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Cristãos-novos


PERFIL
HÉLIO DANIEL CORDEIRO
No. 065 - Julho/2003
De Stachow à USP. Infância e
formação de Anita Novinsky
        Responsável pela introdução dos estudos da Inquisição na Universidade de São Paulo, a historiadora revela detalhes de sua cidade natal na Polônia, da infância e formação intelectual no Brasil e de seus estudos acadêmicos em Israel e Portugal. Na entrevista exclusiva à JUDAICA, concedida durante quase três horas em seu apartamento no Jardim Europa, a professora fala da religiosidade de sua mãe e do sionismo de seu pai, das influências filosóficas da amiga Mina Kuperman e do tio Miguel Zaltzman, dos professores João Cruz Costa e Haim Beinart, da amizade com Leon Feffer e muito mais. Por sua atuação na vida cultural judaico-brasileira e, principalmente por seus estudos em torno do marranismo, Anita Novinsky é o destaque Judaísmo e Cultura 2003 (1).
        Vamos começar falando de sua cidade natal, Stachow. Ela fica onde na Polônia?
        Próximo de Cracóvia, a umas duas horas de carro desta cidade. Stachow era um shtetl (2) onde a maioria da população era judia e praticamente toda ela foi exterminada pelos nazistas. Estive lá há dois anos. Ela continua sendo pequeníssima. Tem uma grande praça central com as lojas, o mercado e casas em volta.
        Seus pais também nasceram em Stachow?
        Minha mãe sim, meu pai nasceu em Kielce (Polônia).
        Quais os nomes de seus pais?
        Minha mãe se chamava Gitl (3) Buchwald (4) e meu pai Shimil (5) Waingarten (6). Depois ele mudou o sobrenome para Waingort aqui no Brasil.
        Eles vieram diretamente para São Paulo?
        Meu pai veio na frente, antes da II Guerra Mundial, porque ele sentiu que a situação estava se agravando na Polônia. Ele pretendia preparar o caminho para nos levar para os Estados Unidos. Quando ele chegou no Brasil, escreveu nos dizendo que aqui parecia umaGolden Land, uma terra de ouro. Resolveu ficar no Brasil e mandou nos buscar.
        Minha mãe contava que antes de embarcarmos, meu avô nos acompanhou e me carregava no colo o tempo todo. Eu tinha um ano e meio e era muito pesada para ele. Mamãe dizia: "Larga ela, é tão pesada." E aí meu avô me abraçava mais forte ainda e perguntava: "Quando é que eu vou ver ela de novo?"
        Meu avô ficou na Polônia. Meus pais tentaram depois trazê-lo para o Brasil, mas ele dizia que os negócios estavam ruins por lá e queria adiar a viagem para primeiro vender seus imóveis na praça principal de Stachow. Ele acabou assassinado na câmara de gás de Auschwitz. Tenho ainda a última carta que ele me escreveu.
        Quando estive agora na Polônia, eu fui com uma estudante falar com os idosos da vila para ver se encontrava a casa onde meu avô morava. Um deles me mostrou e agora ela está habitada por um polaco. Alguns homens que passavam na rua e ouviram a nossa conversa comentaram em polonês (e dando risada) que quando os nazistas chegaram bateram bastante nele e o chamavam de "judeu".
        Todas aquelas propriedades pertencentes aos judeus foram confiscadas pelo regime comunista da Polônia, nunca foram devolvidas e hoje pertencem aos polacos.
        Como foi a viagem para o Brasil?
        Viemos minha mãe, eu e minha irmã, só nós três, na terceira classe de um navio de imigrantes. Minha mãe sempre contava que eu estava muito doente durante a viagem. Um dia o comandante me viu chorando e perguntou para minha mãe o que eu tinha. Quando soube que eu estava doente, pediu para o garçom me trazer um suco de laranja. Nem isso tínhamos na terceira classe. Costumo contar isso para minhas filhas, que cresceram no Brasil com toda a fartura, em liberdade e sem saber o que foi o anti-semitismo.
        Como foram os primeiros anos em São Paulo?
        Como todo judeu o meu pai fez comércio para poder sobreviver. Ele gostava bastante de terras. Como na Polônia ele não podia ter terras, ele comprou muitas propriedades aqui e foi um dos primeiros fazendeiros judeus no Brasil. Ele tinha uma fazenda imensa perto de Sorocaba e foi ele quem introduziu a indústria de carpas no País. Não existia carpa no Brasil e como judeu gosta muito desse peixe na Páscoa, meu pai introduziu a criação de carpa na fazenda dele.
        Na época da Páscoa iam frigoríficos buscar as carpas na fazenda. E ainda há pouco existia no Guarujá uma peixaria chamada Peixaria do Sol, que se abastecia só com os peixes da Fazenda do Sol de meu pai, como era chamada.
        Meu pai passava só dois ou três dias por semana na sua loja, chamada a Cidade de Viena, localizada na esquina da Rua José Bonifácio com a Paulo Egídio. Foi uma das primeiras lojas a trabalhar pret-a-porte. Ele ficava pouco na loja porque não gostava de comércio, mas aquilo era a sua sobrevivência. Depois na quarta ou quinta-feira ele já ia para a fazenda e ficava lá até domingo. Depois que papai morreu eu vendi esta fazendo para o Antônio Ermínio de Morais.
        Você ia muito à fazenda?
        Não muito, eu gostava mais de praia. Minha irmã Luíza gostava mais e ia muito com meu pai. Minha irmã foi casada com um grande cientista, o José Setzer, professor de Geologia na USP e um dos maiores climatologistas do mundo. E hoje, o filho dele, o Valdemar Setzer também é professor da USP, com vários livros publicados. Ele tem um livro maravilhoso sobre educação de criança que você vai adorar (7) e vou emprestar para você. O Valdemar é antropósofo.
        Rudolf Steiner...
        Isso mesmo. É uma beleza a filosofia de Steiner.
        Onde você morava quando criança?
        Nos anos 30 meu pai comprou um terreno na Av. Brasil, 637 quando ela ainda não era asfaltada e construiu nossa casa lá. Enquanto isso morávamos na Rua Guadalupe. Ele foi um dos primeiros judeus a residir no Jardim América, os outros dois eram o David Kopenhagen e o Samuel Saslavsky.
        Nossa casa era maravilhosa, muito grande, com um jardim imenso. Tínhamos oito cachorros e às vezes até mais, dinamarqueses, bacês... Meu pai era fanático por cachorros. E eu também gosto (8).
        Nesta casa na Avenida Brasil se reuniram os primeiros sionistas do Estado de São Paulo. Meu pai foi fundador do partido sionista paulista. Ele nunca gostou de kavod, de receber as honras, e deu a presidência para o Maurício Blaustein. Meu pai, o Blaustein e o Bidlowsky foram os três homens que fizeram o partido sionista em São Paulo.
        Quando o Beguin (9) veio ao Brasil pela primeira vez, antes do Estado de Israel conquistar a sua independência, ele foi recebido pelo meu pai e pelo Adhemar de Barros. Na ocasião meu pai fez um discurso e tenho ele gravado até hoje. Vou doá-lo ao Museu Sionista de Israel. Depois vieram os Shazar e outras autoridades do futuro Israel, eles ficavam em nossa casa. Fui criada numa casa sionista.
        Nestas reuniões sionistas de nossa casa é que começou a aparecer um jovem interessado no sionismo: o Leon Feffer.
        Que interessante! Como foi a sua amizade com o Leon Feffer?
        O Leon Feffer era para mim como um segundo pai. Ele vinha sempre aos sábados comer shulent (10) conosco. Até o fim da sua vida ele lembrava do shulent de minha mãe. Depois perdemos um pouco o contato, mas aconteceu de ele vir morar no prédio ao lado e ser meu vizinho. Aí nos reencontramos e renasceu aquela amizade. Eu era como uma filha para ele. Ele vinha quase todas as noites aqui em casa. Às vezes ele saia de um reunião às onze horas da noite e passava aqui e sentava nesta cadeira (11).
        Tínhamos muita coisa para conversar. Ele lembrava daquelas antigas reuniões, de todo o movimento sionista, enfim... A música iídiche também nos unia muito. Eu colocava canções iídiches para tocar e ele aqui sentado chorava de emoção. A música que ele mais gostava era Vu ahin zol ich gein ("Para onde eu vou?")
        Eu também ia muito à casa dele aos domingos de manhã, quando fazia as reuniões de música. Ele tocava violino e seu neto Rubinho tocava piano. Tenho comigo a fita cassete do Leon Feffer tocando as músicas. Um dia ele me convidou para eu falar sobre os meus estudos. Ele fez uma reunião com a família e seus amigos e eu falei sobre as raízes judaicas do Brasil. Tenho também uma cópia em vídeo desta reunião. O vídeo ficou muito lindo.
        Quando abrimos o congresso Confarad em São Paulo, fizemos uma homenagem ao Leon Feffer. Eu chamei o Rubinho para representar a família e disse que a melhor homenagem que poderíamos prestar ao Leon Feffer era ouvi-lo tocar violino. Então colocamos o cassete para todos ouvi-lo tocar.
        Como era o judaísmo em sua casa?
        Minha mãe era ortodoxa, estritamente casher (12). Em Pessach (13) trocava-se toda a louça, limpava-se toda a casa, o Shabat (14) era sagrado, para as sextas-feiras à noite fazia-se aqueles jantares deliciosos que desde a rua a gente já sentia o cheiro apetitoso. Um grande desgosto que eu dava para a minha mãe, e hoje eu lamento, é que eu não guardava o Shabat.
        Fui criada em uma casa que era ultra-ortodoxa pelo lado de minha mãe, enquanto meu pai era um livre-pensador, completamente ateu, ao mesmo tempo que ele era muito sionista. Dessas duas heranças, a religião e o sionismo, eu herdei o amor à história.
        Onde você estudou o primário e o ginásio?
        Na Escola Americana do Mackenzie, em Higienópolis.
        O que levou você a estudar Filosofia na USP?
        Entrei na USP com 18 anos. Tenho a impressão que desde os dez anos de idade eu sofri a influência de duas pessoas altamente cultas. Uma foi uma moça que morava conosco.
        Os judeus tinham o costume de ajudar os pobres. Uma família quando tinha lugar em sua casa ajudava as crianças judias abandonadas. O estudo era tão importante para os judeus na Europa que quando uma aldeia com escola sabia que havia crianças sem escola em outra aldeia, eles as traziam para estudar. Meu avô, como tinha muitas casas, trazia as crianças das aldeias vizinhas para estudar em Stachow.
        Uma de minhas influências foi uma moça órfã, que eu chamava de tia, que meus pais mandaram vir da Polônia e a abrigaram em nossa casa aqui no Brasil. Esta mulher foi a primeira feminista que eu conheci. Ela escrevia para jornais nos Estados Unidos, conhecia hebraico e iídiche, filosofia, Spinoza, Kant, Cervantes... Ela se chamava Mina Kuperman.
E a outra pessoa que me influenciou, que era casado com a irmã de minha mãe, foi o Miguel Zaltzman. O Leon Feffer gostava muito dele. O Zaltzman era um grande talmudista e hebraista. Conhecia Goethe, era poeta e pintava que era uma beleza. Eu ainda tenho aqui em casa dois quadros que ele pintou da minha mãe e do meu pai. Ele era um judeu revisionista, da linha do Jabotinsky.
        Aliás, Jabotinsky foi um profeta. Ele entendeu que se os judeus não pegassem em armas, se não formassem um exército, iriam como gado para o matadouro. Acho que ainda não foi dada a devida justiça à obra do Wladimir Jabotinsky.
        A faculdade de Filosofia ficava na Rua Maria Antônia?
        Não, o curso era ainda na Praça da República, no terceiro andar da Escola Normal (15). A USP foi criada lá pelo Armando de Salles Oliveira. Dizem que ele também era judeu. Comecei lá e terminei na Maria Antônia.
        No meu curso de Filosofia eu me apaixonei pela filosofia de Spinoza, principalmente por causa de suas origens judaico-ibéricas. Alguns filósofos chamaram mais a sua atenção durante o curso?
        Quero destacar aqueles que lecionaram na USP e foram meus professores, como os catedráticos Jean Mougue, Granget, Gurvitch, Otto Kleinberg e os seus assistentes brasileiros: o João Cruz Costa e o Lívio Teixeira.
        O que fez com que você trocasse a Filosofia pela História, quando terminou a graduação?
        Quando eu estava no primeiro ano de Filosofia, o João Cruz Costa um dia chegou para mim e disse: "Ah, então você é judia. Você já ouviu falar de Lúcio de Azevedo?" Eu disse: não. E ele continuou: "Você já ouviu falar em Mendes dos Remédios?" Não, disse também. Daí ele pediu: "Então pega um lápis e escreva: João Lúcio de Azevedo: História dos Cristãos-novos Portugueses, Joaquim Mendes dos Remédios: História dos Judeus em Portugal..." Ele me deu uma lista de livros e continuou: "Este País foi feito por judeus. Você tem uma missão: estudar a história dos cristãos-novos no Brasil." Aí eu comecei a me interessar pela história dos cristãos-novos.
        Você não tinha a menor idéia da existência dos cristãos-novos?
        Nada, nunca tinha ouvido falar de cristão-novo. Mas tenho de lhe contar uma passagem importante na minha casa. Quando eu era criança, com uns nove ou dez anos, minha mãe que não era formada em universidade mas gostava muito de ler os jornais e revistas em iídiche que recebia dos Estados Unidos, dizia para mim: "Você não conhece nada de história. Você sabe o que fizeram com os judeus na Espanha? Você sabe que eles queimavam os judeus? Você sabe quem foi Torquemada? Ele mandava torturar e matar os judeus."
        Minha mãe falava tanto em Torquemada que fiquei com esse nome na cabeça. Quando o João Cruz Costa me mandou ler aqueles livros, eu encontrei o nome do Torquemada e imediatamente me lembrei do que minha mãe me tinha dito. Aí comecei a me apaixonar pelo assunto.
        Depois que você passou a estudar este tema, alguma vez você perguntou ao João Cruz Costa por que ele se interessava tanto pelos cristãos-novos?
        Ele disse para mim que era de origem judaica e que o nome Cruz foi adotado justamente para despistar a Inquisição. Ele era um grande batalhador pelo humanismo, autor de Contribuição à História das Idéias no Brasil (16). Inclusive a tese de doutorado dele foi sobre Francisco Saches, um judeu de Portugal precursor de Descartes (17).
        Muito interessante!
        Então quando terminei o curso de Filosofia em 1956 o professor Lourival Gomes Machado (que era sociólogo) me chamou em sua sala e disse que eu ia trabalhar o meu doutoramento sobre os cristãos-novos. Passei então para a História e fui orientada nas pesquisas pelo Cruz Costa e o Gomes Machado.
        Em 1963 você foi estudar com o Haim Beinart em Jerusalém. Como foi isso?
        Eu conheci uma pessoa aqui em São Paulo, que era de Israel, que me aconselhou ir estudar com o Beinart. Não havia nenhum especialista em marranismo no Brasil. Os primeiros estudos que fiz sobre o marranismo foi com o Haim Beinart, que era discípulo de Itzhik Baer.
        Eu não conhecia Israel e resolvi que queria ir. Viajei no navio que fez a a primeira viagem Brasil-Israel, o Theodor Herzl. Este navio levou a primeira leva de turistas brasileiros para Israel. Viajei com a minha filha Sônia, que ia junto com um grupo de estudantes. A viagem durou 17 dias.
        Eu não conhecia ninguém em Israel e não sabia onde morar. Recomendaram-me uma senhora em Jerusalém que alugava quartos. A casa ficava na King George, 42, no centro de Jerusalém, e esta senhora muito distinta era ninguém menos que a filha do Eliezer Ben Yehuda, o inspirador do hebraico moderno. Chamava-se Ada Ben Yehuda.
        Contei ao Beinart que eu queria estudar marranismo e ele ficou muito encantado comigo. Umas três vezes por semana ele vinha a esta casa onde passei a morar. Ele passava a tarde inteira me dando aula e colocou à minha disposição os livros da biblioteca da Universidade Hebraica.
        Onde ficava a biblioteca da universidade?
        Onde está o Gvat Gan hoje, na Faculdade de Ciências, em frente ao Knesset (18). A biblioteca central onde eu estudei ainda hoje está lá. Ali eu tinha uma mesa e todos os livros que eu queria eram colocados à minha disposição. Estudei quase um ano em Israel.
        Então o seu mergulho no assunto aconteceu em Jerusalém?
        Foi lá, mesmo. Não havia nenhum especialista no Brasil. Tinha só o Cruz Costa que me chamou a atenção. Varnhagen no século XIX, Capistrano de Abreu, Rodolfo Garcia e Paulo Prado no início do século XX falaram da importância dos cristãos-novos, mas depois a tradição se perdeu e até a década de 1960 não se falou mais no assunto.
        Depois, em 1965 você foi estudar em Portugal. Como foi esta experiência?
        Eu ganhei uma bolsa da Fundação Caloustre Gulbekian e passei um ano trabalhando no arquivo da Torre do Tombo. Ali eu vasculhei todos os arquivos de Lisboa (da Academia de Ciências, da Biblioteca Nacional e da Biblioteca da Ajuda), depois trabalhei na Biblioteca Pública do Porto e de Évora.
        Como foi o acesso a este material em meio à ditadura de Salazar?
        Os judeus de Lisboa formavam uma pequena comunidade muito medrosa e tinham receio de falar. Então fui pesquisar na Torre do Tombo, dirigida pela Emília Felix, uma mulher maravilhosa que pôs um funcionário para me auxiliar nos depósitos. Ele subia em uma escada enorme e retirava do alto das estantes os papéis cheios de poeira.
        Eu trabalhei diretamente nos depósitos, porque o Arquivo Nacional da Torre do Tombo estava fechado ao público. Microfilmei muita coisa e tenho esta documentação toda indexada. Isso não foi feito tudo de uma vez, mas ao longo de 30 anos. No início, para eu poder trabalhar nos depósitos e microfilmar aqueles documentos, precisei de uma carta do ministro da Educação português.
        Em 1965 havia outros pesquisadores na Torre do Tombo?
        A única pessoa que trabalhou lá foi a Sônia Siqueira. Ela ficou uns dois meses pesquisando.
        E os portugueses?
        Nenhum nessa época. O Antônio José Saraiva publicou seu livro (19) só em 69. O único que tinha sido arquivista lá e publicou alguns trabalhos nessa época foi o Bivar Guerra. Era um homem maravilhoso que escreveu um livro sobre os judeus de Barcelos.
        Outro pesquisador foi o Revah (20). Ele morava na França, mas todo ano, em agosto, ele passava um mês em Lisboa para trabalhar nos arquivos. Eu conheci ele lá. Nós dois morávamos na York House, uma casa em Lisboa que era o centro da intelectualidade dos pesquisadores de fora que vinham pesquisar em Portugal. Nós íamos e voltávamos a pé da Torre do Tombo e conversávamos muito.
        Como foi a repercussão de sua tese Cristãos-novos na Bahia (21)?
        Depois que o Lourival Gomes Machado foi para Paris trabalhar como diretor cultural da Unesco, passei a ser orientada pelo Sérgio Buarque de Hollanda. Foi ele quem nesse período teve maior influência no meu trabalho.
        Quando eu publiquei Cristãos-novos na Bahia tive de romper com o Haim Beinart. Ele ficou possesso quando leu a minha tese, alegando que ela era marxista. Eu coloquei tudo em termos de luta de classes, a aristocracia contra a burguesia e a classe média. Ele achava que não era isso. Para Beinart a perseguição contra os judeus era religiosa e para mim era uma perseguição econômica.
        O problema é que ele não soube acatar, reconhecer e nem tolerar as minhas idéias. Ele ficou furioso e começou a me atacar. Então eu rompi com ele e durante 20 anos não nos falamos. Agora nos reconciliamos, porque ele está velhinho e o reencontrei na casa de amigos em Portugal.
        E vou dizer mais: eu queria me mudar para Israel naquela época (início dos anos 70). Minhas filhas eram pequenas, o Maurício meu marido também gostava muito de lá e foi convidado para trabalhar na indústria bélica israelense. Ofereceram uma casa em Ashkelon, carro, telefone e um bom salário. Também o secretário do Shimon Peres telefonou-me diretamente para dizer que precisavam do Maurício em Israel. Quem acabou atrapalhando minha ida foi o Beinart.
        Bem, você ficou mesmo no Brasil e cumpriu a sua missão...
        De fato! Eu introduzi os estudos inquisitoriais no Brasil. Comecei a dar aulas sobre a Inquisição na USP em 1969. A Universidade de São Paulo foi a primeira no mundo que colocou no seu currículo o estudo da Inquisição.
Notas:
1) O Destaque Judaísmo e Cultura foi criado pela revista JUDAICA para ressaltar o trabalho cultural, social e comunitário daquelas pessoas envolvidas nestas áreas. Os destaques já contemplados (categoria nacional) foram: Leon Feffer, Samuel Klein, Marcos Arbaitman, Joseph e Moise Safra e Girsz Aronson.
2) Aldeia na Europa Oriental habitada basicamente por judeus (em iídiche).
3) Virou Eugênia no Brasil.
4) Floresta de livro (em iídiche).
5) Samuel.
6) Jardim de vinha (em iídiche).
7) Meios Eletrônicos e Educação: Uma Visão Alternativa (Ed. Escrituras, São Paulo, 2001).
8) Enquanto dava esta entrevista, seu cachorrinho bege atual descansava em seu colo.
9) Menahem Beguin, que depois foi primeiro-ministro de Israel.
10) Feijoada judaica.
11) Mostra a cadeira, a mesma onde a entrevistada estava sentada.
12) Código de leis dietéticas judaicas.
13) Páscoa judaica.
14) Sábado judaico, do anoitecer de sexta-feira ao anoitecer do sábado.
15) Onde hoje é a Secretaria Estadual de Educação.
16) Ed. José Olympio, Rio de Janeiro, 1956.
17) Ensaio sobre a Vida e Obra do Filósofo Francisco Sanches (FFCL-USP, São Paulo, 1942).
18) Parlamento israelense.
19) Inquisição e Cristãos-novos (Ed. Inova, Porto).
20) Israel Salvador Revah.
21) Ed. Perspectiva, São Paulo, 1972.
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