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A Identidade Misteriosa do Servo


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Beth Bnei Tsion

A Identidade Misteriosa do Servo

Beth Bnei Tsion
O Enigma de Isaías 53

Uma das perguntas mais estarrecedoras da passagem bíblica em Isaías 53 é concernente à identidade do Servo sofredor.
O Servo e/ou Israel

Às vezes o Servo claramente designa o povo de Israel (Isaías 41:8-10; 44:1-3, 21; 45:4; 48:21; 49:3); às vezes é ambíguo e pode ser entendido tanto como Israel como um grupo ou um indivíduo distinto (42:1-4); e às vezes claramente e sem ambigüidade se refere a um indivíduo (49:5-7).

Nosso texto aparece para pertencer à terceira categoria. Aqui Israel não é mais identificada explicitamente como o Servo, como no caso de outras passagens. Também a passagem faz uma distinção clara entre o povo de Israel e o Servo. De fato, a troca tem tomado lugar em 49:5.

Em 49:3 o Servo é identificado explicitamente como Israel: “Tu és meu servo, O Israel”. Então, de repente, em 49:5-6, o Servo é alguém que une supostamente Israel a Deus e deve, portanto, ser compreendido como alguém distinto de Israel: “É uma coisa tão pequena que Tu devas ser Meu Servo para levantar as tribos de Jacó, e restaurar o remanescente de Israel; eu também darei a Ti como uma luz aos gentios, Tu serás Minha Salvação aos confins da terra.”
Em 50:10, o profeta fala a Israel na segunda pessoa do plural, tal como em 50:1, enquanto faz uma distinção clara entre Israel e o Servo: “Quem entre ti [Israel] teme ao Senhor? Quem obedece a voz de Seu Servo?” O profeta apela a Israel “temer ao Senhor” paralelo com seu chamado para “obedecer a voz de Seu Servo” e portanto implica que o Servo e o povo de Israel são claramente duas entidades diferentes.

No último Canto do Servo em Isaías 52:13-53:13 a situação não é tão clara como nas outras passagens pela simples razão que o povo de Israel não é nomeado especificamente. Uma análise mais próxima da passagem é então necessária para examinar a natureza do relacionamento entre o Servo e Israel. Para este assunto, é importante primeiro ser capaz de identificar quem está implícito na primeira pessoa do plural (“nós”, “a nós”, “nosso”). Em outras palavras, quem são aqueles que diz em 53:1:”Quem tem crido em nosso relatório?” Eles são Israel a quem está sendo endereçado os reis e as nações mencionadas acima (52:10)? Ou são eles, ao contrário, aqueles reis e nações?

Primeiro de tudo, a ligação lingüística em shama (ouvir) entre o fim do 52:15 e 53:1 sugere que a pessoa que fala não pode ser os reis e nações. De fato, o orador de 53:1ff que faz o “relatório”(shemuat: literalmente, “o que é ouvido”) não pode também ser aquele que “ouve” (shama) este relatório em 52:15. Aqueles que exclamam, “Quem acreditou em nosso relatório?” não pode portanto ser identificado com os reis e nações uma vez que eles são descritos como aqueles que “calam suas bocas” e nunca “ouviram” tais coisas. Também aqueles que ouviram a mensagem (os reis e as nações) em 52:15 – e estão pasmos, pois eles nunca ouviram tais coisas – correspondem àqueles em 53:1 que não puderam “acreditar no que ouviram”. No entanto, os reis e as nações são aqueles que estão “ouvindo” o relatório. Esta última observação sugere que aqueles que falam na primeira pessoa deveriam ser identificados como Israel. Uma situação similar está descrita em 49:1 onde Israel é claramente identificado como o orador (49:3) – a primeira pessoa é usada – e convida as nações a “ouvir”(shama).

Além disso, uma investigação sistemática da primeira pessoa do plural no livro de Isaías revela que onde quer que a primeira pessoa do plural é usada (“nós”, “a nós”, “nosso”, etc.), sempre se refere a Israel ou Judá. Baseado nessas observações do nosso texto e no contexto geral do livro, é razoável concluir que o orador em Isaias 53 é o povo de Israel e os ouvintes são as nações. O Servo é, portanto, alguém distinto de Israel, como é evidente nos versos seguintes:
Quando nós [Israel] O vimos [o Servo], não havia nenhuma beleza que nós [Israel] desejássemos Nele [o Servo] (53:2).

E nós [Israel] escondemos, como era, nossas faces Dele [o Servo]; ... e nós [Israel] não O estimamos [o Servo] (53:3).

Certamente Ele [o Servo] levou nossas [Israel] tristezas e carregou nosso [Israel] sofrimento; ainda que nós [Israel] estimamos Seu [o Servo] ferimento (53:4).

Mas Ele [o Servo] foi ferido por nossas [Israel] iniqüidades ... o castigo por nossa [Israel] paz estava sobre Ele [o Servo], e pelas Suas [o Servo] pisaduras nós fomos curados (53:5).

Todos nós [Israel] como ovelhas temos estado desviados; ... e o Senhor colocou sobre Seus [o Servo] ombros a iniqüidade de todos nós [Israel] (53:6).

Pelas transgressões do Meu povo [Israel] Ele [o Servo] foi ferido (53:8).

Neste capítulo, o Servo é claramente distinguido do povo de Israel; ainda que o Servo seja relacionado a Israel. A natureza desse relacionamento é sugerida pela passagem que precede nosso texto. Em 52:3-6, a condição de sofrimento e “opressão” do povo (versos 4-5) dispara a ação de Deus para “confortar” e “redimir” “seu povo” (versos 6-9).

O Servo Sofredor: Um Sacrifício
A idéia central da passagem é o sofrimento e morte do Servo para o propósito de reconciliação. Esta idéia aparece em oito dos doze versos (Isaias 53:4-8, 10-12). Também ocupa a seção central do quiasmo. Esta idéia foi sugerida em Gênesis 3:15, a qual relata a morte da Serpente – em razão da redenção da raça humana – até a morte da “posteridade” da mulher. É agora expressado de uma maneira mais explícita e descrita em termos e motivos emprestados diretamente do mundo Levítico. O Servo é comparado a um cordeiro pronto para o matadouro (Isaias 53:7; cf. Genesis 2:7; Levítico4:32; 5:6; 14:13, 21; etc.). A forma passiva, uma das características mais características do estilo Levítico, é mais proeminente em nossas passagens. É usado dezesseis vezes no texto; doze delas é no Niphal, a forma técnica do “veredicto declaratório” sacerdotal o qual é normalmente usado em conexão com os sacrifícios. E esta intenção religiosa-cúltica é portanto confirmada pelas sete referências a “pecado” cobrindo todos os três termos técnicos (pesha, awon, het):

v.5: Ele foi ferido pelas nossas transgressões (pesha)
Ele foi machucado por nossas iniqüidades (awon).
v.6: E o Senhor pôs sobre seus ombros a iniqüidade (awon) de todos nós.
v.11: Ele carregará suas iniqüidades (awon).
v.12: Ele carregou o pecado (het) de muitos.

Esta linguagem é muito familiar e sugere que o Servo é identificado como a oferta de sacrifício a qual no sistema Levítico carregava o pecado e assim permitia perdão de Deus: “Se ele traz um cordeiro como sua oferta pelo pecado, ... ele colocará sua mão sobre a cabeça de sua oferta pelo pecado ... então o sacerdote fará expiação por seu pecado (het) que ele cometeu, e lhe será perdoado” (Levítico 4:32-35).

Um Rei
Das primeiras palavras do cântico, o Servo é descrito como uma figura real que será “exaltado e louvado e será muito alto” (Isaias 52:13); Ele é então associado com reis que “calam suas bocas a Ele” (52:15) e com “o grande” e “o forte” com os quais ele divide a mesma saúde (53:12). Também a palavra “semente” (53:10) a qual é usada para caracterizar Sua posteridade indica que este Servo pertence à linhagem Davídica, uma vez que a palavra “semente” é uma palavra técnica no livro de Isaias para designar especificamente a posteridade Davídica. E de fato, o nome dado a Ele , “Meu Servo”(abdi) na introdução (52:13) e na conclusão (53:11) confirma esta identificação , uma vez que este é o título mais freqüente dado na bíblia ao Rei Davi. E este título do Rei Davi é ainda atestado no próprio livro de Isaias: “ ... ‘e ele não entrará nesta cidade’, diz o Senhor. ‘Pois Eu defenderei esta cidade, para salvá-la por Mim mesmo e por Meu servo (abdi) Davi’” (37:34-35).

Deus
Por mais estranho que possa parecer, o Servo é relacionado intimamente com o próprio Deus. Esta conexão especial já é sugerida em alguns versos anteriores em Isaias 50:10, onde a referência ao Servo é paralela à referência ao Senhor: “Quem entre nós teme ao Senhor?; Quem obedece a voz de Seu Servo?” é também significativo que o evento de Deus confortando Seu povo (52:9) é descrito através da imagem da revelação do braço do Senhor (52:10), uma linguagem que caracteriza a vinda do Servo (53:1). Também, a qualidade divina do Servo é sugerida no fato de que Ele é capaz de “justificar muitos” (53:11), uma qualificação que pertence ao juiz (Deuteronômio 25:1) ou a Deus (1 Reis 8:32).

A extensão universal da influência do Servo confirma, de fato, Seu status supremo. Seu domínio afeta “muitas nações” e “reis” (Isaias 52:15). A palavra rabbîm (muitos), a qual é repetida quatro vezes em nosso texto (52:15; 53:11, 12a, 12b), é um termo técnico freqüentemente usado na bíblia para cobrir uma extensão universal (veja especialmente Daniel 9:27; 11:33; 12:4, etc).

É também significativo que Isaias 53:6, o centro do cântico, é literalmente constituído como uma inclusão com a palavra hebraica kol (todos). Esta é a palavra que é tradicionalmente usada para expressar uma referência universal. É a palavra chave, por exemplo, da passagem marcando o fim da História da Criação (Genesis 2:1-3), onde é usada três vezes para se referir ao cosmos, toda a criação de Deus. Em nossa passagem, o “todos” aplica-se ao povo que está dizendo: “todos nós” (kullanu). O primeiro “todos nós” é concernente ao erro do povo, “todos nós (kullanu)como ovelhas temos nos desviado”. O segundo “todos nós” é concernente à iniquidade do povo: “E o Senhor colocou sobre Seus ombros a iniquidade de todos nós” (kullanu).

A última (mas não menor) evidência da identificação do Servo com Deus é dada implicitamente através da metáfora do “rosto escondido”(seter panîm): “Nós escondemos, como eram, nossas faces Dele” (Isaias 53:3). Este é um motivo importante no livro de Isaias. Das 31 ocorrências na bíblia, sete são encontradas no livro de Isaias, onde esta expressão carrega uma dimensão particular do relacionamento de Deus com Seu povo. Uma vez que os oradores de Isaias 53:6 só podem ser humanos, segue-se que a pessoa de quem a face está escondida (verso 3) tem que ser Deus. Um exemplo característico ocorre somente alguns versos depois de nossa passagem, onde deus declara: “Com uma pequena ira Eu escondi Minha face de ti por um momento”(54:8). Aproximadamente todas as passagens bíblicas aplicam esta expressão a Deus como sujeito. É Deus quem esconde Sua face. O Profeta Isaias vai mais longe ao fazer o esconder da face um feito distintivo do verdadeiro Deus: “Verdadeiramente Tu és Deus, que esconde a Ti mesmo, Ó Deus de Israel, o Salvador!” (45:15).

O fato que esta expressão é usada em Isaias 53 em relação ao Servo sugere que nesta passagem o Servo Sofredor é identificado com Deus mesmo. É também significativo que o mesmo Servo Sofredor declara sobre si mesmo em outra passagem: “Eu dei Minhas costas àqueles que me golpearam, e Minhas faces àqueles que me puxaram a barba: Eu não escondi minha face da vergonha e da saliva”(50:6).

A expressão “esconder minha face” que é na maioria dos casos usada por Deus para descrever sua relação com a raça humana, é aqui aplicada ao Servo, mas desta vez como sujeito.

Em resumo, qualquer momento que a bíblia usa a expressão “esconder minha face” (seter panîm), sempre implica Deus em relacionamento com humanos, da mesma forma que Deus é o sujeito do verbo, aquele que esconde Sua face dos humanos (a maioria dos casos [28 de 31]), ou que Deus é o objeto do verbo. Ele é o único de quem os humanos escondem seus rostos (os outros 3 casos).

O Messias Sofredor na Tradição Judaica
A interpretação messiânica de Isaias 53 já é encontrada anteriormente no segundo século A.E.C. na Comunidade Qumran, que aplicou a profecia de Isaias 53 ao “Messias Salvador”. Uma passagem no Talmud alude a uma tradição antiga de acordo com a qual, por causa de 53:4, o Messias estava a chamar a si mesmo um leproso: ”Os mestres [Rabbana] têm dito que o leproso da escola do Rabbi... é o seu nome, pois foi dito: ‘Ele tem carregado nossas doenças e tem carregado nossos sofrimentos, e nós o temos considerado como um leproso, esmagado por Deus e humilhado’” (Sanhedrin 98b). Uma invocação característica no Midrash refere-se a este mesmo texto: “Messias de nossa justiça [Meshîah Tsidkenû], ainda que nós somos Seus antepassados, Tua habilidade é maior que nós porque Tu carregaste o fardo de pecados de nossos filhos, e nossas grandes opressões foram colocadas sobre Ti... Entre as pessoas do mundo Tu trouxeste somente desprezo e escárnio a Israel... Tua pele encolheu, e Teu corpo se tornou seco como a madeira; Seus olhos estão vazios pelo jejum, e Sua força tornou-se como um vaso quebrado – tudo isto sucedeu por causa dos pecados de nossos filhos” (Pesiqta Rabbati, Pisqa 37).

É sempre a figura do Messias sofredor que o Midrash Rabbah descreve em conexão com Isaías 53: “O Rei Messias... oferecerá seu coração para implorar misericórdia e muito sofrerá por Israel, chorando e sofrendo como está escrito em Isaias 53:5 ‘Ele foi ferido pelas nossas transgressões,’ etc. : quando os israelitas pecam, ele invoca pela misericórdia deles, como está escrito: ‘Sobre ele estava o castigo que nos faz completos, e da mesma forma o Senhor tem posto sobre ele a iniqüidade de todos nós. E este é o que O Santo – Seja bendito para Sempre! – decretou de maneira a salvar Israel e regozijar-se com Israel no dia da ressurreição” (Bereshith Rabbati de Moshe Hadarshan, em Genesis 24:67).

O Targum Aramaico de Jonatan também interpreta Isaias 53 em um sentido messiânico. Começando com as passagens introdutórias, a identidade do Servo se torna clara: “Veja, meu servo o Messias prosperará, será levantado e feito forte; por tanto tempo quanto a casa de Israel adoecer após ele”. A conexão teológica entre o ritual do sacrifício e o Messias que aparece no coração de Isaias 53 é também atestado no Talmud. De fato, todo o sistema sacrificial era interpretado lá como uma referência à esperança messiânica: “R. Eleazar disse em nome do R. Josei: ‘Isto é uma halaka [um princípio] que concerne ao Messias’. Abba respondeu a ele: ‘Não é necessário dar instruções aqui sobre todos os sacrifícios de vítimas, pois isto é uma halaka que concerne à era messiânica’” (Zebahim 44b; Sanhedrin 51b). Mais recentemente um número significante de Hasidim Lubavitcher tem aplicado o “Servo Sofredor” de Isaias 53 ao seu líder espiritual, o Rebbe, Menahem Mendel Schneerson. Obviamente, o messianato do Rebbe não foi estabelecido, e ele não foi reconhecido como o Messias pela maioria dos judeus contemporâneos; mas o fato é que, apesar da antiga disputa Judaica-Cristã, muitos judeus ortodoxos ainda escolhem valer-se da passagem de Isaias 53 em seus argumentos messiânicos mostrando quão profundo e forte este significado messiânico é na consciência judaica tradicional.

As Duas Faces do Messias
Mesmo o difícil paradoxo do Messias que seria uma vítima humilhada e um rei glorioso tem seu lugar na tradição judaica. Os rabbis estão tão confusos pelas suas contradições que eles concluem às vezes que há dois Messias. Uma passagem Talmúdica elabora nesta observação de uma dupla figura. Quando o Messias desempenha o papel de uma vítima, ele é então identificado geralmente como filho de José pela analogia da história da opressão de José (Genesis 37), e quando ele é um rei, ele é então reconhecido como o filho de David (Sukkah 42a). é também interessante que esta passagem talmúdica constrói sua reflexão messiânica precisamente na base de Zacarias 12:10: “E eu despejarei sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém o Espírito de graça e súplica; então eles olharão para Mim aquele a quem eles traspassaram; eles lamentarão por Ele como aqueles que lamentam por seu único filho, e se afligirão por Ele como aqueles que se afligem por um primogênito.” Duas opiniões são então propostas na discussão rabínica. Uma defende a idéia que este Messias que sofre e morre não é nenhum outro que o Messias filho de José que será morto antes do fim da redenção completa(geullah shelemah) o qual será trazido pelo “Messias Filho de Davi”. Outra, que não é o Messias que é morto mas a inclinação do mal(o yetser hara). Nesta conversação, o Messias é então associado com a guerra contra o mal. O Messias filho de José representaria o poder messiânico que lutaria e esmagaria o poder do mal e então seria seguido pelo Messias real filho de Davi para a última e completa redenção (geullah shelemah).

Na tradição talmúdica, no entanto, ambos o filho de José e o filho de Davi estão destinados a sofrer e morrer. O Talmud fala da morte do filho de Davi (Sanhedrin 98b). é também significativo que o Messias Sofredor retratado em Isaias 53 é identificado como o Rei Messias (Bereshit Rabbati em Genesis 24:67), um título que designa o Messias especificamente como o filho de Davi (Bereshith Rabbati em Genesis 19:34; compare Berakoth 5a, etc.). O Messias filho de José também aparece com o comportamento de um Messias glorioso. “Efraim [filho de José]Messias de nossa justiça, reina sobre eles [os povos do mundo]; os trata como um bem a ele” (Pesiqta Rabbati, Pisqa 37). Os ministérios dos dois Messias entretanto vêm juntos; freqüentemente dando a impressão de estarem fundidos em um. Se torna difícil desassociá-los, de tanto que são semelhantes. Esta identidade era enfatizada no Targum, que vai tão longe ao compará-los a “gêmeos” (Targum em Cânticos dos Cânticos 4:5 e 7:4). Alguém pode até mesmo querer saber, no pensamento dos antigos rabbis, esta confusão com dois Messias não trai uma idéia fundamental que realmente havia somente um Messias. Uma discussão registrada no Talmud parece indicar que os rabbis estavam se movendo nessa direção. Alguém envolvido na discussão inquiriu a respeito de que nome o Messias deveria ter. Tanto Menahem filho de Ezequias ou um segundo rei Davi que reinará gloriosa e eternamente, ou mesmo o leproso chamado para ser humilhado e carregar o fardo de nosso sofrimento e doenças (Sanhedrin 98b). a possibilidade de dois Messias nunca aparece no curso desta conversação. De fato, as discussões dos rabbis parecem somente tentar entender a figura composta do Messias, pelos vários nomes que eles deram a ele são intencionados quiçá a descobrir algum aspecto de sua personalidade. De acordo com os estudos bíblicos e rabínicos, era concebível que um e a mesma pessoa poderia ter diversos nomes. Falar sobre um filho de José ou um filho de Davi não significava necessariamente dois Messias diferentes. De fato, uma passagem do Talmud de Jerusalém registra os dois lados do Messias : “Se o rei messiânico é dos viventes, seu nome é Davi; se dos mortos, seu nome é Davi”(Berakhot 2:4). A tradição judaica confirma que o Messias filho de José é apesar de seu título de descendente de Davi.

Um Messias Divino
Os antigos rabbis foram ainda mais longe. Ao longo da apresentação de um Messias com carne e sangue humanos, eles ousam identificar o Messias com o próprio Deus. A idéia implícita em Isaias 53 que o Servo Sofredor, o filho de Davi, é também Deus encontra sua expressão ousada na literatura rabínica. “O Messias”, diz o Talmud, “terá o nome do Santo.... Pois é dito em Jeremias 23:6: ‘E este é o nome pelo qual Ele será chamado: “O Senhor é nossa justiça”’” (Baba Bathra 75b). “Qual é o nome do rei Messias?” pergunta o Midrash. R.Abba ben Kahana diz: “Yahweh é seu nome como escrito em Jeremias 23:6. Este é o nome pelo qual Ele será chamado: ‘O Senhor [Yahweh] é nossa justiça’” (Lamentations Rabbah 1:1:16; Midrash de Provérbios 19:19-21; Midrash de Salmos 21:1,2, etc.).
O Targum de Jonatan adapta a visão típica tradicional, uma vez que traduz o texto nesta maneira: “’Veja, os dias estão vindo,’ diz Yahweh, ‘quando eu trarei a Davi o Messias de justiça. Ele reinará como Rei e prosperará.’ ... E veja o nome que a Ele será dado: Justiça será dada a nós naqueles dias em nome de Yahweh” (Targum de Jeremias 23:5,6). O Messias de Israel então é semelhante a Deus e carrega o nome (Yahweh) de Deus. Mas a identidade não é limitada ao nome: a identidade inclui atributos comuns, tais como a eternidade e a realeza. De fato, numerosas passagens no Midrash e no Talmud trazem o Messias e Deus juntos em sua eternidade e fazem de ambos os “primeiros”. “Eu manifestarei a mim mesmo o primeiro como Deus ... e Eu trarei a ti o ‘primeiro’, e este é o Messias” (Pesiqta de Rab Kahana, Pisqa 28).

Comentando em Isaias 9:6, o Targum clareia ainda portanto os atributos divinos do Messias: “O profeta diz à casa de Davi: Um professor mestre é nascido a nós, um filho é nosso; Ele tomará a lei sobre si e será um guarda sobre ela; desde o princípio Seu nome será pronunciado: Maravilhoso em conselho, Poderoso Deus, Eterno, Messias durante cujos dias a paz será abundante sobre nós” (Targum de Isaias 9:5).

Um antigo Midrash vai além ao identificar a monarquia do Messias com a divina monarquia. “Um rei de carne e osso não permite a ninguém colocar a coroa em sua cabeça; mas o dia virá quando o Santo, bendito seja Ele, colocará Sua coroa na cabeça do Rei Messias” (Exodus Rabbah 8:1, em Exodo 7:1).

Nenhum espanto então que o Messias e Deus dividam o mesmo espírito! De fato, o Messias possui o mesmo espírito que Deus. O Midrash toma esta lição das primeiras palavras da história bíblica da Criação. “Genesis 1:2: ‘ O espírito de Deus estava se movendo sobre a face das águas’ indica que o espírito do Rei Messias estava presente, como escrito em Isaias 11:2: ‘ O Espírito do Senhor está sobre Ele’” (Genesis Rabbah 2:4, em Genesis 1:2).

De acordo com a tradição judaica, em sintonia com o registro bíblico, o Messias deveria ser identificado com o próprio Deus. Salvador, eterno, Rei supremo, o próprio Adonai dotado com o mesmo Espírito de Deus, mas também o filho de Davi, o filho de Jessé. O que se tornará inconcebível e irreconciliável mais tarde no judaísmo era porém perfeitamente aceitável nos primeiros estágios do pensamento rabínico.

Após um completo exame da literatura judaica antiga, esta é a surpreendente conclusão do acadêmico judeu David Flusser, da Universidade Hebraica de Jerusalém:

“Na Literatura do Midrash, as formas do Messias adquirem uma dimensão a qual é além da vida diária e ultrapassa o entendimento humano.”

1 - Isaias 1:9; 9:10; 16:6; 22:13; 24:16; 25:9; 26:1,8,13,17-18; 28:15; 33:2; 42:24; 59:9-12; 64:3,5-6,8-9.
2 - Veja Isaias 41:8; 43:5; 44:3; 45:19,25; 59:21; 61:9; 65:9; 66:22; compare também com Jeremias 31:36-37; 33:26; 2 Crônicas 20:7.
3 - 2 Samuel 3:18; 7:5; 1 Reis 11:32,36,38; 14:8; 2 Reis 19:34; 20:6; 1 Crônicas 17:7.
4 - Isaias 8:17; 45:15; 50:6; 53:3; 54:8; 57:17; 59:2.
5 - Exodo 3:6 com Isaias 53:3 é a única exceção, quando um ser humano esconde sua face de diante de Deus.
6 - Veja André Dupont-Sommer, Os Escritos Essênios de Qumran, traduzido por G. Vermes (Gloucester . Mass.: Peter Smith, 1973), 364-366.
7 - Veja David Berger, The Rebbe, the Messiah, and the Scandal of Orthodox Indifference (London: Portland, Or.: Littman Library of Jewish Civilization, 2001), 23.
8 - Compare Abraham Sarsowsky, Die ethisch-religiöse Bedeutung der Alt-testamentlichen Namen nach Talmud, Targum, und Midrash(Kirchhain: Max Schmersow, 1904).
9 - R. David ibn Abi Zimra (Radbaz, 1480-1574), Responsa (Hebrew), vol. iii, no.1069; compare Berger, The Rebbe, 38.
10 - Esta é a designação comum de Deus na literatura rabínica.
11 - David Flusser, “O Conceito do Messias”, em Jewish Sources in Early Christianity (New York: Adam Books, 1987), 56.

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