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Um não-judeu pode usar Talit?



Um não-judeu pode usar Talit?


CCAR 5765.5
Tradução: Uri Lam (Av 5768 / agosto de 2008)
Sheelá (Pergunta)
Uma certa família da congregação perguntou se o avô não-judeu de um jovem bar mitsvá pode usar talit durante o serviço matutino de Shabat, quando o bar mitsvá conduzirá o serviço religioso na sinagoga. Se ele usar o talit, ele pode usá-lo na bimá. Em nossa congregação, o pai ou os avós não-judeus podem subir na bimá, mas não participam quando a Torá é passada de uma geração para a próxima.
Esta pergunta é o tema de duas responsas reformistas. O rabino Solomon B. Freehof [1] permite que um líder religioso não-judeu use um talit em um serviço ecumênico em uma sinagoga. Ele argumenta que uma vez que o talit, especialmente o tsitsit, é menos sagrado do que a Torá e seus pertences, e uma vez que o Talit e o tsitsit podem ser descartados quando deixam de ser usados — diferente da Torá, que deve ser guardada em uma guenizá — nós devemos lidar com eles de maneiras diferentes. Ele vai mais adiante ao considerar que nós podemos oferecer o talit ao não-judeu "em nome da paz". Porém, o rabino Walter Jacob [2] menciona que usar o talit é uma mitsvá (mandamento) da Torá que requer uma brachá (bênção); por sua vez, esta brachá menciona especificamente Israel como o povo escolhido e assim, só pode ser recitada por um judeu. Assim sendo, um não-judeu pode usar talit durante o serviço matutino de Shabat?
(Rabino Harry D. Rothstein, Utica, Nova York, EUA)



Teshuvá (Resposta)
Esta sheelá (pergunta) nos pede para decidir entre duas teshuvot (respostas) contraditórias, cada uma de autoria de um eminente possêc (árbitro) e mestre do movimento reformista. Assim sendo, antes de tudo declaramos a nossa profunda dívida de gratidão por nossos mestres, embora possamos discordar deles em um tema ou outro. Embora nossas interpretações de texto e nossas posições religiosas possam divergir das de nossos antecessores, nós só podemos conduzir esta discussão porque eles nos ensinaram a arte e o processo de responsa e de pensamento haláchico reformistas. Nós nos levantamos sobre os ombros de gigantes e o fato em si, ironicamente, favorece um ângulo de visão diferente que levamos para esta e outras perguntas. [ 3]
Com isso em mente, consideremos as responsum do rabino Rabino Freehof. Ele fundamenta a sua deliberação permissiva na distinção entre tashmishê kedushá, "usos da santidade", e tashmishê mitsvá, "usos de uma mitsvá". Artigos rituais que pertencem à categoria anterior, incluindo "a Torá e seus pertences", é de um grau mais elevado de santidade do que os pertencentes à categoria posterior, como o tsitsit. Assim, se um manto da Torá está gasto e não está mais em condições de uso, deve ser guardado (colocado em uma guenizá), enquanto as franjas de um talit que estão rompidas ou sem condições de uso podem, nas palavras do Shulchan Aruch, "ser lançadas sobre o montão de cinzas porque é para uso de uma mitsvá e não inerentemente santo." [ 4] De fato, o rabino Freehof continua, a halachá permite inclusive "ir ao banheiro vestindo talit." [ 5] Isto o conduz ao seguinte argumento de kal vachómer: "Se, então, o talit pode ser usado em qualquer lugar, e se suas franjas (quando separadas) podem ser lançadas até mesmo em um montão de cinzas, não há dúvida de que pode ser emprestado para um líder religioso não-judeu que irá usá-lo com reverência." [ 6] Ele acrescenta que ao permitir que este líder religioso use o talit "nós cumpriremos a mitsvá básica de agir 'para seguir os caminhos da paz' (mipnê darchê shalom)," o que, ele enfatiza, a nossa tradição também declara como "evitar um desejo enfermo" (mishum eivá).
Em nossa visão, a teshuvá do rabino Freehof não é muito convincente. Isto em parte por causa de alguns dos pontos discutíveis da halachá contidos nesta,[7] mas principalmente porque nós não consideramos que seja uma boa maneira de lidar com a pergunta. A santidade ritual inerente ao talit (ou a falta desta) não é a questão. Até mesmo os rolos da Torá, que possui muito mais santidade do que um talit, não se tornam "impuros" se um não-judeu os tocar, mas isso não significa que nós podemos ou devemos chamar um não-judeu para uma aliá à Torá. O assunto pertinente em todos estes temas é se é apropriado um não-judeu participar de uma determinada observância de um ritual público. No caso de ser chamado para a Torá, a nossa resposta é "não", [8] e nós dizemos o mesmo aqui. Usar um talit é executar a mitsvá de "recordar todas as Minhas mitsvot e ser santo para o seu Deus" (Números 15:40); em outras palavras, é uma expressão material do pertencimento de uma pessoa à comunidade de Israel, uma pessoa santificada pelas mitsvot que caracterizam a sua aliança com Deus. A tradição rabínica entende o tsitsit como um sinal físico que marca Israel como um povo em separado, "que se faz distinto pelas mitsvot." [ 9] Um não-judeu pode desejar usar um talit por suas próprias razões, mas o talit é um símbolo nosso; não pertence ao não-judeu, e não cabe a ele ou a ela o definirem. O talit, como nosso símbolo, funciona para nós como uma declaração de eu aquele que o usa é um judeu, uma pessoa que tem o título de Israel, que participa juntamente conosco da aliança que nos distingue como uma comunidade religiosa singular. O avô da nossa sheelá (pergunta) pode muito bem ter um senso profundo de orgulho familiar pelo fato do seu neto estar se tornando um bar mitsvá, e o desejo dele de participar deste evento especial é compreensível. Porém, ele não é judeu, um membro da nossa comunidade da aliança. Ele não deve usar um talit.
Nós também hesitamos em aplicar aqui as categorias de "seguir os caminhos da paz" e "evitar um desejo enfermo". [ 10] Embora nós certamente desejemos manter boas relações com os nossos vizinhos não-judeus e evitar causar discussões familiares, nós duvidamos que estes princípios sejam o modo apropriado para lidar com os temas em jogo nesta pergunta. Afinal de contas, nós estamos lidando com assuntos de profundo princípio religioso, com práticas que nos definem como uma comunidade judaica e que nos distinguem dos demais. Ao nos denominarmos de comunidade judaica, nós necessariamente traçamos linhas e estabelecemos limites que fluem desde e reforçam a nossa identidade como judeus. Ao agirmos assim, inevitavelmente limitamos o papel que não-judeus, aqueles que não compartilham desta identidade, podem ter em nossa vida ritual comunitária. [ 11] Afinal de contas, nós não discutimos se um não-judeu deve ser chamado na Torá, recitar o kidush ou conduzir o serviço religioso na sinagoga com base em que isto ajudaria a preservar relações amigáveis com não-judeus. Na verdade, o espaço da pessoa da nossa congregação que faz esta pergunta esclarece os limites do papel que os avós não-judeus têm no serviço religioso que marca o bar mitsvá. O não-judeu deve entender a necessidade da comunidade judaica afirmar o direito — um direito que pertence a toda comunidade auto-identificada, religiosamente ou de outro modo [12] — de definir seus padrões de vida e suas qualificações para quem queira se tornar membro. Isto vale especialmente em sociedades democráticas e pluralistas como a nossa, onde este direito é reconhecido e onde os judeus são cidadãos orgulhosos e com direitos iguais. É bom preservar a paz e evitar a hostilidade, mas estas metas, por mais dignas que sejam, não nos convence da necessidade de comprometer os nossos princípios religiosos básicos.
Por estas razões, nós endossamos a posição adotada pelo rabino Walter Jacob em suas responsum. Nós o fazemos não apenas porque o uso do talit é precedido pela recitação de uma brachá que dá ênfase à natureza deste ato como uma mitsvá. Nós costumamos convidar nossos vizinhos não-judeus a participar em atividades — como por exemplo, assistir a um seder de Pessach,[13] sentar-se na Sucá — sobre as quais recitamos bircot mitsvá (bênçãos relativas aos mandamentos). Uma vez que é óbvio para todos que eles participam conosco como convidados e não como judeus, nós não devemos considerar a participação deles como imprópria. Contudo, um não-judeu vestir um talit em um serviço religioso público — algo que ele ou ela não precisam fazer para participar do evento — é identificar-se fisicamente como um de nós. Novamente, nossa posição é principalmente baseada na função simbólica do talit como uma declaração de identidade judaica e de ser membro da comunidade do pacto. O não-judeu não pode fazer esta declaração; portanto, ele ou ela não deve usar um talit em nossos serviços religiosos na sinagoga.
NOTAS
1. R. Solomon B. Freehof, Reform Responsa for Our Time, no. 5.
2. R. Walter Jacob, Halakhah, uma publicação do Freehof Institute of Progressive Halakhah, Spring/Summer ed., 1996.
3. A declaração clássica — "nós somos anões apoiados nos ombros de gigantes" — parece ter sua origem no filósofo escolástico do século 12, Bernard de Chartres. R. Yeshayahu di Trani (~ 1250) é aparentemente o primeiro autor judeu a usar a frase, que ele chama de "um dito (mashál) dos filósofos"; Resp. RYD, no. 62. R. Yeshayahu ensina, a partir deste ditado, que embora ao anão certamente falte a grande estatura do gigante, ele não obstante pode ver mais longe, precisamente porque o gigante o permite que veja assim. Isto explica como nós acharonim, ou sábios "posteriores", podemos discordar dos nossos antecessores (os rishonim), embora os rishonim, de acordo com a ideologia tradicionalista, sejam por definição maiores e mais sábios do que nós. Sobre este tema, veja Yisrael Ta-Shema, Halakhah, minhag, umetzi'ut be'ashkenaz (Jerusalem: Magnes, 1996), 70-71, e Robert K. Merton, On the Shoulders of Giants: A Shandean Postscript (Chicago: University of Chicago Press, 1993).
4. Orach Chayim 21:1. De fato, na passagem se lê "porque nenhuma santidade está presa à sua substância física" (sheêin begufá kedushá); ou seja, o tsitsit só é santo porque está inteiro e amarrado a uma peça de vestuário de quatro cantos. Um tsitsit que é destacado do talit é só uma linha; nenhuma mitsvá é cumprida com isto e, portanto, pode ser descartado. Nós desejamos saber se uma analogia adequada pode ser obtida de um tsitsit retirado de um talit com franjas com o qual uma mitsvá é de fato realizada.
5. Shulchan Arukh Orach Chayim 21:3. Contudo, os comentaristas desta passagem, em especial o Maguen David e a Mishná Berurá, escrevem que isto se refere ao talit catán, a roupa de baixo com franjas que pode ser usada o dia inteiro, e não para a mitsvá de talit shel mitsvá, especialmente usado durante o serviço religioso. Este último, declaram, não deve ser usado no banheiro.
6. A pergunta exata dirigida ao rabino Freehof diz respeito a um ministro cristão que está para participar de serviço conjunto na sinagoga e deseja "usar um talit como o rabino faz."
7. Veja as notas 4 e 5, acima.
8. Sobre a questão geral da participação de não-judeus nos serviços religiosos na sinagoga, veja Teshuvot for the Nineties, no. 5754.4, 55-75 (http://data.ccarnet.org/cgi-bin/respdisp.pl?file=5&year=5754).
9. Pesikta deRav Kahana 16:3 sobre Lamentações 2:13; Sifre Deuteronômio, cap. 36 (para Deut. 6:9).
10. Mipnê darchê shalom é a justificativa citada por uma série de tacanot (decretos legislativos rabínicos) durante a época da Mishná. Veja M. Guitin 5:8-9 e Sheviit 4:3, entre outros lugares. Mishum Eivá aparece durante o período posterior, da Guemará; veja, por exemplo, B. Baba Metsia 32b e Avodá Zará 26a.
11. Este Comitê tem discutido o tema em uma série de ocasiões. Não-judeus não são chamados para a Torá, não lêem a haftará, não recebem "honras" importantes em relação ao serviço de leitura da Torá, e não participam dos papéis centrais da nossa liturgia; ver Teshuvot for the Nineties, no. 5754.4, 55-75 (http://data.ccarnet.org/cgi-bin/respdisp.pl?file=5&year=5754); Responsa Committee, no. 5758.11 (http://data.ccarnet.org/cgi-bin/respdisp.pl?file=11&year=5758); American Reform Responsa, no. 6, 21-24 (http://data.ccarnet.org/cgi-bin/respdisp.pl?file=6&year=arr); Current Reform Responsa, no. 23, 91-93; e New Reform Responsa, no. 7, 33-36.
12. Por exemplo, conforme exposto por um membro do nosso Comitê: "Como nós nos sentiríamos a respeito de um judeu que comparece a uma missa católica para a confirmação de um parente, e recebendo a comunhão?" Os membros daquela igreja católica seguramente questionariam se o judeu teria agido adequadamente com respeito ao sacramento deles.
13. Muitos judeus tradicionalmente observantes não convidarão não-judeus para um seder de Pessach ou para qualquer outra refeição de Iom Tov (feriado religioso). Isto porque a permissão para cozinhar em um dia festivo (desde que não caia em Shabbat) é interpretada para se aplicar apenas para a comida cozinhada para judeus; assim, "é proibido convidar o não-judeu, a menos que se prepare uma porção extra de comida no dia do feriado, especialmente para ele" (Shulchan Aruch, Orach Chayim 512:1; veja B. Betsá 21b sobre Êxodo 12:16). Nós, judeus reformistas, claramente não cumprimos esta restrição. Além disso, na medida em que está claro que se vá completar a preparação da comida antes do início do feriado, não há nenhuma razão pela qual os judeus ortodoxos deveriam se conter de convidar não-judeus para a refeição.
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