refeição, e respeitosamente permaneceu-lhes ao lado enquanto participavam de sua hospitalidade. Este ato de cortesia Deus considerou de importância suficiente para registrar-se em Sua Palavra; e, mil anos mais tarde, foi-lhe feita referência por um apóstolo inspirado: "Não vos esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns, não o sabendo, hospedaram anjos". Heb. 13:2.
Abraão vira em seus hóspedes apenas três viajantes cansados,
Pág. 139
mal supondo que entre eles estava Um, a quem poderia adorar sem pecado. Mas o verdadeiro caráter dos mensageiros celestiais foi agora revelado. Se bem que estivessem a caminho como ministros da ira, contudo a Abraão, o homem da fé, falaram a princípio de bênçãos. Posto que Deus seja estrito em notar a iniqüidade, e em punir a transgressão, não tem prazer na vingança. A obra de destruição é uma "estranha obra" (Isa. 25:28) para Aquele que é infinito no amor.
14
"O segredo do Senhor é para os que O temem." Sal. 25:14. Abraão tinha honrado a Deus, e o Senhor o honrou, dando-lhe parte em Seus conselhos e revelando-lhe Seus propósitos. "Ocultarei Eu a Abraão o que faço?" disse o Senhor. "O clamor de Sodoma e Gomorra se tem multiplicado, e porquanto o seu pecado se tem agravado muito, descerei agora, e verei se com efeito tem praticado segundo este clamor, que é vindo até Mim; e, se não, sabê-lo-ei." Gên. 18:17-33. O Senhor bem sabia a medida do delito de Sodoma; exprimiu-Se, porém, segundo a maneira dos homens, para que a justiça de Seu trato pudesse ser compreendida. Antes de trazer o juízo sobre os transgressores, Ele próprio iria proceder a um exame de sua conduta; se não houvessem passado os limites da misericórdia divina, conceder-lhes-ia tempo para se arrependerem.
Dois dos mensageiros celestes partiram, deixando Abraão só com Aquele que agora soube ser o Filho de Deus. E o homem de fé pleiteou pelos habitantes de Sodoma. Uma vez ele os salvara com a espada; agora se esforçava por salvá-los pela oração. Ló e sua casa ainda eram moradores ali; e o abnegado amor que prontificara Abraão para os livrar dos elamitas, procurava agora salvá-los da calamidade dos juízos divinos, se tal fosse a vontade de Deus.
Com profunda reverência e humildade insistiu em seu rogo: "Eis que agora me atrevi a falar ao Senhor, ainda que sou pó e cinza". Gên. 18:27. Não havia qualquer confiança em si próprio, nem jactância pela sua justiça. Não pretendia graça pelo motivo de sua obediência, ou dos sacrifícios que fizera ao cumprir a vontade de Deus. Sendo ele próprio pecador, rogava em prol do pecador. Tal espírito devem possuir todos os que se aproximam de Deus. Abraão manifestava contudo a confiança de uma criança a rogar a seu amado pai. Achegou-se ao mensageiro celeste, e instou fervorosamente com a sua petição. Conquanto Ló se tornasse morador em Sodoma, não participava da iniqüidade de seus habitantes. Abraão julgava que naquela populosa cidade deveria haver
Pág. 140
outros adoradores do verdadeiro Deus. E em vista disto rogou ele: "Longe de Ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; ... longe de Ti seja. Não faria justiça o Juiz de toda a Terra?" Gên. 18:25. Abraão não pediu simplesmente uma vez, mas muitas vezes. Tornando-se mais ousado, ao serem satisfeitos os seus pedidos, continuou até obter certeza de que, se mesmo dez pessoas justas pudessem achar-se nela, a cidade seria poupada.
O amor pelas almas que pereciam, inspirava a oração de Abraão. Ao mesmo tempo em que lhe repugnavam os pecados daquela cidade corrupta, desejava que os pecadores pudessem salvar-se. Seu profundo interesse por Sodoma mostra a ansiedade que devemos experimentar pelos impenitentes. Devemos
15
alimentar ódio ao pecado, mas piedade e amor para com o pecador. Em redor de nós existem almas que descem à ruína, tão irremediável, tão terrível, como aquela que recaiu sobre Sodoma. Cada dia o tempo de graça de alguém se encerra. Cada hora alguns passam para além do alcance da misericórdia. E onde estão as vozes de aviso e rogo, mandando o pecador fugir desta condenação terrível? Onde estão as mãos estendidas para o fazer retroceder do caminho da morte? Onde estão os que com humildade e fé perseverante intercedem junto a Deus por ele?
O espírito de Abraão era o espírito de Cristo. O Filho de Deus é o grande intercessor em favor do pecador. Aquele que pagou o preço pela redenção da alma humana, sabe o valor de uma alma. Com tal antagonismo ao mal, que unicamente pode existir em uma natureza imaculadamente pura, Cristo manifestou para com o pecador um amor que apenas a infinita bondade poderia conceder. Nas agonias da crucifixão, Ele próprio sobrecarregado com o peso medonho dos pecados do mundo inteiro, orou por aqueles que O aviltavam e assassinavam: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem". Luc. 23:34.
De Abraão está escrito que "foi chamado o amigo de Deus" (Tia. 2:23), "pai de todos os que crêem". Rom. 4:11. O testemunho de Deus com relação a este fiel patriarca, é: "Abraão obedeceu à Minha voz, e guardou o Meu mandado, os Meus preceitos, os Meus estatutos, e as Minhas leis". Gên. 26:5. E outra vez: "Eu o tenho conhecido, que ele há de ordenar a seus filhos e a sua casa depois dele, para que guardem o caminho do Senhor, para obrarem com justiça e juízo; para que o Senhor faça vir sobre Abraão o que acerca dele tem falado". Gên. 18:19. Alta honra aquela a que Abraão foi chamado, para ser o pai do povo que durante séculos foram os guardas e preservadores da verdade
Pág. 141
de Deus para o mundo, sim, daquele povo por meio do qual todas as nações da Terra seriam benditas no advento do Messias prometido. Mas Aquele que chamou o patriarca julgou-o digno. É Deus quem fala. Aquele que de longe compreende os pensamentos, e dos homens faz justa apreciação, diz: "Eu o tenho conhecido". Não haveria por parte de Abraão qualquer traição à verdade por intuitos egoístas. Ele guardaria a lei, e procederia justa e retamente. E não somente temeria ele próprio o Senhor, mas cultivaria em seu lar a religião. Instruiria a família na justiça. A lei de Deus seria a regra em sua casa.
A casa de Abraão compreendia mais de mil pessoas. Aqueles que eram levados pelos seus ensinos a adorar o único Deus, encontravam um lar em seu acampamento; e ali, como em uma escola, recebiam a instrução que os habilitaria a serem representantes da verdadeira fé. Assim, grande
16
responsabilidade repousava sobre ele. Estava a educar chefes de famílias, e seus métodos de governo seriam levados para as casas a que eles presidiriam.
Nos tempos primitivos o pai era o governador e sacerdote de sua família, e exercia autoridade sobre os filhos, mesmo depois que estes tinham suas próprias famílias. Os descendentes eram ensinados a considerá-lo como seu chefe, tanto em assuntos religiosos como seculares. Este sistema de governo patriarcal Abraão esforçou-se por perpetuar, sendo que o mesmo favorecia a conservar o conhecimento de Deus. Era necessário ligar os membros da casa conjuntamente, para edificar-se uma barreira contra a idolatria, que se havia tornado tão espalhada e profundamente estabelecida. Abraão procurou por todos os meios ao seu alcance guardar os domésticos de seu acampamento de se misturarem com os gentios e de testemunharem suas práticas idólatras; pois sabia que a familiaridade com os maus corromperia insensivelmente os princípios. O máximo cuidado foi exercido para excluir toda a forma de religião falsa, e impressionar o espírito com a majestade e glória do Deus vivo como o verdadeiro objeto de culto.
Foi uma sábia disposição, que o próprio Deus tomara, a de separar Seu povo, tanto quanto possível, da ligação com os gentios, fazendo do mesmo um povo que habitasse só, e que não fosse contado entre as nações. Ele havia separado Abraão de sua parentela idólatra, para que o patriarca pudesse ensinar e educar a família, afastados das influências sedutoras que os cercariam
Pág. 142
na Mesopotâmia, e para que a verdadeira fé pudesse ser preservada em sua pureza pelos descendentes, de geração em geração.
A afeição de Abraão para com seus filhos e sua casa, levou-o a guardar a fé religiosa dos mesmos, a comunicar-lhes o conhecimento dos estatutos divinos, como o legado mais precioso que ele lhes poderia transmitir, e por meio deles ao mundo. A todos se ensinava que estavam sob o governo do Deus do Céu. Não deveria haver opressão por parte dos pais, nem desobediência por parte dos filhos. A lei de Deus havia indicado a cada um os seus deveres, e apenas na obediência a ela poderia alguém conseguir felicidade e prosperidade.
Seu próprio exemplo, a influência silenciosa de sua vida diária, eram uma lição constante. A persistente integridade, a beneficência e cortesia abnegada, que haviam conquistado a admiração dos reis, eram ostentadas em seu lar. Havia uma fragrância em torno de sua vida, uma nobreza e formosura de caráter, que revelavam a todos que ele estava em ligação com o Céu. Ele não negligenciava a alma do mais humilde servo. Em sua casa não havia uma lei para o senhor e outra para o servo; um régio caminho para o rico, e outro para
17
o pobre. Todos eram tratados com justiça e compaixão, como herdeiros com ele da graça da vida.
Ele "há de ordenar a sua casa". Gên. 26:5. Não haveria uma negligência pecaminosa em restringir as más propensões de seus filhos, tampouco qualquer favoritismo fraco, imprudente, condescendente; nem renúncia à sua convicção do dever ante as exigências de uma afeição mal-entendida. Abraão não somente dava a instrução exata, mas mantinha a autoridade de leis justas e retas.
Quão poucos há em nossos dias que seguem este exemplo! Por parte de muitos pais há um sentimentalismo cego e egoísta, impropriamente chamado amor, que se manifesta deixando-se as crianças, com o juízo ainda por formar-se e as paixões indisciplinadas, à direção de sua própria vontade. Isto é a máxima crueldade para com a juventude, e grande mal ao mundo. A condescendência por parte dos pais ocasiona desordem nas famílias e na sociedade. Confirma no jovem o desejo de seguir a inclinação, em vez de se submeter aos mandamentos divinos. Assim crescem com um coração adverso a fazer a vontade de Deus, e transmitem o espírito irreligioso e insubordinado a seus filhos, e filhos de seus filhos. Como Abraão, devem os pais ordenar as suas casas depois deles. Que a obediência à autoridade paterna seja
Pág. 143
ensinada e imposta como o primeiro passo na obediência à autoridade de Deus.
A pouca estima em que a lei de Deus é tida, mesmo pelos dirigentes religiosos, tem sido causa de grandes males. O ensino que se tornou tão espalhado, de que os estatutos divinos não mais vigoram para os homens, é o mesmo que a idolatria em seu efeito sobre a moral do povo. Aqueles que procuram diminuir as reivindicações da santa lei de Deus, estão ferindo diretamente o fundamento do governo das famílias e nações. Pais religiosos, que deixam de andar em Seus estatutos, não ordenam sua casa de modo a observarem o caminho do Senhor. Não se faz da lei de Deus a regra da vida. Os filhos, ao constituírem lar, não se sentem na obrigação de ensinar a seus filhos aquilo em que eles mesmos nunca foram ensinados. E esta é a razão por que há tantas famílias sem Deus; é a razão por que a depravação é tão profunda e espalhada.
Antes que os próprios pais andem na lei do Senhor com coração perfeito, não estarão preparados para ordenar a seus filhos depois deles. Necessita-se de uma reforma neste sentido, reforma que seja profunda e extensa. Os pais necessitam de reformar-se; pastores o necessitam; necessitam de Deus em suas casas. Se desejam ver um estado de coisas diverso, devem proporcionar a Palavra de Deus a suas famílias, e dela fazer seu conselheiro. Devem ensinar aos filhos que ela é a voz de Deus a eles dirigida e que lhe devem
18
obedecer implicitamente. Devem pacientemente instruir seus filhos, amável e incansavelmente ensinar-lhes como viver de modo a agradar a Deus. Os filhos de tal casa estão preparados para enfrentar os sofismas da incredulidade. Aceitaram a Bíblia como a base de sua fé, e têm um fundamento que não pode ser varrido pela maré invasora do ceticismo.
Em muitos lares a oração é negligenciada. Os pais entendem que não possuem tempo para o culto da manhã e da noite. Não podem economizar alguns momentos para serem dispendidos em ações de graças a Deus pelas Suas abundantes misericórdias - pela bendita luz do Sol e pela chuva, as quais fazem com que a vegetação floresça, e pela guarda dos santos anjos. Não têm tempo para fazerem oração pedindo auxílio e guia divinos, e rogando a contínua presença de Jesus na casa. Saem para o trabalho como o boi ou o cavalo, sem um pensamento de Deus ou do Céu. Têm almas tão preciosas que, em vez de consentir o Filho do homem ficassem elas perdidas, deu Ele a vida para
Pág. 144
resgatá-las; eles, porém, têm pouco mais apreciação de Sua grande bondade do que a têm os animais que perecem.
Semelhantes aos patriarcas da antiguidade, os que professam amar a Deus devem construir um altar ao Senhor onde quer que armem sua tenda. Se houve um tempo em que cada casa deve ser uma casa de oração, é hoje. Pais e mães devem muitas vezes erguer o coração a Deus em humilde súplica por si e por seus filhos. Que o pai, como o sacerdote da casa, deponha sobre o altar de Deus o sacrifício da manhã e da tarde, enquanto a esposa e filhos se unem em oração e louvor. Em uma casa tal, Jesus gostará de demorar-Se.
De todo lar cristão deve resplandecer uma santa luz. O amor deve revelar-se nas ações. Deve promanar de toda a relação doméstica, mostrando-se em uma bondade meditada, em uma cortesia gentil, abnegada. Há lares em que esse princípio é praticado, lares em que Deus é adorado, e em que reina o mais verdadeiro amor. Destes lares as orações matutinas e vespertinas sobem a Deus como incenso suave, e Suas misericórdias e bênçãos descem sobre os suplicantes como o orvalho da manhã.
Uma casa cristã bem ordenada é um poderoso argumento em favor da realidade da religião cristã, argumento que o incrédulo não pode contradizer. Todos podem ver que há na família uma influência em atividade, a qual afeta os filhos, e que o Deus de Abraão está com eles. Se os lares dos professos cristãos tivessem um molde religioso correto, exerceriam uma poderosa influência para o bem. Seriam na verdade "a luz do mundo". Mat. 5:14. O Deus do Céu fala a todo o pai fiel, nas palavras dirigidas a Abraão: "Eu o tenho
19
conhecido, que ele há de ordenar a seus filhos e a sua casa depois dele, para que guardem o caminho do Senhor, para obrarem com justiça e juízo; para que o Senhor faça vir sobre Abraão o que acerca dele tem falado". Gên. 18:19.
13
A Prova da Fé
Pág. 145
Abraão aceitara sem pôr em dúvida a promessa de um filho, mas não esperou que Deus cumprisse a palavra no tempo e maneira que Ele o entendia. Foi permitida uma demora para provar sua fé no poder de Deus; mas ele não pôde suportar a prova. Achando impossível que lhe fosse dado um filho em sua avançada idade, Sara sugeriu, como um plano pelo qual o propósito divino poderia cumprir-se, que uma de suas servas fosse tomada por Abraão como segunda mulher. A poligamia se tornara tão espalhada que deixara de ser considerada como pecado; mas nem por isso deixava de ser uma violação da lei de Deus, e era de resultado fatal à santidade e paz na relação da família. Do casamento de Abraão com Hagar resultaram males, não somente para a sua própria casa, mas para as gerações futuras.
Lisonjeada pela honra de sua nova posição como esposa de Abraão, e esperando ser a mãe da grande nação que dele descenderia, Hagar se tornou orgulhosa, jactanciosa, e tratou sua senhora com desprezo. Ciúmes recíprocos perturbavam a paz do lar que fora feliz. Obrigado a escutar as queixas de ambas, Abraão inutilmente se esforçou por estabelecer de novo a harmonia. Se bem que fosse pelos rogos encarecidos de Sara que ele desposara Hagar, ela o censurava agora como o faltoso. Desejava banir sua rival; mas Abraão recusou-se a consentir nisto; pois Hagar seria mãe de seu filho, como ele ansiosamente esperava, o filho da promessa. Ela era serva de Sara, contudo; e ele a deixou ainda sob o domínio de sua senhora. O espírito altivo de Hagar não tolerava a aspereza que sua própria insolência provocara. "E afligiu-a Sarai, e ela fugiu da sua face." Gên. 16:6-13.
Hagar se encaminhou para o deserto, e, quando repousava ao lado de uma fonte, sozinha e sem amigos, apareceu-lhe um anjo do Senhor, sob a forma humana. Dirigindo-se a ela como "Hagar, serva de Sarai" (Gên. 16:8), para a fazer lembrar de sua posição e deveres,
Pág. 146
ordenou-lhe: "Torna-te para a tua senhora, e humilha-te debaixo de suas mãos". Gên. 16:9. Todavia, com a repreensão houve, de mistura, palavras de consolação. "O Senhor ouviu a tua aflição." "Multiplicarei sobremaneira a tua semente, que não será contada, por numerosa que será." Gên. 16:9. E, como
20
uma lembrança perpétua de Sua misericórdia, foi-lhe ordenado chamar a seu filho, Ismael - "Deus ouvirá".
Quando Abraão tinha quase cem anos de idade, a promessa de um filho foi-lhe repetida, com a informação de que o futuro herdeiro seria filho de Sara. Mas Abraão ainda não compreendeu a promessa. Sua mente de pronto volveu para Ismael, apegando-se à crença de que por meio dele os propósitos graciosos de Deus deveriam cumprir-se. Em sua afeição para com o filho, exclamou: "Oxalá que viva Ismael diante de Teu rosto". Gên. 17:18-20. De novo foi feita a promessa, com palavras que não poderiam ser malcompreendidas: "Na verdade, Sara tua mulher te dará um filho, e chamarás o seu nome Isaque, e com ele estabelecerei o Meu concerto." Deus, contudo, não Se esqueceu da oração do pai. "E quanto a Ismael", disse Ele, "também te tenho ouvido; eis aqui o tenho abençoado, ... e dele farei uma grande nação."
O nascimento de Isaque, trazendo a realização de suas mais caras esperanças, após uma espera da duração de uma vida, encheu de alegria as tendas de Abraão e Sara. Mas para Hagar este acontecimento foi a destruição de suas aspirações enternecidamente acalentadas. Ismael, agora um rapaz, fora considerado por todos no acampamento como o herdeiro da riqueza de Abraão, e das bênçãos prometidas a seus descendentes. Agora foi subitamente posto de lado; e, em seu desapontamento, mãe e filho odiaram o filho de Sara. O regozijo geral aumentou a sua inveja, até que Ismael ousou zombar abertamente do herdeiro da promessa de Deus. Sara viu na disposição turbulenta de Ismael uma fonte perpétua de discórdias, e apelou para Abraão, insistindo que Hagar e Ismael fossem despedidos do acampamento. O patriarca foi lançado em grande angústia. Como poderia banir a Ismael, seu filho, ainda ternamente amado? Em sua perplexidade rogou a direção divina. O Senhor, por meio de um santo anjo, determinou-lhe satisfazer o desejo de Sara; seu amor por Ismael ou Hagar não lho deveria impedir pois apenas assim poderia ele restabelecer a harmonia e a felicidade à sua família. E o anjo lhe fez a promessa consoladora de que, ainda que separado do lar de seu pai, Ismael não seria abandonado por Deus; sua vida seria preservada, e ele se tornaria o pai de uma grande nação. Abraão
Pág. 147
obedeceu à palavra do anjo, mas não sem uma dor aguda. O coração do pai estava oprimido por mágoa indizível, quando despediu Hagar e seu filho.
A instrução proporcionada a Abraão, no tocante à santidade da relação matrimonial, deve ser uma lição para todos os tempos. Declara que os direitos e a felicidade desta relação devem ser cuidadosamente zelados, mesmo com grande sacrifício. Sara era a única esposa legítima de Abraão. Seus direitos como esposa e mãe, nenhuma outra pessoa tinha a prerrogativa de partilhar.
21
Reverenciava seu marido, e nisto é apresentada no Novo Testamento como um digno exemplo. Mas não queria que as afeições de Abraão fossem dadas a outra; e o Senhor não a reprovou por exigir o banimento de sua rival. Tanto Abraão como Sara não confiaram no poder de Deus, e foi este erro que determinou o casamento com Hagar.
Deus havia chamado Abraão para ser o pai dos fiéis, e sua vida devia ser um exemplo de fé para as gerações subseqüentes. Mas sua fé não tinha sido perfeita. Mostrara falta de confiança em Deus, ocultando o fato de que Sara era sua esposa, e novamente com o seu casamento com Hagar. Para que atingisse a mais elevada norma, Deus o sujeitou a outra prova, a mais severa que o homem jamais foi chamado a suportar. Em uma visão da noite foi-lhe determinado que se dirigisse à terra de Moriá, e ali oferecesse seu filho em holocausto sobre um monte que lhe seria mostrado.
No tempo em que recebeu esta ordem, havia Abraão atingido a idade de cento e vinte anos. Era considerado como homem idoso, mesmo em sua geração. Em seus anos anteriores fora forte para suportar dificuldades e enfrentar o perigo; mas agora passara o ardor da juventude. Qualquer, no vigor da varonilidade, pode com coragem enfrentar dificuldades e aflições que lhe fariam desfalecer o coração em sua vida posterior, quando os pés estiverem vacilantes a caminhar para a sepultura. Mas Deus guardara Sua última e mais rigorosa prova a Abraão, até que o fardo dos anos fosse pesado sobre ele, e ele almejasse o repouso das ansiedades e trabalhos.
O patriarca estava morando em Berseba, rodeado de prosperidade e honra. Era muito rico, e acatado pelos governadores da Terra como príncipe poderoso. Milhares de ovelhas e cabeças de gado cobriam as planícies que se estendiam para além de seu acampamento. De todos os lados estavam as tendas de seus dependentes, os lares, de centenas de servos fiéis. O filho da promessa havia crescido até à idade adulta ao seu lado. O Céu parecia ter coroado
Pág. 148
com sua bênção uma vida de sacrifício, ao suportar pacientemente o adiamento das esperanças.
Na obediência da fé, Abraão havia abandonado o país natal: afastara-se dos túmulos de seus pais, e do lar de sua parentela. Vagueara como um estrangeiro na terra de sua herança. Tinha esperado por muito tempo pelo nascimento do herdeiro prometido. Por ordem de Deus despedira seu filho Ismael. E agora, quando o filho que fora desejado durante tanto tempo chegava à varonilidade, e o patriarca parecia poder divisar os frutos de suas esperanças, uma prova maior do que todas as outras estava diante dele.
22
A ordem foi expressa em palavras que deveriam ter contorcido angustiosamente aquele coração de pai: "Toma agora o teu filho, o teu único filho Isaque, a quem amas, ... e oferece-o ali em holocausto." Gên. 22:2. Isaque era-lhe a luz do lar, a consolação da velhice, e acima de tudo o herdeiro da bênção prometida. A perda de tal filho por desastre, ou moléstia, teria despedaçado o coração do pai extremoso; teria curvado sua encanecida cabeça pela dor; entretanto, foi-lhe ordenado derramar o sangue daquele filho, com sua própria mão. Pareceu-lhe uma terrível impossibilidade.
Satanás estava a postos para sugerir que ele devia estar enganado, pois que a lei divina ordena: "Não matarás" (Êxo. 20:13), e Deus não exigiria o que uma vez proibira. Saindo ao lado de sua tenda, Abraão olhou para o calmo resplendor do céu sem nuvens, e lembrou-se da promessa feita quase cinqüenta anos antes, de que sua semente seria numerosa como as estrelas. Se esta promessa devia cumprir-se por meio de Isaque, como poderia ele ser morto? Abraão foi tentado a crer que poderia estar iludido. Em sua dúvida e angústia prostrou-se em terra e orou, como nunca antes orara, pedindo alguma confirmação da ordem quanto a dever ele cumprir essa terrível incumbência. Lembrou-se dos anjos enviados para revelar-lhe o propósito de Deus de destruir Sodoma, e que lhe trouxeram a promessa deste mesmo filho Isaque, e foi para o lugar em que várias vezes encontrara os mensageiros celestiais, esperando encontrá-los outra vez, e receber algumas instruções mais; mas nenhum veio em seu socorro. As trevas pareciam envolvê-lo; mas a ordem de Deus estava a soar-lhe aos ouvidos: "Toma agora o teu filho, o teu único filho Isaque, a quem tu amas." Gên. 22:2. Aquela ordem devia ser obedecida, e não ousou demorar-se. O dia se aproximava, e ele devia estar a caminho.
Voltando à sua tenda, foi ao lugar em que Isaque, deitado, dormia o sono profundo, calmo, da juventude e inocência. Por um
Pág. 151
momento o pai olhou para o rosto querido do filho; voltou então a tremer. Foi ao lado de Sara, que também estava a dormir. Deveria despertá-la, para que mais uma vez pudesse abraçar o filho? Deveria falar-lhe do mandado de Deus? Anelava aliviar o coração, falando a ela, e partilhar juntamente com ela desta terrível responsabilidade; mas se conteve pelo temor de que o pudesse impedir. Isaque era a alegria e o orgulho dela; sua vida estava ligada a ele, e o amor de mãe poderia recusar-se ao sacrifício.
Finalmente Abraão chamou o filho, falando-lhe da ordem de oferecer sacrifício em uma montanha distante. Isaque tinha freqüentes vezes ido com o pai a adorar em algum dos vários altares que assinalavam suas peregrinações, e esta chamada não provocou surpresa. Fizeram-se rapidamente os preparativos
23
para a viagem. Preparou-se a lenha, puseram-na sobre o jumento, e com dois servos partiram.
Lado a lado, pai e filho viajavam silenciosamente. O patriarca, ponderando seu cruel segredo, não tinha ânimo para falar. Seus pensamentos estavam naquela mãe ufana e extremosa, e considerava o dia em que sozinho deveria voltar a ela. Bem sabia que a faca lhe cortaria o coração, quando tirasse a vida de seu filho.
Aquele dia - o mais comprido que jamais Abraão experimentara - arrastava-se vagarosamente ao seu termo. Enquanto seu filho e os moços dormiam, passou ele a noite em oração, esperando ainda que algum mensageiro celestial pudesse vir dizer que a prova já era suficiente, que o jovem poderia voltar ileso para sua mãe. Nenhum alívio, porém, lhe veio à alma torturada. Outro longo dia, outra noite de humilhação e oração, enquanto a ordem que o deveria deixar desfilhado lhe repercutia sempre no ouvido. Perto estava Satanás para insinuar dúvidas e incredulidade; mas Abraão resistiu a suas sugestões. Quando estavam a ponto de iniciar a viagem do terceiro dia, o patriarca, olhando para o Norte, viu o sinal prometido, uma nuvem de glória pairando sobre o Monte Moriá, e compreendeu que a voz que lhe falara era do Céu.
Mesmo agora não murmurou contra Deus, mas fortaleceu a alma pensando nas provas da bondade e fidelidade do Senhor. Este filho fora dado inesperadamente; e não tinha Aquele que conferira a preciosa dádiva o direito de reclamar o que era Seu? Então a fé repetiu a promessa: "Em Isaque será chamada a tua semente" (Gên. 21:12) - semente numerosa como os grãos de areia na praia. Isaque fora filho de um milagre, e não poderia
Pág. 152
o poder que lhe dera vida restaurá-lo? Olhando para além daquilo que era visível, Abraão apreendeu a palavra divina, considerando "que Deus era poderoso para até dos mortos o ressuscitar". Heb. 11:19.
Todavia, ninguém senão Deus poderia compreender quão grande era o sacrifício do pai, ao entregar seu filho à morte; Abraão não quis que ninguém, a não ser Deus, testemunhasse a cena da separação. Mandou a seus servos que ficassem atrás, dizendo: "Eu e o moço iremos até ali; e, havendo adorado, tornaremos a vós". Gên. 22:5-8. A lenha foi posta sobre Isaque, aquele que seria oferecido; o pai tomou a faca e o fogo, e, juntos, subiram para o cume da montanha, considerando o jovem em silêncio de onde deveria vir a oferta, tão longe de apriscos e rebanhos. Finalmente falou: "Meu pai", "eis aqui o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?" Oh, que prova foi esta! Quanto as carinhosas palavras - "meu pai", feriram o coração de Abraão! Ele não lhe poderia dizer por enquanto. "Deus proverá para Si o cordeiro para o holocausto, meu filho" (Gên. 22:8), disse ele.
24
No lugar indicado construíram o altar, e sobre o mesmo colocaram a lenha. Então, com voz trêmula, Abraão desvendou a seu filho a mensagem divina. Foi com terror e espanto que Isaque soube de sua sorte; mas não opôs resistência. Poderia escapar deste destino, se o houvesse preferido fazer; o ancião, ferido de pesares, exausto com as lutas daqueles três dias terríveis, não poderia ter-se oposto à vontade do vigoroso jovem. Isaque, porém, tinha sido educado desde a meninice a uma obediência pronta e confiante, e, ao ser o propósito de Deus manifesto perante ele, entregou-se com voluntária submissão. Era participante da fé de Abraão, e sentia-se honrado sendo chamado a dar a vida em oferta a Deus. Com ternura procura aliviar a dor do pai, e auxilia-lhe as mãos desfalecidas a amarrarem as cordas que o prendem ao altar.
E agora as últimas palavras de amor são proferidas, as últimas lágrimas derramadas, o último abraço dado. O pai levanta o cutelo para matar o filho, quando o braço subitamente lhe é detido. Um anjo de Deus chama do Céu o patriarca: "Abraão, Abraão!" Ele rapidamente responde: "Eis-me aqui." E de novo se ouve a voz: "Não estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus, e não Me negaste o teu filho, o teu único". Gên. 22:11-18.
Pág. 153
Então Abraão viu "um carneiro detrás dele, travado pelas suas pontas num mato", e prontamente trazendo a nova vítima, ofereceu-a "em lugar de seu filho". Em sua alegria e gratidão, Abraão deu um novo nome ao lugar sagrado - "Jeová-jire", "o Senhor proverá". Gên. 22:14.
No Monte Moriá Deus outra vez renovou Seu concerto, confirmando com juramento solene a bênção a Abraão e sua semente, por todas as gerações vindouras: "Por Mim mesmo, jurei, diz o Senhor: Porquanto fizeste esta ação, e não Me negaste o teu filho, o teu único, que deveras te abençoarei, e grandissimamente multiplicarei a tua semente como as estrelas dos céus, e como a areia que está na praia do mar; e a tua semente possuirá a porta dos seus inimigos; e em tua semente serão benditas todas as nações da Terra; porquanto obedeceste à Minha voz."
O grande ato de fé, de Abraão, permanece como uma coluna de luz, iluminando o caminho dos servos de Deus em todos os séculos subseqüentes. Abraão não procurou esquivar-se de fazer a vontade de Deus. Durante aquela viagem de três dias, ele teve tempo suficiente para raciocinar, e para duvidar de Deus se estivesse disposto a isto. Poderia ter raciocinado que o tirar a vida a seu filho fá-lo-ia ser considerado como um homicida, um segundo Caim; que isto faria com que seu ensino fosse rejeitado e desprezado, e assim destruiria o seu poder para fazer bem a seus semelhantes. Poderia ter alegado que a idade o dispensaria da obediência. Mas o patriarca não procurou refúgio em qualquer
25
dessas desculpas. Abraão era humano; suas paixões e afeições eram semelhantes às nossas; mas não se deteve a discutir como a promessa poderia cumprir-se caso Isaque fosse morto. Não se deteve a arrazoar com o seu coração dolorido. Sabia que Deus é justo e reto em todas as Suas reivindicações, e à risca obedeceu à ordem.
"E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus." Tia. 2:23. E Paulo diz: "Os que são da fé são filhos de Abraão". Gálatas 3:7. Mas a fé de Abraão foi manifesta pelas suas obras. "O nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque? Bem vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada." Tia. 2:21 e 22. Há muitos que não podem compreender a relação da fé com as obras. Dizem eles: "Crê apenas em Cristo, e estás salvo. Nada tens que ver com a guarda da lei." Mas a fé genuína se manifestará pela
Pág. 154
obediência. Disse Cristo aos judeus incrédulos: "Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão." João 8:39. E, com relação ao pai dos fiéis, declara o Senhor: "Abraão obedeceu à Minha voz, e guardou o Meu mandado, os Meus preceitos, os Meus estatutos, e as Minhas leis". Gên. 26:5. Diz o apóstolo Tiago: "A fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma." Tia. 2:17. E João, que tão amplamente se ocupa com o amor, diz-nos: "Este é o amor de Deus: que guardemos os Seus mandamentos." I João 5:3.
Por símbolos e por promessas, Deus "anunciou primeiro o evangelho a Abraão". Gál. 3:8. E a fé do patriarca fixou-se no Redentor vindouro. Disse Cristo aos judeus: "Abraão, vosso pai, exultou por ver o Meu dia, e viu-o, e alegrou-se". João 8:56. O carneiro oferecido em lugar de Isaque representava o Filho de Deus, que seria sacrificado em nosso lugar. Quando o homem foi condenado à morte pela transgressão da lei de Deus, o Pai, olhando para o Filho, disse ao pecador: "Vive, Eu achei um resgate".
Foi para impressionar o espírito de Abraão com a realidade do evangelho, bem como para lhe provar a fé, que Deus o mandou matar seu filho. A angústia que ele sofreu durante os dias tenebrosos daquela terrível prova, foi permitida para que compreendesse por sua própria experiência algo da grandeza do sacrifício feito pelo infinito Deus para a redenção do homem. Nenhuma outra prova poderia ter causado a Abraão tal tortura de alma, como fez a oferta de seu filho. Deus deu Seu Filho a uma morte de angústia e ignomínia. Aos anjos que testemunharam a humilhação e angústia de alma do Filho de Deus, não foi permitido intervirem, como no caso de Isaque. Não houve nenhuma voz a clamar: "Basta." A fim de salvar a raça decaída, o Rei da glória rendeu a vida. Que prova mais forte se pode dar da infinita compaixão e amor de Deus?
26
"Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes O entregou por todos nós, como nos não dará também com Ele todas as coisas?" Rom. 8:32.
O sacrifício exigido de Abraão não foi somente para seu próprio bem, nem apenas para o benefício das gerações que se seguiram; mas também foi para instrução dos seres destituídos de pecado, no Céu e em outros mundos. O campo do conflito entre Cristo e Satanás - campo este em que o plano da salvação se encontra formulado - é o compêndio do Universo. Porquanto
Pág. 155
Abraão mostrara falta de fé nas promessas de Deus, Satanás o acusara perante os anjos e perante Deus de ter deixado de satisfazer as condições do concerto, e de ser indigno das bênçãos do mesmo concerto. Deus desejou provar a lealdade de Seu servo perante o Céu todo, para demonstrar que nada menos que perfeita obediência pode ser aceito, e para patentear de maneira mais ampla, perante eles, o plano da salvação.
Seres celestiais foram testemunhas daquela cena em que a fé de Abraão e a submissão de Isaque foram provadas. A prova foi muito mais severa do que aquela a que Adão havia sido submetido. A conformação com a proibição imposta a nossos primeiros pais, não envolvia sofrimentos; mas a ordem dada a Abraão exigia o mais angustioso sacrifício. O Céu inteiro contemplava com espanto e admiração a estrita obediência de Abraão. O Céu todo aplaudiu sua fidelidade. As acusações de Satanás demonstraram-se falsas. Deus declarou a Seu servo: "Agora sei que temes a Deus [a despeito das acusações de Satanás], e não Me negaste o teu filho, o teu único." O concerto de Deus, confirmado a Abraão por um juramento perante os seres de outros mundos, testificou que a obediência será recompensada.
Tinha sido difícil, mesmo para os anjos, apreender o mistério da redenção, isto é, compreender que o Comandante do Céu, o Filho de Deus, devia morrer pelo homem culposo. Quando foi dada a Abraão a ordem para oferecer seu filho, isto assegurou o interesse de todos os entes celestiais. Com ânsia intensa, observavam cada passo no cumprimento daquela ordem. Quando à pergunta de Isaque - "Onde está o cordeiro para o holocausto?" Abraão respondeu: "Deus proverá para Si o cordeiro" (Gên. 22:7 e 8), e quando a mão do pai foi detida estando a ponto de matar seu filho, e fora oferecido o cordeiro que Deus provera em lugar de Isaque, derramou-se então luz sobre o mistério da redenção, e mesmo os anjos compreenderam mais claramente a maravilhosa providência que Deus tomara para a salvação do homem. I Ped. 1:12.
14
A Destruição de Sodoma
Pág. 156
27
Como a mais bela entre as cidades do vale do Jordão, achava-se Sodoma, situada em uma planície que era "como o jardim do Senhor" (Gên. 13:10), pela sua fertilidade e beleza. Ali florescia a luxuriante vegetação dos trópicos. Ali era a terra da palmeira, da oliveira e da videira, e flores derramavam o seu perfume através de todo o ano. Ricas plantações revestiam os campos, e rebanhos e gado cobriam as colinas circunvizinhas. A arte e o comércio contribuíam para enriquecer a orgulhosa cidade da planície. Os tesouros do Oriente adornavam seus palácios, e as caravanas do deserto traziam seus abastecimentos de coisas preciosas para lhe suprir os mercados. Com pouca preocupação ou trabalho, toda a necessidade da vida podia ser suprida, e o ano inteiro parecia um ciclo de festas.
A profusão que reinava por toda parte deu origem ao luxo e ao orgulho. A ociosidade e a riqueza tornam endurecido o coração que nunca foi oprimido pela necessidade ou sobrecarregado de tristeza. O amor ao prazer era favorecido pela riqueza e lazer, e o povo entregou-se à satisfação sensual. "Eis que", diz o profeta, "esta foi a maldade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão, e abundância de ociosidade teve ela e suas filhas; mas nunca esforçou a mão do pobre e do necessitado. E se ensoberbeceram, e fizeram abominação diante de Mim; pelo que as tirei dali, vendo Eu isto." Ezeq. 16:49 e 50. Nada há mais desejável entre os homens do que riqueza e lazer, e contudo estas coisas dão origem aos pecados que acarretaram destruição às cidades da planície. Sua vida inútil, ociosa, tornou-os presa das tentações de Satanás, e desfiguraram a imagem de Deus, tornando-se satânicos em vez de divinos. A ociosidade é a maior maldição que pode recair ao homem; pois que o vício e o crime seguem em seu cortejo. Enfraquece o espírito, perverte o entendimento, e avilta a alma. Satanás fica de emboscada, pronto para destruir aqueles
Pág. 157
que estão desprevenidos, cujo tempo vago lhe dá oportunidade para insinuar-se sob alguns disfarces atraentes. Ele nunca é mais bem-sucedido do que quando vem aos homens em suas horas ociosas.
Em Sodoma havia regozijo e orgia, banquetes e bebedice. As mais vis e brutais paixões não eram refreadas. O povo desafiava abertamente a Deus e à Sua lei, e deleitava-se em ações de violência. Posto que tivessem diante de si o exemplo do mundo antediluviano, e soubessem como a ira de Deus se manifestara em sua destruição, seguiam contudo o mesmo caminho de impiedade.
Por ocasião da mudança de Ló para Sodoma, a corrupção não havia ainda se tornado geral, e Deus em Sua misericórdia permitiu que raios de luz resplandecessem por entre as trevas morais. Quando Abraão libertou dos elamitas os cativos, foi chamada a atenção do povo para a verdadeira fé.
28
Abraão não era um estranho para o povo de Sodoma, e seu culto ao Deus invisível fora assunto para ridículo entre eles; mas sua vitória sobre forças grandemente superiores e sua disposição magnânima dos prisioneiros e despojos, provocaram espanto e admiração. Enquanto sua habilidade e bravura eram exaltadas, ninguém podia evitar a convicção de que o fizera vencedor um poder divino. E seu espírito nobre e abnegado, tão estranho aos habitantes de Sodoma, que só procuravam o proveito próprio, foi outra prova da superioridade da religião que ele honrara pela sua coragem e fidelidade.
Melquisedeque, conferindo a bênção a Abraão, reconhecera Jeová como a fonte de sua força e autor da vitória: "Bendito seja Abraão do Deus altíssimo, o Possuidor dos céus e da Terra; e bendito seja o Deus altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos". Gên. 14:19 e 20. Deus estava a falar àquele povo pela Sua providência, mas o último raio de luz foi rejeitado, assim como foram todos os anteriores.
E agora a última noite de Sodoma estava a aproximar-se. Já as nuvens da vingança lançavam as sombras sobre a cidade condenada. Os homens, porém, não o perceberam. Enquanto anjos se aproximavam em sua missão de destruição, homens sonhavam com prosperidade e prazer. O último dia foi como todos os outros que tinham vindo e ido. A tarde caía sobre cenas de encanto e segurança. Uma paisagem de beleza sem-par era banhada pelos raios do Sol poente. A frescura da tarde chamara para fora de casa os habitantes da cidade, e as multidões em busca de divertimentos
Pág. 158
passavam de um lado para outro, preocupadas com os prazeres daquela hora.
Ao entardecer, dois estrangeiros se aproximaram da porta da cidade. Eram aparentemente viajantes, vindo para pernoitarem. Ninguém poderia discernir naqueles humildes viajantes os poderosos arautos do juízo divino, e mal sonhava a multidão alegre e descuidada que, em seu tratamento a esses mensageiros celestiais naquela mesma noite, atingiriam o auge do crime que condenou sua orgulhosa cidade. Houve, porém, um homem que manifestou amável atenção para com os estranhos, e os convidou para sua casa. Ló não sabia do verdadeiro caráter deles, mas a polidez e a hospitalidade eram nele habituais; faziam parte de sua religião - lições que ele havia aprendido pelo exemplo de Abraão. Se ele não houvesse cultivado o espírito de cortesia, poderia ter sido deixado a perecer com o resto de Sodoma. Muita casa, fechando suas portas a um estranho, excluiu o mensageiro de Deus, que teria trazido bênção, esperança e paz.
Cada ato da vida, por pequeno que seja, tem sua influência para o bem ou para o mal. A fidelidade ou a negligência naquilo que aparentemente são os menores deveres, pode abrir a porta para as mais ricas bênçãos da vida ou
29
para as suas maiores calamidades. São as pequenas coisas que provam o caráter. São os atos despretensiosos de abnegação diária, praticados com um coração prazenteiro e voluntário, que Deus aprova. Não devemos viver para nós mesmos, mas para outrem. E é apenas pelo esquecimento de nós mesmos, alimentando um espírito amorável, auxiliador, que podemos tornar nossa vida uma bênção. As pequenas atenções, as cortesias pequenas e singelas, muito representam no perfazer o total da felicidade da vida; e a negligência destas coisas constitui não pequena participação na desgraça humana.
Vendo o desacato a que os estranhos estavam expostos em Sodoma, Ló tornou um de seus deveres guardá-los ao entrarem, oferecendo-lhes acolhimento em sua casa. Estava assentado à porta quando os viajantes se aproximavam, e, observando-os, levantou-se de seu lugar para os encontrar, e curvando-se polidamente disse: "Eis agora, meus senhores, entrai, peço-vos, em casa de vosso servo, e passai nela a noite". Eles pareciam declinar de sua hospitalidade, dizendo: "Não, antes na rua passaremos a noite". Gên. 19:2. Seu objetivo nesta resposta foi duplo: provar a sinceridade de Ló, e também parecer ignorar o caráter dos homens de Sodoma, como se supusessem livre de perigo ficar na rua à noite. Sua resposta tornou Ló mais resolvido
Pág. 159
a não deixá-los à disposição da turba infame. Insistiu com o convite até que cederam, e o acompanharam para casa.
Ele esperava esconder sua intenção aos ociosos que estavam à porta, trazendo os estrangeiros a sua casa por um caminho indireto; mas a hesitação e demora deles, e o empenho persistente de Ló, fizeram com que fossem observados, e, à noite, antes que se acomodassem, uma multidão iníqua reuniu-se em redor da casa. Era um grupo imenso, jovens e velhos, igualmente inflamados pelas mais vis paixões. Os estranhos estiveram a fazer indagações quanto ao caráter da cidade, e Ló advertira-os a não se arriscarem a sair de suas portas naquela noite, quando as vaias e zombarias da turba eram ouvidas, reclamando que os homens lhes fossem trazidos para fora.
Sabendo que, sendo provocados à violência, poderiam facilmente penetrar em sua casa, Ló saiu para experimentar sobre eles o efeito da persuasão. "Meus irmãos", disse ele, "rogo-vos que não façais mal", empregando o termo "irmãos" no sentido de vizinhos, e esperando conciliá-los e envergonhá-los de seus maus intuitos . Mas suas palavras foram como gasolina sobre as chamas. A ira deles se tornou semelhante ao rugido da tempestade. Zombaram de Ló, como que fazendo-se juiz sobre eles, e ameaçaram tratá-lo pior do que se propuseram fazer para com os seus hóspedes. Ruíram sobre ele, e o teriam reduzido a pedaços, se não tivesse sido livrado pelos anjos de Deus. Os
30
mensageiros celestes "estenderam sua mão, e fizeram entrar a Ló consigo na casa, e fecharam a porta". Gên. 19:10. Os fatos que se seguiram, revelam o caráter dos hóspedes que ele acolhia. "Feriram de cegueira os varões que estavam à porta da casa, desde o menor até o maior, de maneira que se cansaram para achar a porta." Se não tivessem sido visitados com dupla cegueira, entregando-se à dureza de coração, o toque de Deus contra eles tê-los-ia feito temer, e desistir de sua má obra. Aquela noite não se distinguiu por maiores pecados do que muitas outras anteriores; a misericórdia, porém, durante tanto tempo desprezada, cessara finalmente de pleitear. Os habitantes de Sodoma haviam passado os limites da paciência divina - "os limites ocultos entre a paciência de Deus e a Sua ira". Os fogos de Sua vingança estavam prestes a acender-se no vale de Sidim.
Os anjos revelaram a Ló o objetivo de sua missão: "Nós vamos destruir este lugar, porque o seu clamor tem engrossado diante da face do Senhor, e o Senhor nos enviou a destruí-lo." Os
Pág. 160
estranhos que Ló se esforçara por proteger, prometeram agora protegê-lo, e salvar também todos os membros de sua família que com ele fugissem da ímpia cidade. A turba cansara-se e se retirara, e Ló foi avisar seus filhos. Repetiu as palavras dos anjos: "Levantai-vos, saí deste lugar; porque o Senhor há de destruir a cidade." Mas ele lhes pareceu como quem zombava. Riram-se daquilo que chamavam seus receios supersticiosos. Suas filhas eram influenciadas pelos maridos. Estavam muito bem ali onde se encontravam. Não podiam ver sinais de perigo. Tudo estava exatamente como havia sido. Possuíam muitos bens, e não podiam crer fosse possível que a bela Sodoma houvesse de ser destruída.
Ló voltou triste para casa, e referiu a história de seu insucesso. Então os anjos o mandaram levantar-se, e tomar a esposa e duas filhas que ainda estavam em casa, e deixar a cidade. Ló, porém, demorava-se. Se bem que diariamente angustiado ao ver cenas de violência, não tinha uma concepção verdadeira da iniqüidade aviltante e abominável praticada naquela vil cidade. Não se compenetrava da terrível necessidade de darem os juízos de Deus um paradeiro ao pecado. Alguns de seus filhos apegaram-se a Sodoma, e sua esposa recusou-se a partir sem eles. O pensamento de deixar aqueles a quem ele tinha como os mais caros na Terra, parecia ser mais do que poderia suportar. Era duro abandonar sua casa luxuosa, e toda a riqueza adquirida pelos trabalhos de sua vida inteira, a fim de sair como um errante destituído de bens. Pasmo pela tristeza, demorava-se, relutante em partir. Se não foram os anjos de Deus, todos teriam perecido na ruína de Sodoma. Os mensageiros celestiais tomaram pela mão a ele, sua esposa e filhas, e os levaram fora da cidade.
31
Ali os anjos os deixaram, e voltaram a Sodoma para cumprirem sua obra de destruição. Um outro - Aquele com quem Abraão estivera a pleitear - aproximou-Se de Ló. Em todas as cidades da planície, não se puderam achar nem mesmo dez pessoas justas; mas, em resposta à oração do patriarca, o único homem que temia a Deus foi arrancado à destruição. Foi dada esta ordem com surpreendente veemência: "Escapa-te por tua vida; não olhes para trás de ti, e não pares em toda esta campina; escapa lá para o monte, para que não pereças." Gên. 19:17. A hesitação e a demora seriam agora fatais. Lançar um olhar demorado à cidade amaldiçoada, deter-se por um instante, pela tristeza de deixar tão belo lar,
Pág. 161
ter-lhes-ia custado a vida. A tormenta do juízo divino estava apenas a esperar que estes pobres fugitivos pudessem escapulir.
Mas Ló, confuso e aterrorizado, alegava que não podia fazer conforme lhe era exigido, para que não acontecesse surpreendê-lo algum mal, e ele morresse. Morando naquela ímpia cidade, em meio de incredulidade, sua fé se enfraquecera. O Príncipe do Céu estava a seu lado, contudo rogava ele pela sua vida como se Deus, que manifestara tal cuidado e amor para com ele, não mais o guardasse. Deveria ter-se confiado inteiramente ao Mensageiro divino, entregando sua vontade e sua vida nas mãos do Senhor, sem duvidar ou discutir. Mas, semelhante a tantos outros, esforçou-se por fazer planos por si: "Eis agora aquela cidade está perto, para fugir para lá, e é pequena; ora para ali me escaparei (não é pequena?), para que minha alma viva." Gên. 19:20. A cidade aqui mencionada era Bela, mais tarde chamada Zoar. Ficava apenas a poucos quilômetros de Sodoma e, como esta, era corrupta, e estava condenada à destruição. Mas Ló pediu que ela fosse poupada, insistindo que isto não era senão pequeno pedido; e seu desejo foi atendido. O Senhor assegurou-lhe: "Tenho-te aceitado também neste negócio, para não derribar esta cidade, de que falaste". Gên. 19:21. Oh, quão grande é a misericórdia de Deus para com Suas erradias criaturas!
De novo foi dada a ordem solene de apressar-se, pois a terrível tormenta demorar-se-ia apenas um pouco mais. Mas um dos fugitivos aventurou-se a lançar um olhar para trás, para a cidade condenada, e se tornou um monumento do juízo de Deus. Se o próprio Ló não houvesse manifestado hesitação em obedecer à advertência do anjo, antes tivesse ansiosamente fugido para as montanhas, sem uma palavra de insistência ou súplica, sua esposa teria também podido escapar. A influência de seu exemplo tê-la-ia salvo do pecado que selou a sua sorte. Mas a hesitação e demora dele fizeram com que ela considerasse levianamente a advertência divina. Ao mesmo tempo em que seu corpo estava sobre a planície, o coração apegava-se a Sodoma, e ela pereceu com a mesma. Rebelara-se contra Deus porque Seus juízos
32
envolviam na ruína as posses e os filhos. Posto que tão grandemente favorecida ao ser chamada da ímpia cidade, entendeu que era tratada severamente, porque a riqueza que tinha levado anos para acumular devia ser deixada para a destruição. Em vez de aceitar com gratidão o livramento, presunçosamente olhou para trás, desejando a vida daqueles que haviam rejeitado a advertência
Pág. 162
divina. Seu pecado mostrou ser ela indigna da vida, por cuja preservação tão pouca gratidão sentira.
Devemos estar apercebidos contra o tratar levianamente as providências graciosas de Deus para a nossa salvação. Há cristãos que dizem: "Não me incomodo com salvar-me, a menos que minha esposa e filhos se salvem comigo." Acham que o Céu não seria Céu para eles, sem a presença dos que lhes são tão caros. Mas têm os que alimentam tais sentimentos uma concepção exata de sua relação para com Deus, em vista de Sua grande bondade e misericórdia para com eles? Esqueceram-se de que estão ligados, pelos mais fortes laços de amor, honra e lealdade, ao serviço de seu Criador e Redentor? Os convites de misericórdia são dirigidos a todos; e porque nossos amigos rejeitam o insistente amor do Salvador, desviar-nos-emos também? A redenção da alma é preciosa. Cristo pagou um preço infinito pela nossa salvação, e ninguém que aprecie o valor deste grande sacrifício, ou o preço de uma alma, desprezará a misericórdia de Deus, que se lhe oferece, porque outros preferem fazê-lo. O próprio fato de que outros ignoram Suas justas reivindicações, deve despertar-nos a maior diligência, para que nós mesmos possamos honrar a Deus e levar a todos, a quem podemos influenciar, a aceitar o Seu amor.
"Saía o Sol sobre a terra, quando Ló entrou em Zoar." Gên. 19:23. Os brilhantes raios da manhã pareciam falar apenas de prosperidade e paz, às cidades da planície. Começou a agitação da vida ativa nas ruas; homens seguiam seus vários caminhos, preocupados com os negócios ou os prazeres do dia. Os genros de Ló estavam divertindo-se à custa dos temores e advertências do velho, já de espírito enfraquecido. Súbita e inesperadamente, como se fora o estrondo de um trovão provindo de um céu sem nuvens, desencadeou a tempestade. O Senhor fez chover do Céu enxofre e fogo sobre as cidades e a fértil planície; seus palácios e templos, custosas habitações, jardins e vinhedos, e as multidões divertidas, à caça de prazeres, as quais ainda na noite anterior insultaram os mensageiros do Céu - tudo foi consumido. O fumo da conflagração subia como o fumo de uma grande fornalha. E o belo vale de Sidim tornou-se uma desolação, um lugar que nunca mais seria construído ou habitado - testemunha a todas as gerações da certeza dos juízos de Deus sobre os transgressores.
33
As chamas que consumiram as cidades da planície derramaram sua luz de advertência, até mesmo aos nossos tempos. É-nos ensinada a lição terrível e solene de que, ao mesmo tempo em que a misericórdia de Deus suporta longamente o transgressor, há um limite além do qual os homens não podem ir no
Pág. 165
pecado. Quando é atingido aquele limite, os oferecimentos de misericórdia são retirados, e inicia-se o ministério do juízo.
O Redentor do mundo declara que há maiores pecados do que aqueles pelos quais Sodoma e Gomorra foram destruídas. Aqueles que ouvem o convite do evangelho chamando os pecadores ao arrependimento, e não o atendem, são mais culpados perante Deus do que o foram os moradores do vale de Sidim. E ainda maior pecado é o daqueles que professam conhecer a Deus e guardar os Seus mandamentos, e contudo negam a Cristo em seu caráter e vida diária. À luz da advertência do Salvador, a sorte de Sodoma é um aviso solene, não simplesmente para os que são culpados de pecado declarado, mas a todos que têm em pouca conta a luz e privilégios enviados pelo Céu.
Disse a Testemunha Verdadeira à igreja de Éfeso: "Tenho, porém, contra ti que deixaste a tua primeira caridade. Lembra-te, pois, donde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres". Apoc. 2:4 e 5. O Salvador aguarda a resposta a Seus oferecimentos de amor e perdão, com uma compaixão mais terna do que aquela que move o coração de um pai terrestre para perdoar um filho transviado e sofredor. Ele clama aos errantes: "Tornai-vos para Mim, e Eu tornarei para vós." Mal. 3:7. Mas se aquele que vagueia, recusa persistentemente atender à voz que o chama com amor compassivo e terno, será finalmente deixado em trevas. O coração que durante muito tempo desdenhou a misericórdia de Deus, torna-se endurecido no pecado, e não mais é susceptível à influência da graça de Deus. Terrível será a sorte da alma da qual o Salvador, pleiteando por sua defesa, declarará finalmente: "Está entregue aos ídolos; deixa-o". Osé. 4:17. Haverá menos rigor no dia do Juízo para as cidades da planície do que para aqueles que conheceram o amor de Cristo, e contudo se desviaram à escolha dos prazeres de um mundo de pecado.
Vós que estais a desdenhar os oferecimentos da misericórdia, pensai nos inúmeros registros que contra vós se acumulam nos livros do Céu: pois há um relatório feito das impiedades das nações, das famílias, dos indivíduos. Deus pode suportar muito enquanto a conta prossegue; e convites ao arrependimento e oferecimentos de perdão podem ser feitos; contudo, tempo virá em que a conta se completará, em que se fez a decisão da alma, em que
34
se fixou o destino do homem pela sua própria escolha. Dar-se-á então o sinal para ser executado o juízo.
Pág. 166
Há motivo para alarmar-nos na condição do mundo religioso hoje. Tem-se tido em pouca conta a misericórdia de Deus. A multidão anula a lei de Jeová, "ensinando doutrinas que são preceitos de homens". Mat. 15:9. A incredulidade prevalece em muitas das igrejas de nosso país; não a incredulidade em seu sentido mais amplo, como franca negação da Bíblia, mas uma incredulidade vestida no traje do cristianismo, ao mesmo tempo em que se acha a solapar a fé na Bíblia como revelação de Deus. A devoção fervorosa e a piedade vital deram lugar ao formalismo oco. Como conseqüência prevalecem a apostasia e o sensualismo. Cristo declarou: "Como também da mesma maneira aconteceu nos dias de Ló: ... assim será no dia em que o Filho do homem Se há de manifestar". Luc. 17:28-30. O registro diário dos acontecimentos que se passam, testifica do cumprimento de Suas palavras. O mundo rapidamente está a amadurecer para a destruição. Logo deverão derramar-se os juízos de Deus, e pecado e pecadores ser consumidos.
Disse o Salvador: "Olhai por vós, não aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia. Porque virá como um laço sobre todos os que habitam na face de toda a Terra" - todos cujos interesses estão centralizados neste mundo. "Vigiai pois em todo o tempo, orando para que sejais havidos por dignos de evitar todas estas coisas que hão de acontecer, e de estar em pé diante do Filho do homem." Luc. 21:34-36.
Antes da destruição de Sodoma, Deus enviou uma mensagem a Ló: "Escapa-te por tua vida; não olhes para trás de ti, e não pares em toda esta campina; escapa lá para o monte, para que não pereças". Gên. 19:17. A mesma voz de advertência foi ouvida pelos discípulos de Cristo, antes da destruição de Jerusalém: "Quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, sabei então que é chegada a sua desolação. Então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes". Luc. 21:20 e 21. Não deviam demorar-se para conseguir coisa alguma de suas posses, mas antes aproveitar-se da oportunidade para fugir.
Houve uma saída, uma decidida separação dos ímpios, uma escapada para salvar a vida. Assim foi nos dias de Noé; assim nos dias de Ló; assim aconteceu com os discípulos antes da destruição de Jerusalém; e assim será nos últimos dias. De novo se ouve a voz de Deus em uma mensagem de advertência, mandando Seu povo separar-se da iniqüidade que prevalece.
Pág. 167
35
O estado de corrupção e apostasia que nos últimos dias existiria no mundo religioso, foi apresentado ao profeta João, na visão de Babilônia, "a grande cidade que reina sobre os reis da Terra". Apoc. 17:18. Antes de sua destruição será feito do Céu o convite: "Sai dela, povo Meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas". Apoc. 18:4. Como nos dias de Noé e Ló, tem de haver uma separação distinta do pecado e pecadores. Não pode haver transigência entre Deus e o mundo, nem um retrocesso para se conseguirem tesouros terrestres. "Não podeis servir a Deus e a Mamom." Mat. 6:24.
Como os habitantes do vale de Sidim, o povo está sonhando com prosperidade e paz. "Escapa-te por tua vida" - é a advertência dos anjos de Deus; mas outras vozes são ouvidas a dizer: "Não te deixes excitar; não há motivos para sustos". As multidões clamam: "Paz e segurança" (I Tim. 5:3), quando o Céu declara que repentina destruição está para sobrevir ao transgressor. Na noite prévia à sua destruição entregaram-se as cidades da planície aos prazeres turbulentos, e caçoaram dos temores e avisos do mensageiro de Deus; mas esses escarnecedores pereceram nas chamas; naquela mesma noite a porta da misericórdia fechou-se para sempre aos ímpios e descuidados habitantes de Sodoma. Deus não será sempre zombado; não será por muito tempo menosprezado. "Eis que o dia do Senhor vem, horrendo, com furor e ira ardente, para pôr a Terra em assolação, e destruir os pecadores dela." Isa. 13:9. A maioria no mundo rejeitará a misericórdia de Deus, e submergir-se-á na repentina e irreparável ruína. Mas aquele que atender à advertência, habitará "no esconderijo do Altíssimo", e "à sombra do Onipotente descansará". "Sua verdade" será seu "escudo e broquel". Para ele é a promessa: "Dar-lhe-ei abundância de dias, e lhe mostrarei a Minha salvação". Sal. 91:1, 4 e 16.
Apenas pouco tempo habitou Ló em Zoar. A iniqüidade prevalecia ali como em Sodoma, e ele temeu ficar pelo receio de ser destruída a cidade. Não muito tempo depois Zoar foi consumida, conforme fora o intuito de Deus. Ló encaminhou-se para as montanhas e habitou em uma caverna, despojado de tudo aquilo por cujo amor ousara sujeitar sua família às influências de uma cidade ímpia. Mas a maldição de Sodoma seguiu-o mesmo ali. A conduta pecaminosa de suas filhas foi o resultado das más associações naquele vil lugar. A corrupção moral do mesmo se entretecera
Pág. 168
de tal maneira com o caráter delas que não podiam discernir entre o bem e o mal. A única posteridade de Ló, os moabitas e amonitas, foram tribos vis, idólatras, rebeldes a Deus, e inimigos de Seu povo.
Em grande contraste com a vida de Abraão estava a de Ló! Já tinham sido companheiros, adorando no mesmo altar, morando ao lado um do outro em
36
suas tendas de peregrinos; mas quão diversamente diferençados agora! Ló escolhera Sodoma para seu prazer e proveito. Deixando o altar de Abraão e seu sacrifício diário ao Deus vivo, permitira a seus filhos misturar-se com um povo corrupto e idólatra; retivera contudo em seu coração o temor de Deus, pois declaram as Escrituras ter sido ele um homem "justo"; sua alma justa enfadava-se com a conversação vil que diariamente vinha a seus ouvidos, e ele era impotente para impedir a violência e o crime. Foi finalmente salvo como "um tição tirado do fogo" (Zac. 3:2), despojado contudo de suas posses, privado da esposa e filhos, habitando em cavernas, como os animais selvagens, coberto de infâmia em sua velhice; e deu ao mundo, não uma raça de homens justos, mas duas nações idólatras, em inimizade com Deus e a guerrear contra o Seu povo, até que, enchendo-se sua taça de iniqüidade, foram destinadas à destruição. Quão terríveis foram os resultados que se seguiram a um passo desacertado!
Diz o sábio: "Não te canses para enriqueceres; dá de mão à tua própria sabedoria." Prov. 23:4. "O que se dá à cobiça perturba a sua casa, mas o que aborrece as dádivas viverá." Prov. 15:27. E o apóstolo Paulo declara: "Os que querem ser ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína." I Tim. 6:9.
Quando Ló entrou em Sodoma, inteiramente se propunha ele conservar-se livre da iniqüidade, e ordenar a sua casa depois dele. Mas, de maneira bem patente, fracassou. As influências corruptoras em redor dele tiveram efeito sobre sua fé, e a relação de seus filhos para com os habitantes de Sodoma ligaram até certo ponto seus interesses com os deles. O resultado está diante de nós.
Muitos ainda estão cometendo erro semelhante. Escolhendo um lar, olham mais para as vantagens temporais que podem adquirir do que para as influências morais e sociais que cercarão a eles e suas famílias. Escolhem um território belo e fértil, ou mudam-se para alguma cidade florescente, na esperança de conseguir
Pág. 169
maior prosperidade; mas seus filhos se acham rodeados de tentações, e muitas vezes formam camaradagens que são desfavoráveis ao desenvolvimento da piedade e à formação de um caráter reto. A atmosfera de moralidade frouxa, de incredulidade, de indiferença às coisas religiosas, tem uma tendência para contrariar a influência dos pais. Exemplos de rebelião contra a autoridade paternal, e divina, estão sempre diante dos jovens; muitos fazem amizades com ateus e incrédulos, e lançam sua sorte com os inimigos de Deus.
Ao escolhermos uma residência, Deus quer que consideremos antes de tudo as influências morais e religiosas que nos rodearão, a nós e a nossas famílias.
37
Podemos achar-nos em situações difíceis, pois que muitos não podem ter o seu ambiente conforme quereriam; e, onde quer que o dever nos chame, Deus nos habilitará a permanecer incontaminados, se orarmos e vigiarmos, confiando na graça de Cristo. Mas não devemos expor-nos desnecessariamente a influências desfavoráveis à formação de caráter cristão. Quando voluntariamente nos colocamos em uma atmosfera de mundanismo e incredulidade, desagradamos a Deus, e de nossos lares repelimos os santos anjos.
Aqueles que procuram para seus filhos riquezas e honras mundanas, às expensas de seus interesses eternos, acharão no fim que estas vantagens são uma perda terrível. Semelhantes a Ló, muitos vêem seus filhos na perdição, e apenas conseguem salvar sua própria alma. Perde-se o trabalho de sua vida; esta é um triste malogro. Se tivessem exercido verdadeira sabedoria, seus filhos poderiam ter tido menos prosperidade mundana, mas ter-se-iam assegurado um título à herança imortal.
A herança que Deus prometeu a Seu povo não está neste mundo. Abraão não teve possessão na Terra, "nem ainda o espaço de um pé". Atos 7:5. Ele possuía muitos recursos, e deles fazia uso para a glória de Deus e para o bem de seus semelhantes; mas não olhava para este mundo como sua pátria.
O Senhor o chamara para deixar seus patrícios idólatras, com a promessa da terra de Canaã em possessão eterna; todavia nem ele, nem seu filho, nem o filho de seu filho, a recebeu. Quando Abraão quis um lugar para sepultar seus mortos teve de comprá-lo aos cananeus. Sua única possessão na terra da promessa foi aquele túmulo cavado na pedra, na caverna de Macpela.
A palavra de Deus, porém, não havia falhado; tampouco teve ela o seu cumprimento final na ocupação de Canaã pelo povo judeu.
Pág. 170
"As promessas foram feitas a Abraão e à sua posteridade." Gál. 3:16. O próprio Abraão deveria participar da herança. O cumprimento da promessa de Deus pode parecer achar-se muito demorado, pois "um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia" (II Ped. 3:8); pode parecer tardar; mas no tempo adequado "certamente virá, não tardará". Hab. 2:3. A dádiva a Abraão e sua semente incluirá não simplesmente a região de Canaã, mas a Terra toda. Assim, diz o apóstolo: "A promessa de que havia de ser herdeiro do mundo não foi feita pela lei a Abraão, ou à sua posteridade, mas pela justiça da fé." Rom. 4:13. E a Bíblia claramente ensina que as promessas feitas a Abraão devem cumprir-se por meio de Cristo. Todos os que são de Cristo são "descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa" - herdeiros de uma "herança incorruptível, incontaminável, e que se não pode murchar" (Gál. 3:19; I Ped. 1:4), a saber, a Terra livre da maldição do pecado. Pois "o reino, e o domínio, e
38
a majestade dos reinos, debaixo de todo o céu, serão dados ao povo dos santos do Altíssimo" (Dan. 7:27); e "os mansos herdarão a Terra, e se deleitarão na abundância de paz". Sal. 37:11.
Deus proporcionou a Abraão uma perspectiva desta herança imortal, e com esta esperança ele se contentou. "Pela fé habitou na terra da promessa, como em terra alheia, morando em cabanas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa. Porque esperava a cidade que tem fundamentos, da qual o artífice e construtor é Deus." Heb. 11:9 e 10.
A respeito da posteridade de Abraão está escrito: "Todos estes morreram na fé, sem terem recebido as promessas; mas, vendo-as de longe, e crendo-as e abraçando-as, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na Terra." Heb. 11:13. Devemos morar neste mundo como peregrinos e estrangeiros se quisermos alcançar uma pátria "melhor, isto é, a celestial". Heb. 11:16. Aqueles que são filhos de Abraão estarão a procurar a cidade que ele estava, "da qual o artífice e construtor é Deus".
15
O Casamento de Isaque
Pág. 171
Abraão se tornara velho, e esperava logo morrer; todavia, restava-lhe cumprir um ato, assegurando o cumprimento da promessa à sua posteridade. Isaque era o que fora divinamente designado para suceder-lhe como guarda da lei de Deus, e ser pai do povo escolhido; ele, porém, ainda era solteiro. Os habitantes de Canaã eram dados à idolatria, e Deus havia proibido casamentos entre o Seu povo e aqueles, sabendo que tais casamentos conduziriam à apostasia. O patriarca receou o efeito das influências corruptoras que rodeavam seu filho. A fé habitual de Abraão em Deus, e sua submissão à vontade dEle, refletiam-se no caráter de Isaque; mas as afeições do jovem eram fortes, e ele era de uma disposição gentil e dócil. Unindo-se a alguém que não temesse a Deus, ele estaria em perigo de sacrificar os princípios por amor à harmonia. No espírito de Abraão, a escolha de uma esposa para seu filho era assunto de muita importância; estava desejoso de que ele se casasse com uma que não o afastasse de Deus.
Nos tempos antigos, os contratos de casamento eram geralmente feitos pelos pais; e este era o costume entre os que adoravam a Deus. De ninguém se exigia casar com aquele a quem não podia amar; mas na concessão de suas afeições o jovem era guiado pelo discernimento de seus pais experientes e tementes a Deus. Era considerado uma desonra para os pais, e mesmo crime, seguir caminho contrário a este.
39
Isaque, confiando na sabedoria e afeição de seu pai, estava satisfeito com a entrega desta questão a ele, crendo também que o próprio Deus dirigiria na escolha a fazer-se. Os pensamentos do patriarca volveram para os parentes de seu pai, na terra de Mesopotâmia. Posto que não estivessem livres de idolatria, acalentavam o conhecimento e o culto do verdadeiro Deus. Isaque não devia sair de Canaã para ir a eles; mas poderia ser que se encontrasse entre eles alguma mulher que quisesse deixar seu lar, e unir-se
Pág. 172
a ele para manter em sua pureza o culto ao Deus vivo. Abraão confiou este importante assunto "ao seu servo, o mais velho", homem de piedade, experiência, e juízo são, que lhe havia prestado prolongado e fiel serviço. Exigiu que este servo fizesse um juramento solene perante o Senhor, de que não tomaria esposa para Isaque dentre os cananeus, mas que escolheria uma moça da família de Naor, na Mesopotâmia. Ele o incumbiu de não levar Isaque para lá. Se não pudesse encontrar uma jovem que quisesse deixar seus parentes, o mensageiro estaria desobrigado de seu juramento. O patriarca animou-o em seu difícil e delicado empreendimento, com a segurança de que Deus coroaria de êxito a sua missão. "O Senhor, Deus dos Céus", disse ele, "que me tomou da casa de meu pai e da terra da minha parentela, ... enviará o Seu anjo adiante da tua face." Gên. 24:7.
O mensageiro partiu sem demora. Levando consigo dez camelos para uso de seu próprio grupo e do cortejo nupcial que com ele poderia voltar, provido também de presentes para a esposa em perspectiva e pessoas da amizade desta, fez a longa viagem para além de Damasco, e, a seguir, até as ricas planícies que margeiam o grande rio do Oriente. Chegando a Harã, "a cidade de Naor", parou fora dos muros, perto do poço aonde vinham as mulheres do lugar, à tarde, a buscar água. Foi um momento de ansiosos pensamentos para ele. Importantes resultados, não somente para a casa de seu senhor, mas para as gerações futuras, poderiam seguir-se da escolha que ele fizesse; e como deveria ele sabiamente escolher entre pessoas completamente estranhas? Lembrando-se das palavras de Abraão, de que Deus enviaria com ele o Seu anjo, orou fervorosamente pedindo uma direção positiva. Na família de seu senhor ele estava acostumado ao exercício constante da bondade e hospitalidade, e agora pediu que um ato de cortesia indicasse a jovem que Deus escolhera.
Apenas proferira a oração, e a resposta fora dada. Entre as mulheres que estavam reunidas junto ao poço, as maneiras corteses de uma atraíram sua atenção. Retirando-se ela do poço, o estranho foi ao seu encontro, pedindo um pouco de água do cântaro sobre os seus ombros. O pedido recebeu amável resposta, juntamente com um oferecimento para tirar água para os camelos
40
também, serviço este que era costume mesmo às filhas dos príncipes fazerem para os rebanhos e gado de seus pais. Assim foi dado o sinal desejado. A jovem "era mui formosa à vista", e sua diligente cortesia deu prova de bom coração, e uma natureza ativa, enérgica. Até aí a mão divina estivera com
Pág. 173
ele. Depois de reconhecer sua bondade por meio de ricos presentes, o mensageiro perguntou quem eram os seus parentes, e, sabendo que ela era filha de Betuel, sobrinho de Abraão, "inclinou-se" e "adorou o Senhor". Gên. 24:26.
O homem havia pedido acolhida em casa do pai da moça e nas expressões de agradecimento por parte dele revelara o fato de sua ligação com Abraão. Voltando para casa, a moça contou o que acontecera, e Labão, seu irmão, logo se apressou a levar o estranho e os que o acompanhavam para participarem da hospitalidade deles.
Eliézer não quis participar do alimento antes que houvesse transmitido sua mensagem, falado sobre sua oração ao lado do poço, juntamente com todas as circunstâncias que a acompanharam. Então disse ele: "Agora, pois, se vós haveis de mostrar beneficência e verdade a meu senhor, fazei-mo saber; e se não, também mo fazei saber, para que eu olhe à mão direita, ou à esquerda." A resposta foi: "Do Senhor procedeu este negócio; não podemos falar-te mal ou bem. Eis que Rebeca está diante da tua face; toma-a, e vai-te; seja a mulher do filho de teu senhor, como tem dito o Senhor." Gên. 24:50 e 51.
Depois de obter-se o consentimento da família, a própria Rebeca foi consultada quanto a ir ela a uma tão grande distância da casa de seu pai para casar-se com o filho de Abraão. Ela acreditava, pelo que havia tido lugar, que Deus a escolhera para ser a esposa de Isaque, e disse: "Irei." Gên. 24:58.
O servo, prevendo a alegria de seu senhor pelo êxito de sua missão, estava ansioso por partir; e pela manhã puseram-se a caminho para casa. Abraão morava em Berseba, e Isaque, que estivera cuidando dos rebanhos nos territórios circunvizinhos, voltara à tenda de seu pai a fim de esperar a chegada do mensageiro, de Harã. "E Isaque saíra a orar no campo, sobre a tarde; e levantou os seus olhos, e olhou, e eis que os camelos vinham. Rebeca também levantou seus olhos, e viu a Isaque, e lançou-se do camelo. E disse ao servo: Quem é aquele varão que vem pelo campo ao nosso encontro? E o servo disse: Este é meu senhor. Então tomou ela o véu, e cobriu-se. E o servo contou a Isaque todas as coisas que fizera. E Isaque trouxe-a para a tenda de sua mãe Sara, e tomou a Rebeca, e foi-lhe por mulher, e amou-a. Assim Isaque foi consolado depois da morte de sua mãe." Gên. 24:63-67.
41
Abraão tinha notado o resultado dos casamentos mistos entre aqueles que temiam a Deus e os que O não temiam, desde os
Pág. 174
dias de Caim até o seu tempo. As conseqüências de seu próprio casamento com Hagar, e das alianças matrimoniais de Ismael e de Ló, estavam perante ele. Da falta de fé por parte de Abraão e Sara tinha resultado o nascimento de Ismael, mistura da semente justa com a ímpia. A influência do pai sobre seu filho era contrariada pela dos parentes idólatras da mãe, e pela ligação de Ismael com esposas gentias. A inveja de Hagar, e das esposas que ela escolhera para Ismael, rodeou sua família com uma barreira que Abraão em vão se esforçou por sobrepujar.
Os primeiros ensinos de Abraão não foram destituídos de efeito sobre Ismael, mas a influência de suas mulheres teve como resultado estabelecer a idolatria em sua família. Separado do pai, e amargurado pela contenda e discórdia de um lar destituído do amor e temor de Deus, Ismael foi compelido a escolher a vida selvagem e pilhante de chefe do deserto, sendo sua mão contra todos e a mão de todos contra ele. Gên. 16:12. Em seus últimos dias arrependeu-se de seus maus caminhos, e voltou ao Deus de seu pai; mas permaneceu o cunho de caráter dado à sua posteridade. A poderosa nação que dele descendera foi um povo turbulento, gentio, que sempre foi um incômodo e aflição aos descendentes de Isaque.
A esposa de Ló foi mulher egoísta, irreligiosa, e sua influência exerceu-se no sentido de separar de Abraão o seu marido. A não ter sido por causa dela, Ló não teria permanecido em Sodoma, privado do conselho do patriarca sábio e temente a Deus. A influência de sua esposa e as relações entretidas naquela ímpia cidade, tê-lo-iam levado a apostatar de Deus, se não tivesse sido a instrução fiel que cedo recebera de Abraão. O casamento de Ló e sua escolha de Sodoma como residência, foram os primeiros elos em uma cadeia de acontecimentos repletos de males para o mundo durante muitas gerações.
Pessoa alguma que tema a Deus, pode, sem perigo, ligar-se a outra que O não tema. "Andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?" Amós 3:3. A felicidade e prosperidade da relação matrimonial depende da unidade dos cônjuges; mas entre o crente e o incrédulo há uma diferença radical de gostos, inclinações e propósitos. Estão a servir dois senhores, entre os quais não pode haver concórdia. Por mais puros e corretos que sejam os princípios de um, a influência de um companheiro ou companheira incrédula terá uma tendência para afastar de Deus.
Pág. 175
42
A pessoa que entrou para a relação matrimonial quando ainda não convertida, coloca-se pela sua conversão sob uma obrigação maior de ser fiel ao consorte, por mais que difiram com respeito à fé religiosa; todavia, as reivindicações de Deus devem ser postas acima de toda a relação terrena, mesmo que provas e perseguições possam ser o resultado. Com espírito de amor e mansidão, esta fidelidade pode ter influência no sentido de ganhar o descrente. Mas o casamento de cristãos com ímpios é proibido na Bíblia. A instrução do Senhor é: "Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis." II Cor. 6:14.
Isaque foi altamente honrado por Deus, sendo feito herdeiro das promessas pelas quais o mundo deveria ser bendito; entretanto, aos quarenta anos de idade, sujeitou-se ao ensino de seu pai ao designar seu servo experimentado e temente a Deus, a fim de escolher-lhe uma esposa. E o resultado daquele casamento, conforme é apresentado nas Escrituras, é um quadro terno e belo, de felicidade doméstica: "E Isaque trouxe-a para a tenda de sua mãe Sara, e tomou a Rebeca, e foi-lhe por mulher, e amou-a. Assim, Isaque foi consolado depois da morte de sua mãe." Gên. 24:67.
Que contraste entre o procedimento de Isaque e o que é praticado pelos jovens de nossos tempos, mesmo entre os professos cristãos! Os jovens mui freqüentemente acham que a entrega de suas afeições é uma questão na qual o eu apenas deveria ser consultado, questão esta que nem Deus nem os pais de qualquer modo deveriam dirigir. Muito antes de atingirem a idade de homens ou mulheres feitos, julgam-se competentes para fazerem sua escolha, sem o auxílio de seus pais. Alguns anos de vida conjugal são usualmente bastantes para mostrar-lhes seu erro, mas muitas vezes demasiado tarde para impedir seus resultados funestos. Pela mesma falta de prudência e domínio próprio que determinaram a escolha precipitada, dá-se ocasião a que o mal se agrave, até que a relação matrimonial se torne um jugo mortificante. Muitos assim fizeram naufragar sua felicidade nesta vida, e sua esperança da vida por vir.
Se há um assunto que deve ser cuidadosamente considerado, e no qual se deve procurar o conselho de pessoas mais velhas e experientes, é o do casamento; se a Bíblia já foi necessária como conselheira, se a direção divina em algum tempo deveria ser procurada em oração, é antes de dar um passo que liga pessoas entre si para toda a vida. Os pais nunca devem perder de vista sua responsabilidade pela felicidade futura de seus filhos. O respeito
Pág. 176
de Isaque aos conselhos de seu pai foi o resultado do ensino que o habilitou a amar uma vida de obediência. Ao mesmo tempo em que Abraão exigia de seus filhos que respeitassem a autoridade paterna, sua vida diária testificava que
43
essa autoridade não era um domínio egoísta ou arbitrário, mas que se fundava no amor, e tinha em vista o bem-estar e felicidade deles.
Pais e mães devem sentir que se lhes impõe o dever de guiar as afeições dos jovens, a fim de que possam ser colocadas naqueles que hajam de ser companheiros convenientes. Devem sentir como seu dever, pelo seu próprio ensino e exemplo, com a graça auxiliadora de Deus, modelar de tal maneira o caráter de seus filhos desde os seus mais tenros anos, que sejam puros e nobres, e sejam atraídos para o bem e para o verdadeiro. Os semelhantes atraem os semelhantes; os semelhantes apreciam os semelhantes. Que o amor pela verdade, pureza e bondade seja cedo implantado na alma, e o jovem procurará a companhia daqueles que possuem essas características.
Procurem os pais, em seu próprio caráter e vida doméstica, exemplificar o amor e a beneficência do Pai celestial. Que no lar prevaleça uma atmosfera prazenteira. Isto será de muito mais valor para vossos filhos do que terras ou dinheiro. Que o amor doméstico se conserve vivo em seus corações, para que possam volver o olhar ao lar de sua meninice como um lugar de paz e felicidade, abaixo do Céu. Os membros da família não têm todos o mesmo cunho de caráter, e haverá freqüentes ocasiões para o exercício da paciência e longanimidade; mas, pelo amor e disciplina própria, todos poderão estar ligados na mais íntima união.
O verdadeiro amor é um princípio elevado e santo, inteiramente diferente em seu caráter daquele amor que se desperta por um impulso e que subitamente morre quando severamente provado. É pela fidelidade para com o dever na casa paterna que os jovens devem preparar-se para os seus próprios lares. Pratiquem eles aqui a abnegação, e manifestem bondade, cortesia e simpatia cristã. Assim o amor será mantido cálido em seu coração, e aquele que parte de um lar semelhante, para se colocar como chefe de sua própria família, saberá como promover a felicidade daquela que escolheu para companheira de toda a vida. O casamento, em vez de ser o final do amor, será tão-somente seu começo.
44
B’Rit hadashá
 Cântico do Zemirot
 Oração
 Lição 2 – O Céu na Terra
………………………………………..
VERSO PARA MEMORIZAR:
“Os quais ministram em figura e sombra das coisas celestes, assim como foi Moisés divinamente instruído, quando estava para construir o tabernáculo; pois diz Ele: Vê que faças todas as coisas de acordo com o modelo que te foi mostrado no monte” (Hb 8:5).
Leituras da Semana:
Gn 1:31-2:3; Êx 39:32, 43; 25:9; Hb 8:5; Jo 2:19-21; 1Co 3:16, 17; Ap 21:1-22
O primeiro “santuário” na Terra
Cópia do modelo
Yeshuah como Santuário
A congregação como santuário
Nova criação
………………………………………..
 Livro Azul de Orações
 Variação Musical (Se for de membros da Congregação, tema livre, dentro do contexto judaico. Se visitantes, somente com aprovação antecipada, em hebraico e mediante voto da congregação)
 Anúncios
45
Shacharit
1 – Ma Tôvu
Uma pessoa convidada canta os versos bíblicos que nos lembram QUÃO BELAS são as moradas do PAI ETERNO. Este é o momento
para aquietar a alma e refletir na beleza e alegria de estar na presença do CRIADOR.
Quão belas são suas tendas, ó Jacob, as tuas moradas ó Israel. E eu, confiado na multidão da Tua misericórdia, entrarei à tua casa, prostrar-me-ei
ante o Teu sagrado santuário, estando cheio do Teu temor. Eterno, eu amei a morada da Tua casa e o lugar onde habita Tua glória.
Números 24:5 - Salmos 5:8 - Salmos 26:8
2 – Zemirot
 Diversas do Zemirot
 (6 músicas)
Mizmor Shir Le Yom Hashabat (Zemiroth 19)
Mizmor shir leyom hashabat
Tov leodot l’Adonai
Ulezamer leshimhá Elión
Ulezamer leshimhá Elión (2X)
Tzadik katamar yifrach,
Keérez belevanon yisguê
46
Shetulim bevêt Adonai,
Bechatserot Elohênu yafrichu.
Od Yenuvum beshevá, deshenim veral
Ananim yihiú.
Lehaguid Ki yashar Adonai
Tsuri velo aviatá bô.
Mizmor shir leyom hashabat
Tov leodot l’Adonai
Ulezamer leshimhá Elión
Ulezamer leshimhá Elión (2X)
“Salmo e Cantico para o dia de Sábado”
Bom é render graças ao senhor, e cantar louvores ao Teu Nome, Ó Altíssimo..
O justo florescerá como os cedros do Líbano plantados na casa do Senhor. Florescerão nos átrios da casa do nosso D’us. Na velhice ainda darão frutos. Serão cheios de seiva e verdor. Para anunciar que O senhor é reto. Ele é a minha Rocha e nEle não há injustiça. (Sl. 92: 1, 12-15)
3 – Barechú
 Barechú et Adonai haMevorách!
Baruch Adonai haMevorách leolam vaed!
Baruch Adonai haMevorách leolam vaed!
47
4 – Qeriat Shemá
Bendito sejas Tu, Senhor, Criador de todos os seres vivos, dos anjos de Sua Glória, de todo ser humano e de toda criatura.
Todos Te rendemos louvores pelo Teu eterno amor com que nos tens amado, e juntos proclamamos em uníssono:
SHEMÁ YISRAEL, ADONAI ELOHÊNU, ADONAI ECHAD.
Baruch Shem Kevod, malchutô leolam vaed.
Ouve ó Israel, o Senhor é nosso Deus, o Senhor é UM.
Amarás, pois, o Senhor teu Deus, de todo teu coração, de toda tua alma e de toda a tua força. Estas palavras, que hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas. (Dt 6:4-9)
ADONAI ELOHECHÊM EMÉT.
O Eterno vosso Deus é verdadeiro! E verdadeiras são todas as Suas promessas.
5 – AMIDÁ (A Grande Oração)
Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca proferirá o Teu louvor (Sl 51:15)
Baruch Atá Adonai, Elohênu vElohê avotênu, Elohê Avraham, Elohê Yitschaq, vElohê Ya’kov.
Bendito sejas Tu, Eterno nosso Deus e Deus de nossos pais, Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacó.
(Todos em silêncio, oram a prece que se segue)
48
Bendito sejas Tu, Eterno, Nosso deus e Deus de nossos pais, Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacó; O Grande, O Poderoso e Temido Deus. Altíssimo Deus que concede boas mercês, que possui tudo e se recorda da piedade dos patriarcas, e que com grande amor fará vir um redentor aos descendentes desses patriarcas, por amor do teu Nome.
(Convidado) conclui sua oração e acrescenta os seguintes agradecimentos e petições:
 Agradece pela semana que passou, suas bênçãos e pelo Sábado que agora desfruta.
 Roga à Deus para que estabeleça em breve O seu reino sobre toda a Terra e que nossos olhos possam vê-Lo reinando em Sião.
 Pedidos e agradecimentos pessoais.
 Conclui pedindo que Ele possa estabelecer a Paz, o Shalom sobre si, na sua vida e de seus queridos; de todos os seres humanos de uma vez, e para sempre.
Kedushá

Nós Te santificaremos e reverenciaremos com tom harmonioso, como aquele usado na assembleia dos santos Serafim, que três vezes proclamam a Tua Santidade, porque assim está escrito pela mão do teu profeta: “E chama um ao outro e diz:
Qadosh, Qadosh, Qadosh, Adonai Tseva Ôt, melo chol há’arets Kevodô!
Santo, Santo, Santo é o Eterno dos Exércitos, toda a Terra está cheia da Sua Glória.
49
E unindo suas vozes, eles louvavam e diziam:
Baruch Kevod Adonai meimecomô.
Bendita é a Glória do eterno na Sua mansão. (Ez. 3:12)
E nas Santas Escrituras está escrito:
Ymloch Adonai leolam, Elochayich Tsion ledor vador, haleluiá.
O Eterno reinará para sempre; teu Deus ó Tsion, para todas as gerações, Aleluia! (Sl. 146:10)
 Kehilá se assenta
Bendito és Tu, ó Eterno, Deus Santo. Ó Senhor, Tu nos tens santificado com Teus mandamentos, e através de Moisés nos destes as duas tábuas de pedra, onde estava escrito acerca da observação do Shabat, e assim está escrito na Tua Torá.
Veshamerú venê Israel et hashabat, l’assot et hashabat
Ledorotan berit olam.
Beni uven benê Israel ot hi leolam,
50
Kisheshet iamin assá Adonai
Et hashamayim ve’et há’árets
Uvaiom hashevií shavat vayinafash.
Pelo que os filhos de Israel guardarão o sábado, celebrando-o por aliança perpétua nas suas gerações. Entre mim e os filhos de Israel é sinal para sempre; porque em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, e, ao sétimo dia, descansou e tomou alento. (Êx. 31:16-17)
Alegrar-se-ão com o teu reino os que guardam o Shabat e o qualificam uma delícia; o povo que santifica o sétimo dia, todo ele se fartará e se regozijará com o Teu bem, porque comprazes-te com o sétimo dia e O santificaste. “Desejado dos Dias” o denominaste em recordação á obra da Criação.
Nosso Deus e Deus de nossos pais, rogamos-Te comprazer-te em nosso repouso.
Santifica-nos com os Teus mandamentos, faz-nos saciar a Tua bondade, alegra a nossa alma com a Tua salvação (Yeshua), e faz-nos herdar o Shabat da Tua Santidade e folgue nele todo Israel.
Óh Eterno, que nossos olhos possam ver Teu retorno a Tsion.
Por todas as Tuas bênçãos e por todas as Tuas graças, nós te agradecemos, Ó Eterno Nosso Deus.
51
 BIRKAT COHANIM
Yevarechechá Adonai veyishmerêcha
Yaer Adonai Panav elêcha vichunêca
Yissá Adonai panav elêcha veyassem lechá shalom
...........................................................................................
Avinu Shebashamaim
Avinu shebashamim, itkadesh Shimchá.
Tavô malkutechá, ye’assê retsonchá
Kevashamaim ken ba’arets.
Et léhen chqênu tem lánu hayom,
Uslách lánu al chataênu kemô shessolechim
Gam anáchnu lachoteim lánu.
Veal teviênu lidê nissaiôn, ki’im chaletsenu min hará.
Ki leChá hamamlachá vehagevurá vehatiferet le’olamê olamim.
Amén!
Shemá Israel, Adonai Elohenu, Adonai Echad
Echad Elohênu, Gadol Adonênu, Qadosh Shemô.
Ouve ó Israel: O Senhor é o nosso Deus, o Senhor é Um.
UM é o nosso Deus, Grande é o nosso Senhor, Santo é o Seu Nome.
52
Engrandecei comigo o Eterno e, conjuntamente, enalteçamos O Seu Nome.
A Ti, Eterno, pertence a Realeza, o poder, a glória, a eternidade, e a majestade, e tudo o que existe nos céus e na terra;
a Ti pertence a realeza e Tu és exalçado acima de tudo.
Exaltai ao Eterno, nosso Deus e prostrai-vos ao escabelo dos Seus pé;
Santo é Ele. Exaltai ao Eterno, nosso Deus, e prostrai-vos no seu Santo monte pois Santo é O Eterno, nosso Deus.
6 – Hotsat Torá
..............................
7 – Queriat Torá
Barechú et Adonai haMevorach!
Bendizei Ao Senhor que é Bendito!
Baruch Adonai haMevorach leolam vaed!
Bendito é O Senhor que é Bendito para todo sempre!
Baruch Adonai hamevorach leolam vaed!
Baruch Atah Adonai Elohênu Mêlech haolam, Asher bachar bánu mikol
Há’amin, venatan lánu et toratô. Baruch atah Adonai, Noten Hatorá.
Bendito seja o Senhor que é Bendito para todo o sempre.
Bendito és Tu, senhor nosso D’s, Rei do Universo, que nos escolhestes entre todos os povos, e nos destes a Tua Torá. Bendito és Tu senhor, que destes a Torá.
53
Amén!
Deuteronômio Gn 12.1-17.27 (escolher)_____________________
Após a leitura, a bênção:
Baruch Atá Adonia Elohênu Melech haolam, Asher natán lánu torat emét vechaiê olam natá betochênu. Baruch Atá Adonai, Noten Hatorá.
Bendito és Tu, enhor, nosso D’s, Rei do Universo, que nos destes a Lei da Verdade e plantastes a vida eterna entre nós. Bendito és Tu, Senhor, que destes a Torá.
Amén!
Haftará
Is 40.27-41.16
Baruch Atá Adonai Elehênu Mélech haolam, Asher bachar bineviim tovim.
Bendito és Tu, senhor, nosso D’s, Rei do Universo, que escolhestes bons profetas.
Amén!
...
Baruch Atá Adonai Elohênu Melech haolam.
Bendito és Tu, senhor, nosso D’s, rei do Universo, que escolhestes bons profetas.
Leitura................................
9 – Leitura da Haftará (Profetas)
...............
54
10– Leitura da B’rit Hadashá
 Leitora (jovem)
Baruch Atá Adonai Elohênu Mêlech haolam, Asher qidshanu bemitsvotav uvdivrê haMashiach.
 Kehilá
Amén!
Leitura................................
Rm 4.1-25
Tehilim (Salmos) 110
55
11 - DERASHÁ .........................................
PORÇÃO SEMANAL DA TORÁ 03- LECH LECHÁ
Parashá 03 Lech Lechá (Sai)
(Génesis 12:1 – 17:27)
Referência nos Profetas: Isaías 40:27 a 41:16.
Referência nos Escritos Apostólicos: Romanos 4:1-25.
Salmo complementar: 110.
Porção Semanal da Torá: 03- Lech Lechá (de Génesis 12:1 a 17:27).
Significa “sai ”.
Introdução
Ainda que Noé fosse um homem justo diante de YHWH, aparentemente, não teria capacidade para instruir os seus filhos no caminho de Elohim.
Vejamos, que após sair da arca com a sua família, Noé dedica a sua vida à plantação de uma vinha, e parece ter descurado (tendo em conta o comportamento de Cam) numa tarefa importante; continuar a instruir os seus filhos, e adverti-los que não caíssem nos mesmos erros da geração que fora destruída pelo dilúvio.
Ezequiel 14:20 diz-nos: “Ainda que Noé, Daniel e Jó estivessem no meio dela, vivo eu, diz YHWH, que nem um filho nem uma filha eles livrariam, mas somente eles livrariam as suas próprias almas pela sua justiça.”
Vemos então que os filhos de Noé não eram tão justos aos olhos de YHWH, como o seu pai o era. Somente Noé seria salvo pela sua justiça, como tal, percebemos que foi então devido à misericórdia do Eterno, atentando para o coração e perseverança de Noé, que estendeu a sua misericórdia à sua família. Não pela pureza dos seus corações, pois não eram tão justos como ele.
Vemos claramente mais à frente, a descendência de Noé (salvo raras excepções) sob o domínio de Nimrod a descurar a instrução de YHWH. Essa rebeldia foi castigada com confusão, e os filhos de Noé foram espalhados pela terra. Contudo, na família de Sem podemos encontrar uma linhagem de justiça e devoção ao Eterno. Noé abençoou Sem. Portanto Sem consegui instruir a sua descendência nos caminhos de YHWH, dando o testemunho a seu filho Arfashad, ao seu neto Selá e ao seu bisneto Éber, este último nome é o que dá origem ao termo “hebreu” (de Éber).
Apesar disso, os seus níveis de justiça e dedicação a Elohim, talvez não fossem suficientes para serem eleitos. Nenhum deles tinha a capacidade nem os requisitos para serem eleitos como o pai de uma nação santa.
O Eterno esperou que aparecesse alguém com esses requisitos…, alguém que apareceu na décima geração depois de Noé, alguém que tinha por nome Abrão, que significa “pai exaltado”.
56
Elohim encontrou em Abrão esses requisitos, pois ele tinha a capacidade de instruir os seus filhos a viver uma vida focada no Eterno e justa aos Seus olhos, e que não fraquejassem perante as pressões do mundo exterior. Abrão foi escolhido por ter essa capacidade, por ensinar aos seus filhos a viver sob um padrão de justiça, e caminhar retamente todos os dias, como lemos em Génesis 18:19:
“Porque eu o tenho conhecido, e sei que ele há de ordenar a seus filhos e à sua casa depois dele, para que guardem o caminho de YHWH, para agir com justiça e juízo; para que YHWH faça vir sobre Abraão o que acerca dele tem falado.”
A sua capacidade de orientar os seus filhos, e a sua descendência depois dele, a que guardassem o caminho do Eterno, é a razão pela qual, foi ele o escolhido para ser o pai de uma grande nação Santa; mas mais do que isso, para que ele fosse o patriarca de uma nação que herdaria os novos céus e nova terra, depois destes (o céu e a terra) passarem por uma segunda etapa de purificação, desta vez a do fogo, conforme Números 31:23 .
Essa promessa foi reforçada pelo Eterno ao mudar o nome de Abrão para Abraão (não só seria um pai enaltecido, mas também um pai de uma multidão de nações).
Quão importante é ser um pai, quão importante é instruir os filhos no caminho de retidão de YHWH! Noé não tinha essa capacidade, por isso YHWH esperou que aparecesse um outro que tivesse. Qual a principal diferença entre estes dois homens (Noé e Abrão) escolhidos pelo Eterno?
Relativamente a Noé a Torá diz: Noé andava com Elohim (Génesis 6:9), o que segundo Rashi significa que Noé precisava de ajuda no seu serviço divino. Mas relativamente a Abrão, o Eterno diz: “anda diante de Mim” (Génesis 17:1), o que também segundo Rashi significa que Abrão podia fortalecer-se a si mesmo, isto porque Abrão era proactivo e tinha motivação própria; não necessitava de coisas externas que o estimulassem a servir ao Eterno ou a ser bondoso. Por seu lado, Noé necessitava de uma espécie de “empurrão” que o levasse a caminhar em retidão.
Esse argumento é reforçado pelo texto da Torá que nos diz que Noé é chamado de “ish tzadik” (homem reto), enquanto Abrão é chamado de “ish chésed” (homem de bondade).
Não desfazendo, Noé realizou incríveis atos de bondade na arca, como por exemplo o facto de alimentar centenas de animais durante muitos meses. Contudo, ele fazia a sua obrigação; a sua atitude, diferente de Abrão, não provinha de um incontestável desejo de dar, mas apenas reagia perante as necessidades dos outros. A sua bondade era reativa no sentido de ajudar as pessoas quando acudiam a ele ou quando sentia a obrigação de o fazer.
Abrão, por sua vez, não o fazia por obrigação, mas sim porque tinha um enorme desejo em dar, mostrando que a sua bondade era proativa, contrariamente à de Noé que era reativa.
Esta diferença vai mais além do simples âmbito físico, pois tinha a sua implicação espiritual. Noé criticou o povo da sua geração, mas nada fez a respeito disso. Abrão foi muito mais além do chamado do dever, pois ensinou o mundo a conhecer o Eterno, e por isso, quando deixou a sua terra, muitos o acompanharam, pois ele era um orador nato.
57
Por que razão Noé era diferente de Abrão? A resposta está no nome de Noé, que significa “acomodado”. Sabemos que o nome de uma pessoa nos ensina sobre a sua essência, e não é fácil tomar uma responsabilidade por iniciativa própria a menos que sejamos chamados a fazê-lo.
A inclinação negativa inata do ser humano, levá-lo-á a levantar vários entraves para impedir que se assuma uma missão desafiante, sendo que a verdadeira razão para isso é o desejo de comodidade. Todos nós também não devemos ignorar as oportunidades de fazer a nossa quota-parte, todos nós temos um propósito nesta vida, um propósito que deve ser não só reativo, mas também proativo. Toda a humanidade é reativa, mas apenas uma pequena percentagem dela é proativa. Imaginemos quantos excelentes trabalhos e grandes iniciativas nunca se materializam devido à preguiça.
Outra das razões que condiciona a nossa proatividade é uma equivocada confiança em Elohim. Muitas vezes esperamos que o Eterno nos entregue de bandeja o propósito da nossa vida; contudo, a história mostra-nos que os grandes nomes da história não tiveram essa atitude passiva, visto que viram os problemas que existiam no mundo e decidiram enfrentá-los sem esperar que fossem instruídos a tal.
Na nossa geração, não é preciso ir muito longe para encontrar oportunidades para melhorar o mundo de alguma forma. Mas não devemos esperar que nos peçam para o fazer; se esperamos, é provável que essa oportunidade nunca venha a acontecer. YHWH quer que abramos os olhos e que atuemos antes que nos peçam.
Noé indubitavelmente foi um grande homem, mas não se transformou no pai do povo eleito, pois era uma pessoa reativa, que necessitou de um empurrão para agir. Por seu lado, Abrão não precisou que o motivassem a servir ao Eterno. Não esperou que as pessoas acudissem a ele para que ele lhes ensinasse a Torá.
Primeira Leitura: 12:1-13
12:1-3 “Ora, YHWH disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E farei de ti uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra.”
Segundo Neemias 9:7 e o relato de Estevão, em Actos 7:2-4, Elohim já tinha feito um primeiro chamado a Abrão em Ur, dos Caldeus. Logo o chamado de YHWH a Abrão em Haran (Génesis 12:1-3), terá sido o segundo chamado.
O relato de Estevão em Actos 7:2-4 também concorda com isso: “E ele disse: Homens, irmãos, e pais, ouvi. O Elohim da glória apareceu a nosso pai Abraão, estando na mesopotâmia, antes de habitar em Harã, E disse-lhe: Sai da tua terra e dentre a tua parentela, e dirige-te à terra que eu te mostrar. Então saiu da terra dos caldeus, e habitou em Harã. E dali, depois que seu pai faleceu, Elohim o trouxe para esta terra em que habitais agora.”
58
Isto mostra-nos um ponto fundamental. Quando YHWH nos chama para algo, temos que percorrer um percurso, uma caminhada, onde procederemos consoante a instrução de Elohim (viver a vida segundo a Torá).
Ur era uma terra cheia de idolatria e paganismo, e essa foi uma das razões pela qual YHWH lhe ordenou que saísse de lá. A congregação do Eterno (a Noiva, a Israel de YHWH), começava a ser estruturada, e começa com uma ordem direta que se mantém para todos aqueles que vivem na babilónia, ou que ainda têm no seu coração vestígios dela: SAI DELA POVO MEU.
Todos os crentes no Elohim de Abraão, Isaac e Jacob, e que mais tarde receberam o testemunho de Yeshua, são ordenados a saírem desse sistema idólatra e devasso, a Babilónia. (Jeremias 51:45; Apocalipse 18:4).
Os escritos rabínicos contam a seguinte história sobre Abrão e seu pai, Terá: Vemos então que, Abrão obedece à instrução de YHWH, para que saísse da sua terra e da sua parentela. No entanto, leva consigo o seu sobrinho Lot, cujo nome significa “véu”, e que no futuro lhe iria causar problemas.
O propósito da eleição de Abrão, seria para que fosse um meio de bênção para todas as famílias da terra, ou seja, a bênção aplicar-se-ia a toda a sua descendência. Esta eleição não teve o propósito de privar os demais das bênçãos divinas, antes pelo contrário, teve como propósito que os demais também pudessem alcançar a promessa que o Eterno deu a Abrão e aos seus filhos.
12:2 “E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção.”
O Eterno promete a Abraão compensá-lo pela sua obediência, e esta promessa acabaria por ter reflexos durante toda esta era, e também no mundo vindouro, os novos céus e nova terra. A palavra que é traduzida como nação, é goy que literalmente significa nação, mas que adquiriu também o significado de gentio, ou seja:
Muitos questionam o porquê do Eterno ter escolhido o povo judeu para ser o seu povo, e que isso provaria que Ele é seletivo, fazendo distinção de pessoas. Mas a Palavra mostra-nos por diversas vezes que o Eterno não faz distinção de pessoas. Afirmar isso é errado. Pois os judeus não são mais especiais do que os gentios, o facto verdadeiro, é que a partir de um gentio, o Eterno levantou um Povo que separou para si. Muitos dizem que Abrão era judeu, mas isso é errado.
Abraão era sim um gentio, e sendo gentio, foi chamado pelo Eterno para dele fazer uma nação santa, nação essa que veio a ser conhecida como Israel. Isto mostra que todos são potenciais Filhos do Eterno, desde que dêem ouvidos ao seu chamado.
O termo “judeu” prevaleceu, porque os descendentes da tribo de Judá foram os únicos que mantiveram a observação da Torá ao longo dos séculos. E por isso se tornou uma referência como sendo o povo do Eterno. Mas o Povo do Eterno não é “só” o povo judeu, mas sim o povo de Israel, do qual fazem parte as doze tribos de Israel, e os gentios que a eles se ajuntam.
O propósito da eleição de Abrão foi que ele fosse um meio de bênção para todas as pessoas da terra. Este propósito estendeu-se aos seus descendentes. A eleição não teve o propósito de privar os demais das bênçãos divinas, mas sim
59
precisamente para que os demais também pudessem alcançar as riquezas que o Eterno oferecia a Abraão e aos seus filhos.
12:3 “E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra.”
Ou seja, o bem-estar, ou a queda das nações dependeria da atitude destas para com a descendência de Abrão.
Ainda que Ismael seja descendente de Abrão, esta promessa não foi dada à descendência que viria de Ismael, como podemos ler em Génesis 21:10:
“E disse a Abraão: Ponha fora esta serva e o seu filho; porque o filho desta serva não herdará com Isaque, meu filho."
No entanto há uma bênção também para os filhos de Ismael, ainda que a aliança seja feita com a descendência de Abrão através de Isaac:
Génesis 17:20 " E quanto a Ismael, também te tenho ouvido; eis aqui o tenho abençoado, e fá-lo-ei frutificar, e fá-lo-ei multiplicar grandissimamente; doze príncipes gerará, e dele farei uma grande nação. A minha aliança, porém, estabelecerei com Isaque, o qual Sara dará à luz neste tempo determinado, no ano seguinte."
O texto de Génesis 12:3, fecha com a frase "em ti serão benditas todas as famílias da terra" que também pode ser traduzido como "em ti serão enxertadas todas as famílias da terra". Vemos o cumprimento dessa profecia em Romanos 11:17-18:
"E se alguns dos ramos foram quebrados, e tu, sendo zambujeiro, foste enxertado em lugar deles, e feito participante da raiz e da seiva da oliveira, Não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti."
Quando um gentio se arrepende dos seus pecados, e entrega-se de coração ao Elohim de Israel, é cortado da sua árvore brava, do seu povo, e enxertado na oliveira cultivada, que é Israel, cuja raiz é o Messias, segundo Isaías 11:10; 53:2; Romanos 15:12; Apocalipse 5:5. Ver também Gálatas 3:29.
Abrão confiava no Eterno, e sabia que Ele seria fiel à sua promessa, por isso saiu em obediência como vemos em Hebreus 11:8: "Pela fé Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia"
12:5 "E tomou Abrão a Sarai, sua mulher, e a Ló, filho de seu irmão, e todos os bens que haviam adquirido, e as almas que lhe acresceram em Harã; e saíram para irem à terra de Canaã; e chegaram à terra de Canaã."
A referência às almas que se lhes juntaram, mostra que existiam pessoas que se tinham juntado à mesma fé de Abrão e de sua família. Provavelmente Abrão teria proclamado a várias pessoas a sua fé num Elohim único, e teria falado sobre Ele a outras pessoas. Dessa forma muitas pessoas reconheceram a existência de um ser Supremo, Criador de todas as coisas, que se juntaram à mesma fé de Abrão. Dessa forma ganhou muitos adeptos que reconheceram a existência do Eterno como único Elohim verdadeiro.
12:6-7 "E passou Abrão por aquela terra até ao lugar de Siquém, até à planície de Moré; e estavam então os cananeus na terra. E apareceu YHWH a Abrão, e disse:
60
À tua descendência darei esta terra. E edificou ali um altar a Elohim, que lhe aparecera."
"Siquém" significa "cerviz", relacionado com o levantamento de cargas. "Moré" significa "mestre".
Esta foi a primeira experiência espiritual profunda que teve Abrão depois de ter saído da Mesopotâmia. O Eterno apareceu a Abrão em Siquém e Moré. Essa experiência foi tão marcante que Abrão decidiu edificar ali um altar ao Eterno.
Esse altar representa de certa forma a primeira experiência na vida de fé de todos os que serão contados como filhos do Eterno, e demonstra a "entrega do eu". O altar é um lugar de sacrifício, um animal é oferecido como representação do homem que o oferece. A oferta queimada, simboliza uma entrega total. O altar é o lugar onde a vontade do homem se submete à vontade do Eterno. "Que não se faça a minha vontade mas sim a Tua, que não seja como eu quero mas como Tu queres." A história posterior a Abrão mostra-nos que Siquém foi um lugar de grandes eventos das escrituras para os descendentes de Abrão. Génesis 33:18-20 (Génesis 28:20-21); 37:12-17; Josué 24:1; 24:14-27; Juízes 21:19; 1ª Reis 12:1; 12:25.
Siquém foi escolhido como um lugar de refúgio. Josué 20:7
José foi sepultado em Siquém, esperando até hoje, a ressurreição dos mortos. Josué 24:32.
Junto a Siquém, há a planície de "Moré", a palavra "moré" significa, como já foi dito, "mestre", e vem de uma raiz que significa "ensinar"; ou seja, a mesma raiz que se encontra na palavra "Torá".
Assim, quando Abrão tem a sua primeira experiência profunda em Siquém, ao mesmo tempo tem a experiência do que é ter um "moré", um mestre que lhe ensinasse a "Torá". A Torá instrui, mostra aquilo que é certo e que é errado aos olhos do Eterno, a bênção e a maldição, a vida e a morte.
A Torá, como já enfatizámos diversas vezes, são os mandamentos, as leis, estatutos e juízos. O Eterno ensinou a Torá a Abrão, como lemos em Génesis 26:5:
"Porquanto Abraão obedeceu à minha voz, e guardou o meu mandado, os meus preceitos, os meus estatutos, e as minhas leis."
Mais tarde, após o cativeiro do Egipto, os filhos de Israel aprenderam como herdariam a bênção e a maldição no vale de Moré. A bênção se atentassem para a Torá do Eterno, a maldição se a transgredissem. Ao norte tinham o monte Ebal, que representa a maldição, e a subida deste, representa uma vida de transgressão; e ao sul o monte Gerizim, cuja subida representa uma vida de obediência, e de cumprimento da Torá. Deuteronômio 11:26-32; 27:12; Josué 8:33.
Moré é o lugar onde se reconhece a Torá do Eterno como o nosso padrão de vida. Aponta também para aquele que nos veio ensinar mais tarde a cumprir a Torá, a torná-la plena, Yeshua, o nosso "mestre". Como lemos em Mateus 5:17-20:
61
"Não cuideis que vim destruir a Torá ou os profetas: não vim anular, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um yud ou um traço se omitirá da Torá, sem que tudo seja cumprido. Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus. Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus."
Então "Siquém" e "Moré" representam os dois requisitos para herdar a vida Eterna, como nos mostra Apocalipse 14:12: "Aqui está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os mandamentos de YHWH e a fé em Yeshua."
12:8-9 "E moveu-se dali para a montanha do lado oriental de Betel, e armou a sua tenda, tendo Betel ao ocidente, e Ai ao oriente; e edificou ali um altar a YHWH, e invocou o nome de YHWH. Depois caminhou Abrão dali, seguindo ainda para o lado do sul."
Invocar o nome do Eterno, não significa apenas pronunciá-lo, mas sim dar a conhecer ao mundo que ele é UM e Único, e ninguém se assemelha a Ele. Em João 17:3 está escrito:
"E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Elohim verdadeiro, e a Yeshua haMashiach, a quem enviaste."
Existe um fenómeno natural muito interessante no local onde Abrão invocou pela primeira vez o Nome Sagrado na terra prometida. O Nome hebraico de YHWH nas letras hebraicas actuais, nas montanhas, no mesmo lugar onde Abrão instalou a tenda. Isso é possível de se ver através de imagens de satélite, como vemos abaixo em Hebraico
O NOME
62
12:10 "E havia fome naquela terra; e desceu Abrão ao Egipto, para peregrinar ali, porquanto a fome era grande na terra. Era necessário que Abrão descesse ao Egito para pisar essa terra, cf. Josué 1:3, para que todo o local que ele pisasse fosse dado à sua descendência como está escrito em Génesis 15:18b.
Vemos neste texto, que Abrão chega a uma terra onde havia fome. Ou seja, uma terra bem diferente daquela que o Eterno lhe tinha prometido, contudo, Abrão confia no Eterno sem hesitar, e isso demonstra mais uma vez a grande fé deste homem.
Segunda Leitura: 12:14 – 13:4
12:14 “E aconteceu que, entrando Abrão no Egipto, viram os egípcios a mulher, que era mui formosa.”
Sara era muito bela, apesar de já ter uma idade avançada. Aqui confirma-se aquilo que Abração receava, que os egípcios iriam atentar para a sua mulher (vs. 11-13).
12:15-18 “E viram-na os príncipes de Faraó, e gabaram-na diante de Faraó; e foi a mulher tomada para a casa de Faraó. E fez bem a Abrão por amor dela; e ele teve ovelhas, vacas, jumentos, servos e servas, jumentas e camelos. Feriu, porém, o Senhor a Faraó e a sua casa, com grandes pragas, por causa de Sarai, mulher de Abrão. Então chamou Faraó a Abrão, e disse: Que é isto que me fizeste? Por que não me disseste que ela era tua mulher?”
Ao chegarem ao Egito, devido à fome na terra onde estava Abrão, Sarai, pela sua formosura, agrada ao Faraó, que a toma como esposa, julgando que Abrão é seu irmão, e não seu marido. Ao ser afligido com pragas de Elohim, O Faraó tem conhecimento que afinal Sarai é sua esposa, e manda-os embora do Egito, cheios de riquezas.
A mentira cria sempre dissabores, e neste caso, fez com que a sua mulher fosse tomada por outros homens. Abrão confiava no Eterno, mas aqui, deixou que a sua carnalidade lhe transmitisse insegurança, levando-o a crer que caso não optasse por mentir, que mal lhes aconteceria. A mentira não é uma opção, existe sempre o caminho e a escolha correta, o importante é confiar no Eterno, e ele proverá uma solução. Vemos pelo vs. 18-19 que caso Abrão tivesse dito a verdade aos Egípcios, que Sara não seria tomada por eles.
Terceira Leitura: 13:3-18
13:3-4 "E fez as suas jornadas do sul até Betel, até ao lugar onde a princípio estivera a sua tenda, entre Betel e Ai; Até ao lugar do altar que outrora ali tinha feito; e Abrão invocou ali o nome de YHWH"
Abrão regressou a Betel, onde já tinha estado, e onde tinha invocado o Nome do Eterno, YHWH.
O Egito simboliza o mundo de trevas. Isto mostra que, se alguém se desvia e sai fora do caminho estipulado por YHWH, é fundamental que se regresse ao caminho e à casa do Eterno. É esse o propósito do chamado de Yeshua, que regressemos à congregação de YHWH. A única fé verdadeira. Ele veio chamar as ovelhas perdidas da Casa de Israel. Mateus 15:24.
Quando Abrão deixou a idolatria do seu pai na Mesopotânia proclamou o Nome de YHWH em Betel, e quando voltou do Egito, fê-lo novamente no mesmo lugar. Betel
63
tornou-se assim num local de proclamação da fé monoteísta, em contraste com o paganismo da Babilónia e do Egito.
13:5 "E também Lot, que ia com Abrão, tinha rebanhos, gado e tendas" Lot não andava com Elohim. Pelo facto de andar com Abrão, Lot tinha também enriquecidoe tinha um grande número de gado, e tendas. A sua riqueza dependia do homem (da sua relação com Abrão), e não por caminhar com Elohim, no final perdeu tudo.
Devido a uma rixa com os pastores de ambos (vs. 7-8), Abrão decide separar-se do seu sobrinho, propondo que ele escolha o local da sua preferência (vs. 9). Lot pensa apenas no seu bem-estar material, e escolhe a parte mais fértil da terra, a oriente, onde estão as cidades de Sodoma e Gomorra, e assim se separam (vs. 10-11). Lot só pensava em si mesmo, não só se separa de Abrão, mas também daquilo que ele representava, levando-o por fim à ruína.
13:14-15 “E disse YHWH a Abrão, depois que Lot se apartou dele: Levanta agora os teus olhos, e olha desde o lugar onde estás, para o lado do norte, e do sul, e do oriente, e do ocidente; Porque toda esta terra que vês, te hei-de dar a ti, e à tua descendência, para sempre.”
Notemos que Abrão tem uma profunda revelação de YHWH, quando decide separar-se de Lot, foi sempre esse o propósito, que deixasse a sua parentela, não só a sua terra.
13:16 “E farei a tua descendência como o pó da terra; de maneira que se alguém puder contar o pó da terra, também a tua descendência será contada.”
O primeiro tipo de descendência que se fala assemelha-se ao pó da terra, de tão numeroso que é. Isto refere-se à descendência física de Abrão.
13:17 “Levanta-te, percorre essa terra, no seu comprimento e na sua largura; porque a ti a darei.”
A visão celestial expressada numa ação prática, trará finalmente o seu cumprimento ao mundo físico. A fé vem pelo ouvir mas torna-se efetiva pelas obras.
Quarta Leitura: 14:1-20
Quatro reis do oriente, vem fazer guerra para subjugar e recuperar as terras que se tinham rebelado contra eles, e nessas terras encontram-se cinco cidades do território de Sidim, que é a zona do atual Mar Morto. Os cinco reis do território de Sidim saem a enfrentar os quatro reis do oriente, e são derrotados por estes. As duas cidades Sodoma e Gomorra foram sitiadas, e despojadas, e Lot é levado como prisioneiro de guerra com todas as suas posses Quando Abrão percebe que Lot fora levado cativo, junta os seus homens corre atrás dos reis do oriente até ao norte do país. Pela noite, ataca-os, e recupera todos os bens, juntamente com os prisioneiros de guerra, e resgata Lot. No regresso, sai ao seu encontro o rei de Sodoma, que tinha sobrevivido, no vale do rei. Nesse momento surge o rei de Salém, Melquisedeque (Malki-Tsedek), sacerdote do Altíssimo, que oferece pão e vinho a Abrão, abençoando-o.
Segundo os escritos rabínicos, Melquisedeque poderia ser Sem (o filho de Noé), Melquisedeque não seria então o nome, mas sim um título; título esse, que aponta para “rei” e “sacerdote.”
64
Segundo o Salmo 110:4 esse ministério seria dado ao Messias (Hebreus Cap. 5 e 7). Salém, é a única referência direta a Jerusalém na Torá. Vemos que Salém é o mesmo que Sião, como está escrito:
Salmo 76:2 “E em Salém está o seu tabernáculo, e a sua morada em Sião.”
Em Josué 10:1, vemos como na cidade de Jerusalém, havia um rei chamado Adoni-tsedek. Vemos então que cerca de 600 anos depois de Abrão, na conquista da terra, o rei de Jerusalém tinha um título semelhante ao de Malki (Rei) Tsedek (Justiça).
14:18-19 “E Melquisedeque, rei de Salém [Jerusalém], trouxe pão e vinho; e era este sacerdote do Elohim Altíssimo. E abençoou-o, e disse: Bendito seja Abrão pelo Elohim Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra;”
Vemos que Melquisedeque abençoa Abrão. O maior abençoa sempre o menor, logo, percebe-se que Melquisedeque tinha um ministério superior ao de Abrão, até porque as escrituras mencionam que este era sacerdote do Altíssimo.
14:20 “E bendito seja o Elohim Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos. E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo.”
Abrão é o primeiro a ser mencionado pela Torá, como dador do dízimo. Portanto, o princípio de dar o dízimo existia desde a criação do homem. O princípio do dízimo implica trabalhar parte do tempo sem que tenhamos o direito de comer do fruto do trabalho, e esse mesmo princípio está na instrução que YHWH deu a Adão, ele teria que cuidar de todas as árvores do jardim, incluindo a árvore da ciência, mas não poderia comer dessa. Tudo o que nós temos pertence a Elohim. Ele é o dador da vida, e é graças a Ele que podemos trabalhar, como tal, dar um décimo do fruto do nosso trabalho, é uma forma de honrar o Eterno, e reconhecer que tudo o que somos é graças a Ele.
Abrão não só deu o dízimo dos despojos da guerra, como também de tudo aquilo que o Eterno lhe tinha dado.
Quinta Leitura: 14:21 a 15:6
O Rei de Sodoma oferece a Abrão todos os seus bens recuperados, mas Abrão recusa receber seja o que for daquele rei, para que ninguém diga que ele enriquecera por causa daquele rei (14:22-24).
O Eterno aparece em visão a Abrão, e Abrão diz-lhe que devido ao facto de não ter filhos, será o mordomo de sua casa, nascido na sua casa, o seu herdeiro, o damasceno Eliézer. YHWH responde-lhe dizendo:
15:1-4 “Depois destas coisas veio a palavra de YHWH a Abrão em visão, dizendo: Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo, o teu grandíssimo galardão. Então disse Abrão: YHWH Elohim, que me hás-de dar, pois ando sem filhos, e o mordomo da minha casa é o damasceno Eliézer? Disse mais Abrão: Eis que não me tens dado filhos, e eis que um nascido na minha casa será o meu herdeiro. E eis que veio a palavra de YHWH a ele dizendo: Este não será o teu herdeiro; mas aquele que de tuas entranhas sair, este será o teu herdeiro.
Vemos que aqui se fala num herdeiro singular, referência a Isaac, mas também ao Messias, como vemos em Gálatas 3:16: “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é o Messias.”
65
15:5 “Então o levou fora, e disse: Olha agora para os céus, e conta as estrelas, se as podes contar. E disse-lhe: Assim será a tua descendência.”
Aqui fala de uma descendência espiritual. Então vemos que há três tipos de descendências de Abraão; singular (Isaac), física (como o pó da terra) e espiritual (como as estrelas do céu). A alegoria às estrelas do céu, mostra também que, cada descendente de Abrão seria uma luz no mundo, sobre a qual as pessoas das nações atentariam, conforme Zacarias 8:23: “Assim diz YHWH dos Exércitos: Naquele dia sucederá que pegarão dez homens, de todas as línguas das nações, pegarão, sim na orla das vestes de um judeu, dizendo: Iremos convosco, porque temos ouvido que Elohim está convosco.” Ver também Mateus 5:14.
A descendência espiritual seriam as pessoas que, ainda que não fossem descendentes físicos, abraçariam a mesma fé de Abrão, e seriam herdeiros conforme a promessa (Gálatas 3:29). Os enxertados na Oliveira cultivada, cuja raiz é Yeshua.
Os descendentes espirituais, são contados como iguais aos da descendência física, pois a palavra dos manuscritos gregos que é traduzida como semente/descendência em Gálatas 3:29 é sperma, que literalmente significa sémen.
15:6 “E creu ele em YHWH, e imputou-lhe isto por justiça.”
Abrão confiava no Eterno e por isso confiou também nas suas palavras. É impossível crer em YHWH se não se crê na Escritura revelada ou inspirada. A palavra revelada é a base para a fé. Quando YHWH revela a sua palavra, temos a opção de confiar ou não n’Ele.
YHWH não quer autómatos, por isso nos dá o livre arbítrio, pois Ele deseja que as pessoas o amem com todo o seu coração. A fé vem pelo ouvir (Romanos 10:17), isso significa que, se procedemos de acordo com as coisas que nos foram reveladas, temos a capacidade de confiar no Eterno.
“…imputou-lhe isto por justiça.” A palavra traduzida como justiça é tsedakah, e significa solidariedade; justiça; direito; retidão. É a primeira vez que esta palavra aparece na Torá. Também pode ser traduzida como justificação. A expressão tsedakah tem três significados nas Escrituras:
1. Justificação no sentido “declaração de inocência” cf. Génesis 15:6.
2. Aprovação; reconhecimento de retidão; dar a razão, cf. Mateus 11:19; Lucas 7:29.
3. Obra de caridade, cf. Deuteronómio 24:13; Mateus 6:1.
Se não entendermos estes diferentes significados da mesma expressão, não podemos entender a aparente contradição entre Romanos 2:13b e Romanos 3:20a.
Romanos 2:13b diz: “mas os que praticam a lei hão de ser justificados.” Romanos 3:20a diz: “Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei,” (Miqsat Ma'ase Ha-Torah, ou MMT)*
* uma obra ou manuscrito de tradição rabínica que circulava no 1º século, na era Apostólica.
No primeiro caso “justificados” significa “aprovado”, “reconhecidos”; e no segundo caso “justificada” significa “declarado inocente”. A expressão obras da lei não implica o mesmo que cumprir a lei. “Obras da lei” tem a ver com o legalismo como
66
meio de obter a salvação pelos méritos próprios, “cumprir a lei” tem a ver com a obediência por amor ao Eterno, para santificação.
Sexta Leitura: 15:7-17:6
O pacto entre YHWH e Abrão
15:7-8 “Disse-lhe mais: Eu sou YHWH, que te tirei de Ur dos caldeus, para dar-te a ti esta terra, para herdá-la. E disse ele: Elohim YHWH, como saberei que hei-de herdá-la?”
A promessa é reforçada com um pacto, para que se desfaçam todas as dúvidas de Abrão. Abrão receava que a sua descendência viesse a ser pecadora, e que o Eterno lhes retirasse as terras e as bênçãos que lhes prometera.
Mas YHWH prometeu-lhe que ainda que pecassem, providenciar-lhes-ia uma forma de expiar o seu pecado, através do arrependimento, e dos sacrifícios, que seriam uma sombra de um sacrifício futuro perfeito, o do Filho de Elohim, o Messias Yeshua. Vejamos como foi selado o pacto:
15:7-10 “E disse-lhe: Toma-me uma bezerra de três anos, e uma cabra de três anos, e um carneiro de três anos, uma rola e um pombinho, E trouxe-lhe todos estes, e partiu-os pelo meio, e pôs cada parte deles em frente da outra; mas as aves não partiu.”
O facto de Abrão ter partido os animais, e colocar as metades uma em frente à outra, mostra uma forma antiga de celebrar pactos, em que ao fazerem isso, as duas pessoas que celebravam o acordo, passariam entre as metades, e davam uma volta de regresso, em simbolismo do infinito, como celebrando a perpetuidade do pacto cf. Jeremias 34:19. 15:12 “E pondo-se o sol, um profundo sono caiu sobre Abrão; e eis que grande espanto e grande escuridão caiu sobre ele. Esta experiência profética permite-lhe ver toda a calamidade futura dos seus descendentes, a palavra traduzida para o português como espanto, tem mais o sentido de terror, do que espanto em si.
15:13-14 “Então disse a Abrão: Saibas, decerto, que peregrina será a tua descendência em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos, Mas também eu julgarei a nação, à qual ela tem de servir, e depois sairá com grande riqueza. E tu irás a teus pais em paz; em boa velhice serás sepultado. E a quarta geração tornará para cá; porque a medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia. E sucedeu que, posto o sol, houve escuridão, e eis um forno de fumaça, e uma tocha de fogo, que passou por aquelas metades.”
YHWH revela a Abrão através de um sonho, que a sua descendência seria escravizada e afligida por quatrocentos anos. Porquê? Abrão duvidou da palavra de YHWH, quando Este lhe prometeu que herdaria a terra. Abrão duvida dizendo: “como saberei eu que hei-de herdá-la?”
Abrão só acreditaria se fosse selado um pacto, passando entre as metades dos animais. YHWH não é homem para que minta, logo devemos confiar na sua palavra, mas Abrão ainda que amasse a YHWH e vivesse para ele, duvidou. Daí o cativeiro da sua descendência no Egipto.
Abrão adormece antes de firmar o pacto, logo não passa entre as metades. Vemos dois tipos de chama, um forno fumegante, e uma tocha de fogo, a passarem entre as metades. Ainda que Abrão fosse uma bênção para as nações, o sucesso
67
daquele pacto exigia alguém mais confiável, um fiador que não falharia, esse fiador é Yeshua.
Foi Yeshua quem passou juntamente com o Altíssimo entre as metades, pois ele seria o fiador daquela Aliança. E como todo o bom fiador, quando alguém não paga a dívida, é o fiador que assume a culpa. Yeshua pagou pela culpa dos homens, com a sua vida.
Ou seja, Yeshua assume o lugar de Abrão no momento de passar entre as metades juntamente com o espírito do Eterno (o forno de fumaça), Yeshua passa, simbolizado por uma tocha, no lugar de Abrão. Ver Isaías 62:1.
15:18 “Naquele mesmo dia fez YHWH uma aliança com Abrão, dizendo: Å tua descendência tenho dado esta terra, desde o rio do Egipto até ao grande rio Eufrates;” Toda a descendência de Abrão, a física (naturais), e a espiritual (enxertados), herdará a terra entre estes dois rios. A nova Jerusalém que descerá dos céus ocupará todo este território. Todo o mundo será herdado por Abrão e pela sua descendência (Romanos 4:13).
NOTA: Em nenhum lugar das Escrituras vemos que os homens deixarão a terra e herdarão o Céu. O Reino dos Céus descerá (a Nova Jerusalém) para ser implantado na terra. Essa ideia do céu como morada futura, vem da filosofia grega, e não das sagradas Escrituras.
15:19-21 “E o queneu, e o quenezeu, e o cadmoneu, E o heteu, e o perizeu, e os refains, E o amorreu, e o cananeu, e o girgaseu, e o jebuseu.”
Estas dez nações representam todas as nações da terra. Todo o mundo será herdado por Abraão e pelos seus descendentes, como lemos em Romanos 4:13:
“Porque a promessa de que havia de ser herdeiro do mundo não foi feita pela Torá a Abraão, ou à sua posteridade, mas pela justiça da fé.”
Esta promessa teve o seu cumprimento parcial quando os filhos de Israel voltaram do Egipto. Sete destas nações foram entregues aos descendentes de Abraão, mas três delas não lhes foi permitido conquistá-las. Os queneus, quenezeus e os camoneus foram conquistados pelos filhos de Edom, Moab e Amon.
Os filhos de Israel não tiveram permissão do Eterno para conquistar estes três reinos quando saíram do Egipto.
Contudo, no futuro serão ajuntados ao território de Israel, segundo Isaías 11:14: “Antes voarão sobre os ombros dos filisteus ao ocidente; juntos despojarão aos do oriente; em Edom e Moab porão as suas mãos, e os filhos de Amom lhes obedecerão.”
Os territórios mencionados nesta profecia correspondem ao que hoje em dia se chama da faixa de Gaza, Cisjordânia e Jordânia.
16:1-3 “Ora Sarai, mulher de Abrão, não lhe dava filhos, e ele tinha uma serva egípcia, cujo nome era Agar. E disse Sarai a Abrão: Eis que Elohim me tem impedido de dar à luz; toma, pois, a minha serva; porventura terei filhos dela. E ouviu Abrão a voz de Sarai. Assim tomou Sarai, mulher de Abrão, a Agar egípcia, sua serva, e deu-a por mulher a Abrão seu marido, ao fim de dez anos que Abrão habitara na terra de Canaã.”
68
A esposa de Abrão não tinha fé nas Palavras que o Eterno revelara a seu marido, e por isso quis fazer o trabalho que o Eterno ainda não tinha feito. Isso iria trazer mais tarde grandes consequências.
O ser humano tem uma inclinação natural para não entregar as coisas nas mãos de Elohim, e fazer as coisas da forma que lhe parece mais correcta. O que é correcto aos nossos olhos, muitas das vezes não é o que é certo aos olhos de YHWH. (Provérbios 14:12)
Como Sarai não podia ter filhos, ela oferece a Abrão a sua serva egípcia como concubina para que possa ter filhos por intermédio desta (era um costume aceite na antiguidade). Abrão cede à vontade da sua esposa, e Agar é lhe dada como segunda mulher.
16:4-10 “E ele possuiu a Agar, e ela concebeu; e vendo ela que concebera, foi sua senhora desprezada aos seus olhos. Então disse Sarai a Abrão: Meu agravo seja sobre ti; minha serva pus eu em teu regaço; vendo ela agora que concebeu, sou menosprezada aos seus olhos; YHWH julgue entre mim e ti. E disse Abrão a Sarai: Eis que tua serva está na tua mão; faze-lhe o que bom é aos teus olhos. E afligiu-a Sarai, e ela fugiu de sua face. E o anjo de YHWH a achou junto a uma fonte de água no deserto, junto à fonte no caminho de Sur. E disse: Agar, serva de Sarai, donde vens, e para onde vais? E ela disse: Venho fugida da face de Sarai minha senhora. Então lhe disse o anjo de YHWH: Torna-te para tua senhora, e humilha-te debaixo de suas mãos. Disse-lhe mais o anjo de YHWH: Multiplicarei sobremaneira a tua descendência, que não será contada, por numerosa que será.”
Quando Agar engravida, o seu coração enche-se de vaidade, começa a desprezar a sua senhora. Abrão diz a Sarai que a serva é de sua responsabilidade, e que proceda da forma que considera mais correta.
Perante a atitude de Sarai, Agar resolve fugir, e o anjo de YHWH aparece-lhe dizendo que a atitude que esta deverá tomar, é deixar a sua atitude de soberba e humilhar-se perante a sua senhora.
Treze anos mais tarde, YHWH aparece novamente a Abrão, dizendo:
17:1-6 “Eu sou YHWH Todo-Poderoso, anda em minha presença e sê perfeito. E porei a minha aliança entre mim e ti, e te multiplicarei grandissimamente. Então caiu Abrão sobre o seu rosto, e falou YHWH com ele, dizendo: Quanto a mim, eis a minha aliança contigo: serás o pai de muitas nações; E não se chamará mais o teu nome Abrão,
69
mas Abraão será o teu nome; porque por pai de muitas nações te tenho posto; E te farei frutificar grandissimamente, e de ti farei nações, e reis sairão de ti;
O Eterno demonstra a Abrão que a aliança só seria efetivada caso Abrão andasse na presença do Eterno, e fosse perfeito.
Como qualquer concerto/aliança/contrato/acordo, que pressupõe direitos e obrigações de parte a parte, o Pacto estabelecido entre o Eterno e Abrão pressupõe direitos e obrigações. O Eterno cumpriria as suas promessas, mas essas promessas só se tornariam efetivas mediante a obediência de Abraão. A perfeição, em virtude do pecado, é algo inalcançável ao ser-humano. O propósito de perfeição do texto acima, aponta para a integridade e correção. Andar no caminho traçado por YHWH, andar sob a sua instrução.
O nome de Abrão é alterado para Abraão, uma vez que Abrão significa “Pai Enaltecido”, e Abraão significa “pai de nações”, ou seja, ele não só seria um Pai enaltecido, como seria também o pai de uma multidão de nações.
Sétima Leitura: 17:7-27
17:7 “E estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência depois de ti em suas gerações, por aliança perpétua, para te ser a ti por Elohim, e à tua descendência depois de ti.”
Este pacto consiste no facto do Eterno ser o Elohim de Abraão e da sua descendência para sempre. Isto implica que haveria sempre uma parte da descendência de Abraão que nunca deixaria de ter uma relação de pacto com o Eterno,
17:8 “E te darei a ti e à tua descendência depois de ti, a terra de tuas peregrinações, toda a terra de Canaã em perpétua possessão e ser-lhes-ei o seu Elohim.” Este pacto baseia-se em três pilares fundamentais: o povo (Israel); a terra de Canaã e Elohim.
17:9-14 “Disse mais Elohim a Abraão: Tu, porém, guardarás a minha aliança, tu, e a tua descendência depois de ti, nas suas gerações. Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós, e a tua descendência depois de ti: Que todo o homem entre vós será circuncidado. E circuncidareis a carne do vosso prepúcio; e isto será por sinal da aliança entre mim e vós. O filho de oito dias, pois, será circuncidado, todo o homem nas vossas gerações; o nascido na casa, e o comprado por dinheiro a qualquer estrangeiro, que não for da tua descendência. Com efeito será circuncidado o nascido em tua casa, e o comprado por teu dinheiro; e estará a minha aliança na vossa carne por aliança perpétua. E o homem incircunciso, cuja carne do prepúcio não estiver circuncidada, aquela alma será extirpada do seu povo; quebrou a minha aliança.”
Aqui é estabelecido o selo do pacto, a circuncisão. A circuncisão tem vários significados: O pacto entre Abraão (e a sua descendência) e YHWH para sempre. A justificação pela fé que Abraão tinha como incircunciso; Romanos 4:11. Que o descendente, o Messias teria que nascer desse povo; Romanos 15:8. O símbolo físico de uma circuncisão mais profunda (a do coração); Deuteronómio 10:16; 30:6; Colossenses 2:11.
70
17:15-16 “Disse Elohim mais a Abraão: A Sarai tua mulher não chamarás mais pelo nome de Sarai, mas Sara será o seu nome. Porque eu a hei-de abençoar, e te darei dela um filho; e a abençoarei, e será mãe das nações; reis de povos sairão dela.”
Sarai significa “minha princesa”, limitando a sua influência só ao seu marido, Sara significa apenas “princesa”, sendo uma princesa não só para o seu marido, mas para as nações.
17:21 “A minha aliança, porém, estabelecerei com Isaque, o qual Sara dará à luz neste tempo determinado, no ano seguinte.”
O pacto da circuncisão não foi estabelecido em Ismael (o povo árabe), mas sim com Isaque, e a sua descendência (Israel). Ismael foi abençoado e recebeu muitas terras, mas a terra da promessa não lhe pertence.
No tempo determinado, em hebraico é “moed”, a mesma palavra usada como referência às Solenidades do Eterno de Levítico 23. Assim percebemos que Isaque nasceu numa das Solenidades apontadas por YHWH. Veremos isso mais tarde.
Abraão foi circuncidado com 99 anos como nos mostra o vs. 24. Em Romanos 4:11-12 temos:
“E recebeu o sinal da circuncisão, selo da justiça da fé, quando estava na incircuncisão, para que fosse pai de todos os que crêem, estando eles também na incircuncisão; a fim de que também a justiça lhes seja imputada; E fosse pai da circuncisão, daqueles que não somente são da circuncisão, mas que também andam nas pisadas daquela fé que teve nosso pai Abraão, que tivera na incircuncisão.”
Abraão viveu até aos 175 anos de idade. Por isso, vemos que passou 99 anos da sua vida incircunciso e 76 anos da sua vida circuncidado. Isto parece apontar que no final, serão contados entre os escolhidos mais gente das nações, do que circuncisos (Israelitas naturais), o que faz sentido, na medida em que as 10 tribos perdidas, esqueceram a sua identidade, e estão misturadas entre as nações.
..........................................
71
............................................... Resumo da Parashá A Parashá Lech Lechá inicia-se com o chamado de D'us a Avraham, para que deixasse sua terra de origem e a casa de seu pai, sua posição de status e prosperidade, e viajasse à terra que Ele lhe mostraria. Na chegada, com sua esposa Sara e o sobrinho Lot, na terra de Israel, eles descobrem que a terra foi assolada por uma terrível escassez e por esta razão vão ao Egito para uma breve estadia. Os egípcios imediatamente capturam Sara, a quem Avraham havia identificado como sua irmã, e a levam ao Rei Egípcio. D'us reage afligindo o rei e sua família com uma peste debilitante até que a liberte, quando então eles retornam à terra de Israel. Os pastores de Avraham e Lot começaram a brigar e os dois decidem se separar, com Lot escolhendo as férteis planícies de Sodoma como sua porção. A Torá então descreve a guerra infame entre os quatro reis e os cinco reis, durante a qual Lot é feito prisioneiro. A reação de Avraham o faz derrotar miraculosamente os quatro reis previamente vitoriosos e salvar seu sobrinho e se recusa a ficar com as honrarias ou os despojos de guerra para si. D'us reafirma a Avraham que Ele está a seu lado, e promete que seus descendentes serão tantos que serão incontáveis como as estrelas no céu. O Criador então entra na simbólica Aliança Entre as Partes, com Avraham, prometendo que seus filhos herdarão a terra de Israel, mas não antes de serem exilados numa longa servidão. Como não tem filhos, Sara dá sua serva Hagar a Avraham como esposa, e nasce seu filho Ishmael. Avraham tinha 86 anos. Treze anos depois, D'us muda o nome de Avram (Abrão) para Avraham (“pai das multidões”), e o de Sarai para Sara (“princesa”). D’us promete que um filho nascerá para eles; a partir dessa criança, que eles deverão chamar de Yitschac (“dará risada”), brotará uma grande nação com a qual D’us estabelecerá um vínculo especial. Abraham é ordenado a circuncidar a si mesmo e aos seus descendentes como um “sinal do pacto entre Mim e vocês.”, aos 99 anos.
72 D'us Ordena a Avram para Viajar para Terra de Canaã Enquanto Avram e sua mulher Sarai moraram em Charan, ensinaram aos outros sobre D'us. Avram educou os homens, e Sarai as mulheres, para acreditarem no único D'us que criou o Céu e a Terra. D'us viu que não havia nenhum tsadic (justo) igual a Avram. Por isso Ele decidiu fazer de Avram o pai de uma nação sagrada, o povo de Israel. Ele disse para Avram, "Não é correto para você viver nesta terra ímpia, junto com seu pai e sua família que veneram ídolos. "Saia daí e vá para a terra que Eu vou lhe mostrar." Porque D'us não contou a Avram o nome da terra para a qual Ele queria que Avram fosse - Canaã (que é um outro nome para a Terra de Israel)? D'us estava testando Avram. Será que ele ouviria D'us e iria para um lugar que nem sequer conhecia? D'us também não queria que o pai de Avram, Têrach, fosse junto com ele. Têrach poderia estar interessado em se estabelecer na Terra de Israel junto com o filho. Mas como Avram não sabia para onde estava se dirigindo, disse a seu pai: " D'us pode me ordenar viajar até o fim do mundo!" Quando Têrach ouviu isso, preferiu ficar em Charan. Avram disse a sua mulher, Sarai, "Não vamos nos atrasar nem um dia. Partiremos imediatamente." Avram levou junto seu sobrinho Lot, irmão de Sarai, que era órfão, e tinha sido criado por eles. Muitas das pessoas a quem Avram e Sarai tinham ensinado a acreditar em D'us também decidiram acompanhá-los em sua jornada. D'us enviou nuvens na frente de Avram e sua família para lhes indicar o caminho pelo qual Ele queria que seguissem. Avram viaja de Canaã até o Egito
73 Pouco depois que Avram, Sarai e sua família chegaram a Canaã, a chuva parou de cair. As plantas deixaram de crescer. Logo não havia mais frutas, vegetais, nem grãos. As pessoas ficaram cada vez mais famintas. D'us provocou essa situação para submeter Avram a um novo teste. Será que ele agora iria se queixar: "Não é justo! Primeiro D'us me mandou para Canaã e agora não tenho nada para comer aqui!"? Mas Avram nunca se queixou. Estava convencido de que tudo que D'us faz tem uma boa razão. Avram disse para Sarai, "Vamos para o Egito. O Egito possui muita comida. Mesmo que não chova, o rio Nilo irriga a terra". Mas alguma coisa estava incomodando Avram. Ele disse, "Não me sinto bem em ir ao Egito. Geralmente, nós é que convidamos as pessoas para casa, e lhes oferecemos uma refeição. Quando querem nos agradecer explicamos que é D'us quem alimenta a todos. Assim transmitimos ensinamentos às pessoas. Mas o Egito é um país muito rico. As pessoas não necessitarão da nossa comida. Tenho medo de que não vamos poder ensinar a outros sobre D'us." Contudo, Avram não tinha outra escolha a não ser ir para o Egito. Quando Avram, Sarai e Lot se aproximaram da fronteira do Egito, Avram disse: "Os egípcios são pessoas perversas. Quando vêem uma mulher casada bonita, matam o marido e ficam com a mulher. "Sarai, por favor, diga a todos que você é minha irmã. Então não me matarão. Isso não é uma mentira, porque você é neta do meu pai e uma neta é considerada uma filha." Como precaução adicional, Avram escondeu Sarai numa caixa grande. Esperava que ela não fosse descoberta. Mas os oficiais reais da alfândega abriram a caixa e acharam Sarai. Mandaram a seguinte mensagem ao Rei Faraó. "Chegou aqui uma mulher bonita junto com o irmão." Faraó mandou seus soldados para trazer Sarai para sua corte. Faraó disse para Sarai: "Você tem que se tornar minha mulher." Ao "irmão" de Sarai, Avram, Faraó deu muitos presentes para que ele concordasse que Faraó ficasse com Sarai. Sarai disse para Faraó, "Sou uma mulher casada! Você não pode me segurar no palácio. Devolva-me para Avram." Mas Faraó não lhe deu ouvidos.
74 Sarai estava amedrontada e rezou a D'us para que a ajudasse. D'us mandou um anjo para cuidar de Sarai e protegê-la. Cada vez que Sarai ordenava ao anjo: "Golpeie Faraó", o anjo castigava Faraó. Faraó foi atacado com dez pragas diferentes. D'us também puniu a família de Faraó com pragas. (Da mesma forma, D'us puniria mais tarde o Faraó que afligiu os israelitas com dez pragas.) Faraó sofreu terrivelmente com as pragas. Percebeu, então que Sarai era uma mulher muito justa e íntegra, uma tsadeket, que estava sob a proteção de D'us. Enviou uma mensagem para Avram: "É tudo culpa sua! Porque não me disseste que esta mulher é casada com você? Agora pegue-a e deixe este país imediatamente, antes que outra pessoa tente fazer-lhe mal." Faraó estava tão assombrado pela grandeza de Avram e Sarai que mandou com eles, sua filha, a princesa Hagar, para servir Sarai e aprender o seu modo de vida. Faraó deu para Avram e Sarai presentes valiosos. Mandou também soldados para acompanhá-los de volta à fronteira do Egito. Isso era inédito! Os egípcios mal podiam acreditar. O seu rei efetivamente havia libertado uma mulher que queria para si e não matou o marido! Isso nunca tinha acontecido antes. Agora todos compreenderam que Avram era um grande tsadic e Sarai uma tsadeket. D'us os protegeu. Ninguém, nem mesmo um rei podia fazer-lhes mal. D'us fez com que todo esse episódio ocorresse para que Avram e Sarai ficassem famosos como amigos especiais de D'us. A viagem de Avram e Sarai ao Egito também fez com que Hagar se unisse a eles. Avram se Separa de Lot Avram se Separa de Lot Avram era um homem muito rico porque D'us o abençoou. Tinha muitos bois e ovelhas, ouro e prata. O sobrinho de Avram, Lot, que viajou com ele, também tinha grandes riquezas, não porque fosse um tsadic, mas porque estava junto com o tsadic Avram.
75 Então surgiu uma briga entre os pastores de Avram e os pastores de Lot. Avram costumava ordenar a seus pastores, "Nunca deixem meus animais entrar nos campos de outros. Se meus animais pastarem nesses campos, estarei roubando o pasto de outras pessoas. Mesmo que D'us tenha prometido que toda Terra de Canaã pertencerá um dia aos meus filhos, ainda não é minha." Os pastores de Avram punham focinheiras nos animais cada vez que passavam diante dos campos que não lhe pertenciam. Ordenaram aos pastores de Lot que fizessem o mesmo. Mas estes não puseram focinheiras nos seus animais. Afirmavam, "Em breve, a terra vai pertencer a Lot, visto que Avram não tem filho." E assim eles permitiam que os animais de Lot comessem nos campos de outras pessoas. Os pastores de Avram insistiam em argumentar com eles que estavam errados, e os pastores de Lot, por sua vez, os contradiziam. Avram disse a Lot, "Não é bom que briguemos. As pessoas vão dizer, 'Avram e Lot são parentes e não vivem em paz.' "Por isso é melhor nos separarmos. Você pode escolher se quer se estabelecer ao sul ou ao norte da terra. Se você for para o norte, irei para o sul, e se você for para o sul, irei para o norte. Não precisa se preocupar de que estarei muito longe para ajudar, se precisar de mim. Vou estar perto o suficiente para vir em seu auxílio." Lot decidiu se estabelecer na cidade de Sodoma (Sedom). Sodoma e as quatro cidades vizinhas estavam localizadas às margens de rios; seu solo estava por isso bem irrigado. E havia ali ótimas terras de pasto para o gado de Lot. A decisão de Lot foi um erro, porque os habitantes de Sodoma eram os piores de toda Terra de Canaã. Eram ladrões e assassinos. Naqueles tempos, o pior insulto que você podia fazer a alguém era chamá-lo de sodomita! Lot cometeu dois erros: 1. Separou-se do tsadic Avram. 2. Estabeleceu-se entre perversos. Lot deixou de ver o mau caráter dos sodomitas porque esperava enriquecer em Sodoma. Mas no final ele saiu arruinado, como veremos na próxima porção da Torá. O que podemos aprender de Lot?
76 Nossos Sábios nos dizem (Ética dos Pais 1:7) "Afaste-se de um mau vizinho e não se associe com um perverso". Somos aconselhados a nos unir a amigos que nos incentivam a ser bons e praticar o bem. E precisamos nos afastar daqueles que nos influenciam a agir erradamente. Avram Vence uma Guerra Contra Quatro Reis Era a época de Pêssach e Avram estava ocupado assando matsot. (Apesar da Torá ter sido dada só depois da época de Avram, Avram mantinha todas as mitsvot da Torá). De repente ele viu um gigante aproximando-se de sua tenda. Era Og, o único gigante que ainda estava vivo desde antes do dilúvio. Og contou a Avram: "Venho direto do campo de batalha. Deixe-me relatar o que aconteceu. O rei de Sodoma e outros quatro reis se revoltaram contra o poderoso Rei Kedarlaomer, depois de o terem servido por doze anos. Kedarlaomer chamou outros três reis para ajudá-lo na guerra contra os cinco reis rebeldes. Kedarlaomer e seus três aliados ganharam a guerra. Capturaram todo o povo de Sodoma como prisioneiros e o seu sobrinho Lot se encontra entre eles. Em seguida, Kedarlaomer e suas tropas marcharam para o norte." O gigante Og pensou, "Quero que Avram tente salvar seu sobrinho Lot dos quatro reis. Os quatro reis certamente vão matar Avram na batalha. Então pegarei para mim sua mulher, Sarai." Avram pensou, "Lot está em apuros. Vou preparar uma enorme soma de dinheiro. Talvez eu possa resgatá-lo. Se não, lutarei para libertá-lo." Avram reuniu seus alunos e servos. Juntos eram trezentos e dezoito pessoas. Ele anunciou, "Estou indo para ajudar Lot, que está em cativeiro. Quem não tem medo, que me siga." Avram tinha três alunos que eram príncipes emoritas - Aner, Eshcol e Mamrê. Eles se ofereceram, "Nós vamos proteger seus bens enquanto você está fora." Os quatro reis já tinham viajado para o norte, até a Síria, mas D'us milagrosamente encurtou o caminho para Avram e seus homens.
77 O exército de Kedarlaomer era imenso, milhares e milhares de soldados. Avram não se atreveria a atacá-los, mas quando olhou para cima, viu a Shechiná (Divindade) e as Hostes Celestiais ao seu lado, pronto para ajudá-lo. Com a ajuda de D'us, Avram, seu servo Eliêzer e o restante de seus homens, obtiveram uma vitória milagrosa sobre os quatro poderosos reis e seus exércitos. Avram libertou Lot e todos os prisioneiros. Entre os reis inimigos a quem Avram matou estava também Nimrod, que tinha jogado Avram no forno. Shem, também chamado Malki Tsêdec, dá as boas vindas a Avram. Avram se recusa a pegar qualquer objeto dos despojos da guerra O filho de Nôach (Noé), Shem, ainda vivia. Era um tsadic que sempre serviu a D'us. Ele se mudou para Yerushaláyim (Jerusalém, que naquele tempo se chamava Shalem) e lá, regularmente, oferecia sacrifícios a D'us. Era conhecido como "Malki Tsêdec", que quer dizer "rei justo" e também quer dizer "rei da cidade da justiça." Malki Tsêdec ficou sabendo a respeito da milagrosa vitória de Avram sobre os quatro reis. E quando Avram voltava da guerra e se aproximava de Yerushaláyim, Malki Tsêdec saiu para receber Avram e louvar a D'us. Trazia consigo pão e vinho para alimentar os homens cansados e famintos. O rei de Sodoma também saiu ao encontro de Avram. Disse para Avram, "Todo nosso dinheiro que você recuperou dos inimigos pertence a você. Por favor, devolva-me apenas os prisioneiros que você libertou!" Avram ergueu sua mão para D'us e exclamou, "Juro que não tocarei em nenhuma parte do despojo desta guerra! D'us prometeu me abençoar com riquezas e já cumpriu Sua promessa. Possuo muito gado, ouro e prata. Se eu pegar seu dinheiro, você pensará "Eu enriqueci Avram." Um décimo do dinheiro dei para Malki Tsêdec que é o cohen (sacerdote) de D'us. Outro décimo darei aos homens que me ajudaram e também para Aner, Eshcol e Mamrê, que cuidaram dos meus pertences. Para mim não quero nada dos seus haveres, nem mesmo um fio ou cordão de sapato." O Midrash explica: D'us recompensa Avram
78 D'us disse, "Avram, todos os despojos da guerra na verdade pertenciam a você. Mas você está satisfeito com o que já tem. Hei de recompensá-lo. Você disse, "Não quero nada nem um fio ou um cordão de sapato." Como recompensa, darei aos seus descendentes a mitsvá (preceito) de tsitsit, que tem quatro [duplos] fios em cada canto. Por suas palavras, "Nem um cordão de sapato", vou recompensá-los com a mitsvá de chalitsá, pela qual a mulher tem que abrir o cordão do sapato do seu cunhado." Vemos que Avram não perdeu nada quando recusou o dinheiro que o rei de Sodoma lhe ofereceu. D'us recompensou seus descendentes com duas mitsvot. Além disso, mais tarde, D'us conferiu a Avram grandes bênçãos. D'us Promete a Avram Descendentes Tão Numerosos Quanto as Estrelas Depois de ganhar a guerra contra os quatro reis, Avram estava preocupado, "Talvez os amigos desses poderosos reis vão se unir contra mim e me atacar?" Mas D'us lhe assegurou, "Avram, mesmo que todos seus inimigos se unam contra você, Hei de protegê-lo." Avram também se preocupou pelo seguinte, "Talvez já tenha usado toda a recompensa que me estava reservada para olam habá (mundo vindouro), porque D'us realizou para mim milagres tão grandes." D'us lhe assegurou, "Ainda tens uma grande recompensa no olam habá." Avram então rezou, "D'us, foste tão bondoso em fazer milagres para mim durante a guerra. Sei que me reservaste ainda mais bênçãos. Mas, para que me servem? Não tenho um filho que possa continuar a ensinar as pessoas sobre Ti depois que eu morrer. Em vez disso, meu servo Eliêzer ficará como líder." "Não temas" D'us consolou a Avram. "Terás um filho." D'us conduziu Avram para fora da tenda. "Olhe para o firmamento," ordenou Ele. Avram viu uma grande estrela brilhar no firmamento. "Esta estrela representa você," disse-lhe D'us. "Você é como uma grande estrela que ilumina o mundo. Agora olhe de novo!"
79 Avram viu duas estrelas. "Estas duas estrelas são você e seu filho," disse-lhe D'us. Então Avram viu aparecer três estrelas. "Elas representam você, seu filho e seu neto," disse D'us. Quando Avram olhou de novo para o firmamento, havia lá doze estrelas. "Haverá doze tribos," explicou-lhe D'us. De repente havia setenta estrelas. "Você terá setenta descendentes indo para o Egito," predisse D'us. Logo, todo o firmamento se cobriu de estrelas de um extremo ao outro. "Tão numerosos serão os seus descendentes!" Prometeu D'us para Avram. "Serão demais para poder contar." Berit Ben Habetarim: D'us promete a Avram que seus filhos herdarão Canaã D'us também prometeu a Avram, "Seus filhos herdarão a Terra de Canaã (Terra de Israel)!" "Por favor D'us," pediu Avram, "Dê-me um sinal de que isto se concretizará realmente". D'us respondeu, "Farei um acordo contigo como sinal." Naqueles tempos as pessoas selavam um pacto, cortando animais em pedaços e andando entre eles. (Esse era uma maneira de dizer, "Se eu não cumprir a minha parte do acordo, mereço ser cortado em pedaços como estes animais.") D'us ordenou a Avram, "Pegue três bezerros, três cabras, três carneiros, um pombo e uma pomba." Avram assim o fez. Então ele cortou os animais em dois, exceto os pássaros que D'us lhe disse para não cortar. Avram arrumou os pedaços em duas filas. Quando eles foram estendidos, poderosas aves de rapina se precipitaram do céu para baixo para devorá-los. Avram os enxotou. Esse foi um sinal: No futuro, os idólatras - que são comparados a aves de rapina - tentarão destruir os descendentes de Avram, o povo judeu. Mas D'us salvará os judeus pelo mérito de seu antepassado Avram.
80 Então D'us fez Avram cair num sono profundo e lhe mandou um sonho profético. Avram sentiu um grande temor e uma escuridão o envolveu. Isso era um sinal de que os seus descendentes, os judeus, passariam por dificuldades. D'us predisse a Avram, "Saiba que os seus descendentes não virão para Terra de Israel imediatamente. Primeiro, vou exilá-los em terras estranhas por muitos anos. Tornar-se-ão escravos [no Egito] e serão afligidos. Então, castigarei aqueles que os oprimiram [D'us aludiu às muitas pragas que mandaria contra o Egito], e os judeus partirão com uma grande fortuna. Finalmente, voltarão a Canaã. Expulsarão de Canaã as nações que ali viviam e herdarão a terra." Enquanto Avram sonhava tudo isso, o sol se pôs. D'us fez descer uma espessa escuridão. Avram viu um forno fumegante e uma chama ardente passar entre os pedaços dos animais. O forno fumegante e a chama ardente eram os mensageiros de D'us. Quando eles passaram entre os pedaços era como se D'us, Ele Mesmo, estivesse andando entre eles e, desta maneira, selava um acordo com Avram. O forno fumegante também era um sinal de que todas as nações que fossem afligir os judeus seriam atiradas por D'us em um forno ardente no Guehinom (inferno). Assim, D'us fez um pacto com Avram prometendo-lhe que seus filhos herdariam a Terra de Israel. Esse acordo é conhecido como Berit ben Habetarim, o Acordo entre os Pedaços (dos animais). Avram Casa com Hagar que Dá a Luz a Yishmael Sarai não teve filhos em todos os anos do seu casamento com Avram. Ela disse, então, para Avram, "Case com minha criada Hagar. Talvez D'us se apiede de mim porque deixei você casar com outra mulher, e me dará um filho." Hagar não foi sempre uma serva. Ela era, na verdade, uma princesa egípcia. Mas quando seu pai Faraó viu os grandes milagres que D'us realizou para Avram e Sarai, disse, "É melhor para minha filha ser uma serva desses grandes tsadikim que ser princesa no Egito." Quando Hagar servia a Sarai, esta ensinou-lhe como servir a D'us.
81 Avram sabia que Sarai falou com ruach hacôdesh (inspiração Divina). Respondeu-lhe, "Vou te ouvir e casar com Hagar." Depois que Hagar casou com Avram e esperava um filho dele, ficou orgulhosa. Quando Hagar falava com os outros, insultava Sarai zombando dela, "Sarai não é na realidade uma tsadeket! Se assim fosse, porque D'us não lhe deu filhos?" Sarai puniu Hagar por palavras tão arrogantes. Fez Hagar trabalhar pesado. Por isso Hagar fugiu para longe de Sarai, em direção ao deserto. Mas D'us mandou um anjo para ordenar a Hagar, "Volte para Sarai e a obedeça! D'us ouviu que você está infeliz e vai dar-lhe um filho. Chame-o Yishmael (Ismael). Ele vai ser um homem selvagem que viverá no deserto, e será o pai de uma grande nação." Hagar agradeceu a D'us, "Abençoado Sejas, D'us, que viu minha desventura." E voltou para a tenda de Avram. Ela deu à luz um filho, a quem Avram chamou Yishmael. Ele se tornou o antepassado de todas as nações árabes. D'us Ordena Avram Sobre a Circuncisão D'us Ordena Avram Sobre a Circuncisão Compartilhe Imprimir E-mail Opine (0) Quando Avram tinha noventa e nove anos, D'us lhe disse, "Avram, Eu quero que você tenha uma milá (circuncisão), isso vai ser um sinal no seu corpo de que você Me serve." "De agora em diante, seus descendentes, os judeus, vão fazer a milá nos seus filhos quando seus filhos tiverem oito dias." Qual é a diferença entre a mitsvá da milá e as outras mitsvot? Outras mitsvot, tais como tsitsit ou tefilin, são cumpridas em determinadas ocasiões. Mas a mitsvá de milá permanece com a pessoa dia e noite e por toda a vida; nunca pode renunciar a ela.
82 D'us anunciou a Avram, "Você não será mais chamado de Avram mas sim, Avraham. Avram quer dizer que você é o pai de Aram, o lugar onde nasceu. Agora Eu o transformo em Avraham, que quer dizer o pai de muitas nações. "O nome de Sarai também será mudado. De agora em diante ela será chamada Sara, que significa rainha sobre o mundo todo. Assim como você é um rei sobre o mundo, assim ela é uma rainha sobre o mundo. Apesar dela ser muito idosa para conceber, dará a luz um filho quando tiver o seu novo nome, Sara". Avraham irrompeu num riso de felicidade quando ouviu as boas notícias. D'us falou para Avraham, "Chamará seu filho de Yitschac (Isaac) porque você riu e se alegrou. Todos também rirão e se alegrarão com o seu nascimento." Avraham não demorou para cumprir a mitsvá. No mesmo dia em que D'us falou com ele, fez a milá nele mesmo. Nesse mesmo dia, também fez a milá em Yishmael e nos trezentos e dezoito membros da sua casa. Essa foi uma tarefa monumental para executar em um dia, D'us deu a Avraham forças para realizá-la. Uma história: Como o pai de Rabi Yehudá Hanassi estava disposto a sacrificar sua vida pela mitsvá da milá Certa vez o governo Romano decretou, "Nenhum pai judeu pode fazer a milá em seu filho." Naquele tempo nasceu um menininho na Terra de Israel. Foi chamado Yehudá. Seu pai era um dos líderes do povo judeu. O pai disse, "D'us nos ordenou a fazer o berit milá. O cruel imperador romano nos ordenou o contrário. A quem hei de obedecer, a D'us ou ao imperador? Eu não desobedecerei à ordem de D'us por causa do imperador!" Oito dias depois do nascimento do seu menino, o pai circuncidou-o secretamente. Mas o segredo não foi guardado por todos. Algumas pessoas o passaram ao governador da cidade. Ele chamou o pai de Yehudá e o repreendeu severamente, "Ouvi falar que você circuncidou seu filho. Como ousa desobedecer a ordem do imperador?" O pai de Yehudá respondeu, "Faço o que D'us nos ordena!"
83 O governador disse, "Sei que você é um homem importante, um líder do povo judeu. Porém, nem mesmo você pode desobedecer o imperador. Será castigado." "Qual será meu castigo?" - perguntou o pai de Yehudá. "Isso não compete a mim decidir," respondeu o governador. Viajarei até o imperador em Roma e lhe comunicarei seu comportamento. Você, sua mulher e seu filhinho também deverão ir para serem julgados." Com os corações pesados os pais de Yehudá se puseram a caminho com o bebê. Eles rezaram a D'us para que o imperador poupasse suas vidas. Na noite antes de chegarem a Roma, alojaram-se numa hospedaria não-judia. A mulher do hospedeiro acabara de dar a luz. Ela iniciou uma conversa com a mãe de Yehudá. "Porque você não está feliz com o seu novo bebê?" - perguntou-lhe ela. "Vejo que suspira e tem o semblante triste o tempo todo!" "Temos muito medo", explicou a mãe de Yehudá. "O imperador pode nos matar porque circuncidamos nosso bebê apesar de sua proibição." A mulher do hospedeiro era uma mulher muito boa. Fez um sinal para a mãe de Yehudá acompanhá-la até um aposento onde ninguém podia ouvi-las. Lá ela sussurou para ela, "Vamos trocar os bebês. Pode mostrar o meu para o imperador. O meu bebê não é circuncidado." A mãe de Yehudá concordou e levou o bebê não-judeu para o palácio. Quando o bebê ficou com fome no caminho, a mãe de Yehudá o amamentou. O governador estava no palácio do imperador. Ele explicou ao imperador, "Aqui está o judeu que desobedeceu tuas ordens, Majestade! Circuncidou seu filho". O imperador ficou furioso. "Entregue a criança aos meus servos", ordenou. O bebê foi examinado, porém para a grande surpresa de todos, não tinha milá! O governador que havia acusado os pais de Yehudá quase desmaiou. "Juro que este menino estava circuncidado, Majestade!", exclamou. "Deve ser um milagre. O D'us dos judeus faz milagres por eles quando rezam!"
84 O imperador estava muito irado com o governador, que o havia exposto ao ridículo perante toda corte. "Cortarei sua cabeça por dizer mentiras!", gritou. "E em relação aos judeus, deixá-los-ei circuncidar seus filhos se assim desejam! Meu decreto está abolido." Cheios de gratidão a D'us, os pais de Yehudá saíram do palácio. Na hospedaria, trocaram os bebês com a esposa do hospedeiro. Esta disse à mãe de Yehudá: "Quero que nossos filhos sejam amigos quando crescerem, pois D'us realizou um milagre através do meu filho". Quando cresceu, Yehudá se tornou o santo Rabi Yehudá Hanassi, presidente do San'hedrin (Corte Suprema), e compilador da Mishná. E o filho do hospedeiro? Por ter sido alimentado com o leite da mãe de Rabi Yehudá, D'us lhe concedeu grandeza neste mundo e no mundo vindouro. Mais tarde, veio a ser o imperador romano Antônio, um bom amigo de Rabi Yehudá e protetor dos judeus. Da mesma forma que o pai de Rabi Yehudá agiu, muitos judeus nas gerações posteriores arriscaram a vida para fazer milá nos seus filhos. Na época dos Chashmonaim (Macabeus, quando ocorreu o milagre de Chanucá) os gregos proibiram o berit milá. Matavam as mães cujos filhos eram circuncidados. Mesmo assim, muitos pais judeus continuaram a circuncidar seus filhos. Nos tempos atuais, a milá era proibida na União Soviética, e realizada secretamente. Nosso povo esteve e está sempre disposto a arriscar a vida para cumprir as mitsvot de D'us. Reflexão sobre Lech Lechá A Grande Mudança por Rabi Norman Schloss A Parashá Lech Lechá começa com o primeiro dos dez testes ou provações a que Avraham foi submetido por D'us. A porção inicia-se: "Lech Lechá – vá por si mesmo, de sua terra e de seu local de origem, da casa de seu pai para a terra que Eu te mostrarei". D'us pede a Avraham que deposite sua confiança n'Ele apenas pela fé e a segui-Lo a uma terra desconhecida. Para que não haja mal-entendidos, Hashem delineia claramente os
85 parâmetros para Avraham – este deve deixar sua casa e seu local de origem. A Torá nos diz que Avraham cumpre os desejos de Hashem. Entretanto, a Torá declara em seguida: "Avraham pegou sua esposa Sarah e seu sobrinho Lot, toda a riqueza que haviam acumulado, e as almas que eles criaram em Charam." Se a Torá nos diz que Avraham fez tudo aquilo que Hashem lhe ordenou, por que repetir aquele fato outra vez? Rabi Aharon Wolkin sugere a seguinte resposta: Existem muitas razões pelas quais a pessoa poderia escolher mudar-se de um local para outro. Às vezes a pessoa poderia fazê-lo por razões familiares. Muitas vezes, a pessoa muda-se por motivos financeiros ou porque a vizinhança não é mais segura ou decente. A Torá nos diz que estes não foram fatores no caso de Avraham. Aqui não era o caso de razões familiares. Se ele estava se mudando, sua esposa e sobrinho o acompanhariam; eram seus entes queridos. Não foi por motivos financeiros, pois levou sua fortuna com ele. Quanto a Avraham ter-se mudado por causa da possível má influência da vizinhança, a Torá declara que muitas pessoas juntaram-se a ele. Em outras palavras, a Torá está nos informando da grandeza de Avraham – que ele mudou-se apenas para cumprir os desejos de Hashem. Há um outro local na Torá onde a frase especial que introduz este teste "lech lecha – vá por si mesmo", é usada. É a respeito da última provação que Avraham deve enfrentar, a akeidá, ao final da porção da próxima semana. D’us ordena: "Por favor, pegue seu filho, o único, a quem você ama – Yitschac – e (lech lecha) vá por si mesmo à terra de Moriá" (Bereshit 22:2). Sem nenhuma pergunta ou hesitação, Avraham segue a ordem de D’us completa e fielmente, jamais demonstrando qualquer mudança de atitude. À primeira vista, parece que o primeiro teste e o último são o mesmo. Há alguma diferença entre lech lecha na porção desta semana e de lech lecha da akeidá? Rav Reisha oferece uma brilhante explicação. Na porção desta semana vemos como Avraham se relaciona com a vontade e ordem de Hashem. Na porção da próxima semana veremos como Avraham transmitiu esta lição a seu filho. A vida de Avraham tem pouco significado, até que ele constate que a mesma devoção que tem por D’us está também presente em seu filho Yitschac. Eis por que o primeiro e o último teste parecem similares. Avraham percorreu um círculo completo a serviço de D’us. Este é o legado e a herança que são nossas quando dizemos que somos "filhos de Avraham" em nossa constância em cumprir as mitsvot de Hashem, a despeito das circunstâncias ou do local onde epossamos nos encontrar.
86 Que todos nós possamos ser chamados e lembrados como Bnei Avraham, filhos de Avraham. ..................................................
13 – Mussaf (Oração e cantos finais)
Ainda de pé, todos oferecem á D’s uma oração silenciosa na qual externam os pedidos, pensamentos e necessidades de seu coração. Após um período de oração silenciosa, o chazan ou um convidado especial oferece uma oração audível, a qual deve se iniciar com as palavras abaixo:
Santo, Santo, Santo, Senhor dos Exércitos. Toda a terra está cheia da Sua glória. Bendita é a Tua glória desde o lugar da Tua habitação. Tu que era, que és e que hás de vir..
Em kHelohênu, em kAdonenu, em keMalkênu, em keMoshienu
Mi kElohênu, mi kAdonenu, mi keMalkênu, mi keMoshienu
Nodê l’Elohênu, nodê l’Adonenu, nodê leMalkênu, nodê leMoshiênu
Baruch Elohênu, Baruch Adonênu, Baruch Malkênu, Baruch Moshiênu
Atá Hu Elohênu, Atá Hu Adonênu, Atá Hu Malkênu, Atá Hu Moshiênu.
Não há´como o nosso D’us! Não há como o nosso Senhor! Não há como o nosso Rei! Não há como o nosso Salvador”
Quem é como o nosso D’s? Quem é como o nosso Senhor? Quem é como o nosso Rei? Quem é como o nosso Salvador?
87
Louvemos ao nosso D’s! Louvemos ao nosso Senhor! Louvemos ao nosso Rei! Louvemos ao nosso Salvador!
Bendito seja o nosso D’s! Bendito seja o nosso Senhor! Bendito seja o nosso Rei! Bendito seja o nosso Salvador!
Tu é o nosso D’s! Tu és o nosso Senhor! Tu é o nosso Rei! Tu é o nosso Salvador!
Barechú
Barechú et Adonai haMevorách!
Bendizei ao Senhor que é bendito!rách leolám vaed!
Baruch Adonai haMevorách leolám vaed!
Bendito seja O Eterno, que é Bendito para todo o sempre!
Baruch Adonai haMevorách leolám vaed!
Bendito seja O Eterno, que é Bendito para todo o sempre!
Aleinu:
É nosso dever louvar ao Senhor de tudo, atribuir grandeza Àquele que formou o mundo desde o princípio.
Mas nós nos inclinamos, prostramos e louvamos diante do Rei dos reis, o Santo, Bendito seja Ele.
Porque a realeza Te pertence, e Tu reinarás eternamente em glória, assim como está escrito na Tua Torá: “O Eterno reinará para sempre”.
:
88
E está escrito: “O Eterno será reconhecido Rei de toda a Terra, e neste dia o Eterno será UM e seu Nome UM” (Zc 14:9)
14 – Kadish
Itgadál veitkadásh shemê rabá,
bealmá di vrá chirutê,
veiamlich malchutê bechaieichón
uveiomeichón uvchaiêi dechol beit Israel,
baagalá uvizman kariv, veiumru amén.
AMÉN
Iehê shemê rabá mevarách
lealam ulealmêi almaiá.
Itbarách veishtabách veitpaár veitroman veitnassê
veithadar veitalê veithadal shemê dekudshá berich hu,
leêla min kol birchatá veshiratá, tushbechatá
venechematá daamiran bealmá, veimru amén.
Iehê shlamá rabá min shemaiá vechaím alêinu veal
kol Israel, veimru amén.
Ossê shalom bimromav,
hu iassê shalom alêinu
veal kol Israel, veimru
89
amén.
15 – Kidush para o dia de Shabat
(Isaías 56: 13-14)
Se desviares o pé de profanar o Shabat e de cuidar dos teus próprios interesses no meu santo sia; se chamares ao Shabat deleitoso e santo dia do Senhor, digno de honra, e o honrares, não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer tua própria vontade, nem falando palavras vãs, então, te deleitarás no Senhor. Eu te farei cavalgar sobre os altos da terra e te sustentarei com a herança de Jaó, teu pai, porque a boca do Senhor o disse.

Veshamerú venê Yisrael
Et hashabat, la’assot et hashabat
Letorotan, berit olam.
Beni uve benê Yisrael
Oh hi leolam, ki sheshet iamim assá Adonai
Et hashamayim ve’et ha’árets,
Uvaiom hashevii shavat vayinafash.
Pelo que os filhos de Israel guardarão o Sábado, celebrando-o por aliança perpétua nas suas gerações. Entre mim e os filhos de Israel é sinal para sempre, porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, e ao sétimo dia, descansou e tomou alento (Êx. 31: 16-17)
Savri Maranan! Com a permissão dos senhores!
Baruch Atá Adonai, Elohênu Mélech haolam, Borê peri hagáfen.
Bendito sejas Tu, Senhor, Rei do universo, Criador do fruto da videira.
LE CHAI!
90
(todos tomam o suco)
 Lavar as mãos
Baruch Atá Adonai, Elohênu Mélech Haolam, Asher qideshánu bemitsvotav vetsivánu al netilát yadáyim.
Bendito sejas Tu, senhor, nosso D’s, Rei do Universo, que nos santificates com os Teus mandamentos e nos ordenastes acerca de lavar as mãos.
 Bênção da Chalá
Baruch Atá Adonai, Elohênu Mélech Haolam, haMotsi lechem min há’arets.
Bendito sejas Tu, senhor, nosso D’s, Rei do Universo, que nos fazes brotar o pão da terra.
Shabat Shalom
Fontes externas
Patriarcas e Profetas: Beit Chabad

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

GLOSSARY - HEBREW ENGLISH

© Copyright 2002 ARTISTS FOR ISRAEL INTERNATIONAL. All rights reserved. abaddon (destruction) abirei lev (stubborn of heart) ach ahuv (a beloved brother [in Moshiach]) ach'av mashtin b'kir (him that urinates against the wall, i.e. all males) Ach'av (Ahab, King Ahab of Israel) ach (brother) achad asar (Eleven, the Eleven) achai (my brethren) acharei (after) acharim (end-times things) acharit hashanim (future years) acharit hayamim (last days, [Messianic] latter days) acharit shanah (end of the year) acharit yam (the extreme end of the sea) acharit (future, end, last, final outcome, latter end, i.e., future destruction) acharon (afterward, in the future, last) acharonim (last ones) achavah (brotherhood) achayot, akhayot (sisters) Achazyahu (Ahaziah of Judah) achdus (union, unity) achdut of yichudim (unity/ harmony of unifications) achdut (unity) achei Yosef asarah (Yosef's ten brothers) achei Yosef(the brothers of Yosef) acheicha (thy brethren) acheinu (our

Gematria - Tabela

PÁGINA PRINCIPAL                         TOC  para trabalhos em Desenvolvimento Hebrew Gematria por Bill Heidrick Copyright © por Bill Heidrick Instruções:  Para ir para entradas em um valor particular, selecione o link sobre esse valor. Blanks onde os números seriam indicam há entradas ainda para esse número. Um fundo escuro indica que as entradas são apenas referals para palavras e frases usando valores finais em letras. Intro 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115 116 117 118 119 120 121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 138 139 140 141 142 143 144 145 146 147 148 149 150 151 152 153 154 155 156 157 158 159 160 161 162

PROCURE AQUI SEU SOBRENOME JUDAICO

Muitos Brasileiros são Descendentes de Judeus Você sabia que muitos Brasileiros são Descendentes de Judeus?   Por Marcelo M. Guimarães    Um povo para ser destacado dentre as nações precisa conhecer sua identidade, buscando profundamente suas raízes. Os povos formadores do tronco racial do Brasil são perfeitamente conhecidos, como: o índio, o negro e o branco, destacando o elemento português, nosso colonizador. Mas, quem foram estes brancos portugueses? Pôr que eles vieram colonizar o Brasil ? Viriam eles atraídos só pelas riquezas e Maravilhas da terra Pau-Brasil ? A grande verdade é que muitos historiadores do Brasil colonial ocultaram uma casta étnica que havia em Portugal denominada por cristãos-novos, ou seja, os Judeus ! Pôr que ?   (responder esta pergunta poderia ser objeto de um outro artigo).  Em 1499, já quase não havia mais judeus em Portugal, pois estes agora tinham uma outra denominação: eram os cristãos-novos. Eles eram proibidos de deixar o país, a fim