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Quando a doutrina embaça seu livre arbítrio, em nome da religião

Pacard

Estudioso das Escrituras (Dati)*

Não faço parte de nenhuma denominação religiosa formal, o que não me desqualifica no campo da fé, ou das crenças religiosas, e arcabouço doutrinário, que compõe muitas delas, e que, buscando de tudo conhecer, e reter o que é bom, ouso ser humilde em reconhecer que não sou nada sem meu conhecimento das coisas pertinentes à substância do que sou, diante de Quem me criou à Sua Imagem e Semelhança, com o único propósito de amar-me, incondicionalmente, pois "amar a D's" não é uma ordem, e sim uma sugestão, um ensinamento, para que eu possa compreender o amor, e assim o compreendendo, possa usufruir mais desse amor incompreensível, senão a quem verdadeiramente sabe o que é o amor.

Há alguma coisa nas doutrinas, e aqui não falo das religiões, porque a religião é o conjunto de crenças para o bom relacionamento do Ser Humano com Seu Criador, para os monoteístas, ou mesmo com suas divindades, para os politeístas. Então, aqui não há nenhuma diferença entre uma e outra religião, e não posso qualificar uma ou desqualificar a outra, enquanto religião, pois todas elas pregam a leitura de seus expoentes intelectuais e nesse caso, espirituais, diante da forma de culto às suas divindades. Então, o budista ou o brâmane não são melhores e nem piores que o cristão, judeu, ou muçulmano, no tocante à finalidade da instituição de suas doutrinas para formatação das religiões.

Outra situação distinta, são as doutrinas, que, cada uma a seu modo, procuram explicar a leitura que fazer da relação entre o Humano e o Divino, estabelecendo cercas e muros de proteção das doutrinas, e delimitando territórios, para que os prosélitos se estabeleçam sob a tutela, ao que chamam de proteção, de seu tempero doutrinário e modo de viver de acordo com a religião.

Já, dentro das doutrinas, é necessário que haja um ponto de confluência dos fiéis, ao que cada uma denomina de acordo com seus costumes e etimologia: Igrejas, Sinagogas, Mesquitas, Templos, Capelas Grutas, Montanhas, ou até mesmo um cantinho reservado do quarto, destinado ao encontro reverente do crente com sua divindade. Nesse ponto a diversificação do local é tão ampla quanto a variedade de religiões, formais ou informais, e o local de culto, ou meditação, reflexão, súplica ou agradecimento, é tão amplo quanto é esta diversidade: Montanhas, campinas, praias, templos, capelas, entrada da casa com um livro sagrado aberto, ou velas e luminárias decorativas de uso espiritual, e assim por diante.

Em todas elas, ou quase todas, há um ponto em comum: Apontam o certo e o errado, e estabelecem limites, ou freios morais e espirituais, para que, em nome da unidade religiosa e da pureza da fé, e para que não seja maculado o bom nome das instituições, e com estes limites ou freios morais e espirituais, transgridem elas próprias  os limites daquilo que ensinam, cerceando a livre escolha dos membros às praticas morais, ou espirituais das doutrinas que formam suas denominações.

Dou um exemplo bastante conhecido, e só posso escrever isso, sem represália corporativa, pelo que descrevo acerca de minha livre escola de pensamento, sem o atrelamento denominacional ou institucional, tomando um exemplo bem conhecido: Vinho e álcool. Pode ou não pode? É proibido, ou é permitido? As traduções da Bíblia, nos seus mais variados formatos, não estabelecem uma clara proibição ao vinho, senão apenas recomenda que os crentes não sejam dados à bebedeira, e não vou estender-me às interpretações esdrúxulas, e tentativas de forçar traduções que não existem, para justificar proibições institucionais ao uso destas bebidas, da mesma forma, criando regras e proibições, com sanções à desobediência, no mesmo patamar de proibições claras da Bíblia, como beber sangue, comer carnes imundas, manter relações durante o período menstrual, comer alimentos ofertados à ídolos, ou trabalhar no Sábado, isso, se estivermos tratando de religiões judaica e algumas vertentes cristãs, sem especificar esta ou aquela.

Vejamos o intento de tais proibições e suas justificativas, embora a proibição em si, já esteja ferindo a ética, no conceito do livre arbítrio, mas ficamos por aqui, senão esse tema não chegaria a um termo. Cada denominação dá um nome específico ao conjunto de regras que estabelecem na organização cultual e comunitária, se estivermos falando de costumes práticos, pois aqui se irmanam nesses costumes, um e outro, o monoteísta e o politeísta, que não começam uma refeição, sem oferecer ou agradecer à sua divindade, pelo alimento ou benesse recebida.

No judaísmo, o conjunto de normas periféricas e adicionais aos textos da Torá (Pentateuco), é chamado de "Halachá", que significa "Caminhar a caminhada, cumprir a jornada". No cristianismo católico, são os Dogmas e Leis Canônicas. No protestantismo, que arbitra a si o qualificativo de "Sola Fide, Sola Gratia, Solo Dei, Sola Scriptura", não deixa de ornamentar as regras bíblicas com regras de costumes, que pelo tempo de uso, tornam-se parte não declarada das doutrinas, e sua transgressão, ofende aos prosélitos, não só se um não crente a transgride, como, e especialmente, se um crente ultrapassa seus limites, e de acordo com o envolvimento do faltoso na ordem, proporcional será sua punição, seja por um olhar severo, uma reprimenda, um afastamento temporário, ou de acordo com a gravidade, definitivo, e como foi nos tempos passados, ao extermínio do meio social, pelo banimento ou morte, em nome da pureza espiritual da comunidade, como tal ainda acontece em outros lugares do mundo, ainda hoje, dentro do "apogeu tecnológico e do conhecimento", pois quando se trata de arbitrar sobre o outro, tanto faz se está dentro de casa, na família, na comunidade, ou na corporação global.

A punição pelo ato falho, começa pelo constrangimento da separação de corpos entre a pureza da comunidade unida, até o banimento social não comunicado, velado, mas visível. Assim, como disse antes, as corporações estabelecem e escrevem suas normas doutrinárias (isso não acontece apenas na religião, mas em todo grupamento ideológico humano, e pasme, também, animal, basta ver o modelo das sociedades selvagens no tocante à punição de membros faltosos do bando, diante de determinada situação, como dormir durante a guarda pelo sentinela, ou embrenhar-se com as fêmeas de outro bando, ou do próprio bando, se não for o "macho alfa" do bando. Desse modo, o "macho alfa" de uma instituição doutrinária, tanto pode ser o ancião, o líder religioso, como qualquer um que se sinta incomodado pela prática pessoal fora do eixo doutrinário de um membro, ainda que tal prática dê-se entre as quatro paredes de seu habitat. É aqui que entram as ilações, elucubrações e maledicências, que se espalham entre a comunidade como água pelas frestas, e em pouco tempo, suspeitas, tornam-se motivos de constrangimento, e do constrangimento, a exoneração do grupo, envergonhando e sobrepesando as culpas que realmente acredita que tenha sobre seus pecados, o impenitente membro.

Sair de uma comunidade ou de um grupo, seja de modo espontâneo, ou por banimento, é algo extremamente doloroso para o apenado, e em muitos casos, até mesmo para o grupo, porque há os que verdadeiramente acreditam que por estarem punindo aquele que pensa ou caminha fora do compasso dos hinos devocionais, estará participando da purificação da alma do infeliz, e mais que isso, promovendo a limpeza semelhante ao que o Sumo Sacerdote fazia no dia de Yom Kipur, ou dos que retiram, durante a semana de Pessach (Páscoa Judaica), todo o "chametz, fermento, de acordo com o preceito da Torá, tanto nos tempos bíblicos, quanto ainda hoje, isto é, expurgando todo o fermento do mal que habita no faltoso, ainda que suas faltas sejam no modo de interpretação de um texto, ou na compreensão de outro.

O mais embaraçoso da situação é quando aquele que participa de tal prática, em determinado tempo da sua vida, percebe que o que fazia, não corresponde mais àquilo em que acredita em tempos posteriores, e varre para baixo do tapete os erros cometidos contra seu irmão, outrora amigo, e segue sua vida em outra direção, sem reparar o que contribuiu para a infelicidade do outro, porque acreditava fazer o certo.

O conceito de certo e errado, nos costumes que não afetam as doutrinas essenciais, que são o relacionamento do Divino com o Humano, e vice versa, e do Humano com seu semelhante, pode mudar de acordo com o tempo e o lugar, e o que antes era proibido, em outro tempo pode ter nova leitura, e aquilo que parecia se verdadeiro, pelo avanço do conhecimento, pode ser interpretado de outra forma, como pensar que a terra era plana, e o centro do Universo, e um dia descobrir que pode haver outra explicação, mas quem já foi para a fogueira, paciência, pois novos tempos, novos dogmas, e novas vítimas para purificar, e assim caminha a humanidade.

Mas e o livre arbítrio, fica onde, nessa reflexão? Nesta leitura, encontro uma única resposta: As denominações criam regras para proteger os fracos de si mesmos, no caso das bebidas alcoólicas, para proteger os ébrios de seu ímpeto pelo copo. Porém, esticar a verdade, continua sendo uma mentira, pois a verdade é feita de elementos sólidos com fator de dilatação zero, e qualquer tentativa de dourar a pílula, por mais amarga que seja, continua sendo temperar a mentira pelo bem comum. Assim, para proteger o Ser Humano de seu próprio mal, pisoteia-se a ética da escolha e do direito de errar ou acertar. Esse direito é o que nos torna semelhantes ao criador. O que passar disso, é ditadura espiritual, ainda que bem intencionada.

A não ser que eu tenha entendido errado, o próprio Criador, deu-nos o livre arbítrio, e a ninguém deu o direito de interferir no livre arbítrio do outro. O nome disso é intromissão. Então, beber vinho, é uma possibilidade. Não beber (meu caso), é uma escolha.


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