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Como amar quem nos odeia?


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Foto: Internet

Gosto de iniciar uma boa prosa com uma boa pergunta, e creio que o desafio de amar quem nos odeia, seja uma pergunta boa o suficiente para uma reflexão. Outro motivo, é que se eu não ponho um ponto de interrogação ao final, estarei cometendo a arrogância de achar que tenho a resposta ao problema, quando não tenho, mas talvez eu possa te encontrado, ainda que em teoria, algum caminho para as respostas, e desejo então compartilhar com meus leitores. Eis então o desafio: Como amar quem nos odeia?

Primeiro, analisar a questão do ódio, que não é outro, senão o amor magoado, ressentido, e intransigente, que toma conta da alma (por vezes direi "coração") de quem troca os polos e põe em pane o relacionamento, por um curto (ou longo) circuito do relacionamento. O ódio, dizem alguns, é o amor mal resolvido, que fermentado pelas circunstâncias, põe-se a esbravejar de um instante a outro, sufocando a brisa com sopro de tempestades. O amor é sempre uma brisa suave, um sussurro no ouvido, enquanto o ódio é uma tormenta, um furacão, uma tempestade. Não há como competir com o ódio. Não há. Será sempre o vencedor do embate, porque vocifera suas razões como um mantra que se repete, enquanto contamina o coração que ama pela força e veemência de sua ira.

Nem sempre ódio e ira andam juntos, pois a ira é o ódio descontrolado. O ódio pode caminhar silencioso, tramando,maquinando, preparando armadilhas, mas quando a ira se manifesta, não há  mais quem os controle. A ira pode também, num paradoxo formidável, colocar-se como porta voz do amor, quando há uma causa justa, um fraco por defender. A diferença está no controle e não na ação.

Mas e a pergunta? Como amar quem nos odeia? Como amar quem nos odeia e nos cerca, seja pelas redes sociais, seja por proximidade física, ou seja por ideologias diferentes? Não há uma só resposta, mas eu poderia pensar que tanto o ódio quanto o amor são contagiosos. O ódio contagia pela pressão, e o amor, pela paciência. O amor, segundo o Apóstolo Paulo (Shaul, em hebraico), é paciente e benigno. Isso significa que a paciência não pode ser esperada quando não se fizer necessária, então faz-se necessário que seja pela paciência de amar por dois, ainda que sob tempestade, até que os ventos contrários se acalmem. Faz se mister que ame-se por muitos, se os adversários forem também muitos, e faz-se fundamental que ame-se infinitamente,se for odiado por todos.

O Amor, assim como o conhecemos,uma palavra econômica, na nossa civilização ocidental, define muitas coisas, mas não estabelece uma verdade única. Pode ser traduzido por sentimento afetivo, por uma pessoa, por um animalzinho, por uma cidade, por um objeto, e até mesmo por D-s (Deus).Então quando digo que amo à uma pessoa, e imediatamente digo que amo um prato que vou devorar, um dos dois pode ficar confuso,ou sentir-se desprestigiado, pois a palavra em si não distingue entre sentimento de afeto ou desejo de saciar a fome.

No grego antigo, Amor tem quatro palavras e está separado por temas específicos.

Eros - Amor carnal, desejo físico de contato (ou não) com determinada pessoa.
Fileos - Amor fraternal, entre irmãos
Storge - Amor de filhos por pais, sentimento ou necessidade de alma de um filho pela mãe,por exemplo, durante a primeira infância, especialmente.
Agape - Amor universal. O tipo de amor de D-s pela humanidade, ou de um Ser Humano por outro Ser humano, sem a proximidade de raiz parental.

No hebraico, a palavra utilizada para Amor,  é Ahavá. Ahavá não pode ser traduzida literalmente por amor,do modo que conhecemos,afetivo, mas de Doação. Ahavá,portanto, é doar-se, independente da recíproca, independente da espera por resultado e contrapartida. Doar-se sem restrições,sem espera de recompensa. Assim, posso ser encaminhado a pensar que receberemos respostas imediatas, ou até  mesmo em vida. Muitas vezes não, pois, se o amor é paciente e bondoso, pode ultrapassar a própria vida (não estou falando de reencarnação,pois nem acredito nisso), isto é,o amor plantado e regado ao longo de tempos e tempos, poderá ser percebido ainda mesmo muitos anos depois que já nem estivermos mais aqui. Nossa ausência jogará água fria na ira,no ódio, pois de nada adianta odiar aquilo ou aquele que nem está mais aqui para receber pancadas, e o tempo, o tal "Senhor da Razão", ou do amor, aquietará os corações iracundos, e passará  um filtro naquilo que nos separa,decantando pelas águas calmas, a limpidez daquilo que quisemos deixar, mas que a turbulência do furor não nos permitiu.

Todo rio que se move é lamacento, mas é na quietude do lago que a sujeira vai ao fundo, e podemos espelhar-nos na superfície, descobrindo assim que nossa ira e nosso ódio, quando aquietados, mostram-nos a nós mesmos, e saberemos que foi contra nós que lutamos, foi a nós que agredimos, e foi a nossa felicidade perdida quem foi ao fundo, quando não havia mais a quem odiar. Nenhuma nuvem é formada se não houver umidade no ar. Ninguém odeia se não houver um histórico de dor, e não necessariamente ao objeto do ódio, mas como válvula de escape e alvo de ocasião.

Encerro com I Coríntios 13 esta reflexão.

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;
Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.

1 Coríntios 13:1-13

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