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LEONARDO GONÇALVES


Magazine Música

MÚSICARELIGIÃO

"As pessoas estão sedentas de arte"

Publicado a 20 Novembro 2010 por Gospelnodiva
Por Rafael Ramos – Fotos: Monique Carvalho (Sony Music Gospel)

É praticamente impossível sair de uma conversa comLeonardo Gonçalves sem ter seus horizontes ampliados para a arte e para a própria vida. Nosso editor-chefe, Rafael Ramos, esteve com o cantor na sede da Sony Music na tarde da última terça-feira (16) para falar sobre o CD Avinu Malkenu e, na verdade, teve uma verdadeira aula sobre cultura judaica. Além de falar sobre esse projeto inédito no Brasil, Leonardo conversou sobre arte, comunicação e adiantou um pouquinho do que o público pode aguardar do seu CD em português que sairá só no ano que vem e que promete surpreender o povo de Deus com um assunto bem pertinente em nossa sociedade e fez até uso de uma citação de Martinho Lutero: “Se eu soubesse com certeza que Jesus voltaria amanhã, hoje eu plantaria uma macieira”.

1. O que começou esse CD foi a descoberta de sua ascendência judaica. Como se deu essa busca?
Foi bem por acaso porque, na verdade, meu grande amigo que hoje é meu pastor ainda estava no seminário estava querendo me puxar para essa via judaica faz um tempinho porque existe um trabalho especial dentro da Igreja Adventista chamado Beth B’nei Tsion (Casa dos filhos de Sião) que é o termo judaico adventista. Ele estava começando a se envolver com esse pessoal e nosso diretor nacional Reinaldo Siqueira já estava falando que eu devia lançar um CD em hebraico antes de lançar meu primeiro trabalho em português e foi por aí que começou a descoberta da minha ascendência. Aí ele me convidou para organizar a música do Rosh Hashaná (Festa do Ano Novo judeu) em 2002 e fiquei fascinado pela cultura. Só que eu tinha decidido para mim foi a primeira vez que levei meu avô para congregar com a gente e no decorrer do culto ele foi ficando cada vez mais emocionado e ele explicou que o avô do meu avô faleceu quando ele tinha oito anos de idade e, ao participar da liturgia e escutar algumas das músicas, ele foi lembrando de coisas da primeira infância dele. A gente sabe que os judeus foram expulsos da Península Ibérica no século XVI naquela época ainda da Inquisição e de Portugal todos iam para o Nordeste brasileiro (Pernambuco) e minha família toda por parte de mãe é de Pernambuco. E assim 1+1=2 e ali se constatou depois de muita pesquisa a ascendência judaica por parte da minha mãe e aí foi o empurrãozinho que eu precisava para começar a selecionar repertório. A gente ficou dois anos selecionando repertório e uns seis anos gravando.
2. Você acha que o CD teria esse resultado se fosse lançado de imediato em 2002?
Jamais... Jamais... Mesmo eu que sou devagar, lerdo, enrolado, quebrei todos os recordes que dá para você demorar para fazer um disco. Oito anos envolvidos em um projeto, seis anos efetivamente gravando é realmente exagerado. Só que eu creio muito que ele foi lançado no tempo de Deus sem querer me jogar assim a superstições religiosas que estão muito em voga hoje em dia. Eu estava mixando e masterizando o CD em Nova York em janeiro deste ano quando eu soube que a Sony estava abrindo um departamento de música cristã, logo quando eu retornei ao Brasil houve um convite para a gente conversar por parte do Mauricio (Soares, diretor executivo). Preciso ser sincero que sempre sonhei com a Sony para esse disco porque é um CD que não tem uma palavra em português e precisava ter a possibilidade de uma distribuição internacional. Isso para mim já foi uma confirmação de Deus no sentindo do time da coisa. Se ele tivesse ficado pronto antes eu teria lançado independente, teria feito cinco ou dez mil cópias, vendido isso pelo nome que eu tenho com os trabalhos de português e teria acabado por aí mesmo. A gente já tem uns dois meses de lançamento, mas a gente está começando a entrar no meio judaico agora e com a distribuição também que a Sony oferece esse CD está em todas as lojas. Isso foi uma, mas eu poderia pelos menos mais duas outras. Existe um projeto que eu não posso entrar em muitos detalhes, mas este ano meu tio assumiu uma posição na Igreja Adventista Mundial que a gente nunca podia ter imaginado um brasileiro assumir uma posição como essa e isso pode ajudar a levar este CD para outros países. Em terceiro lugar, talvez esse seja o recadinho de Deus mais óbvio foi o fato da faixa título é Avinu Malkenu que traduzido significa Nosso Pai, Nosso Rei e é a principal música do ponto alto espiritual do calendário religioso judaico que são os dez dias entre o Rosh Hashaná (o Ano Novo) e o Yom Kipur (Dia da Expiação) entre setembro e outubro. O CD chegou da fábrica no dia 08 de setembro exatamente às cinco e meia da tarde onde no Brasil inteiro as pessoas estavam se preparando para cantar Avinu Malkenu. Foi uma coincidência muito absurda, foi uma confirmação de Deus de que Deus estava no controle de tudo e que saiu da maneira que tinha que sair.
3. Foi fácil aprender o idioma hebraico? Qual a maior dificuldade que teve nas pronúncias?
O hebraico ainda estou aprendendo por causa da escrita e a questão da língua é realmente muito difícil e ainda estou tirando o atraso. Às vezes chega uma ou outra pessoa que descobriu o CD e chega para mim falando em hebraico e eu fico boiando. É muito importante constatar que eu não sou fluente em hebraico, fiz um trabalho muito sério de assimilação da cultura e da música judaica e na parte da pronúncia. A minha preocupação era muito grande de que fosse mais do que inteligível, mas que eu conseguisse transmitir o sentimento de cada palavra e de cada frase através da música embora eu entenda todas as palavras que eu canto. Praticamente eu cantei todas as músicas de cor tanto que estudei, aprendi e fiquei treinando, mas estou longe de estar fluente no hebraico. A pronúncia foi muito fácil porque morei fora durante 13 anos e já falo alguns outros idiomas, fui pegando alguns sons emprestados de cada idioma que eu conheço. Os judeus estão no mundo inteiro, existem 30 países com mais de cinco mil judeus e é claro que, por onde eles passam, eles sofrem influência da cultura local. No período de gravação, a gente mostrou a muitos judeus espalhados em qualquer lugar e a pessoa sabe que eu não nasci em Israel, mas é perfeitamente inteligível e, em relação ao sotaque, ninguém consegue dizer de onde eu sou. Eu consegui fazer uma coisa que fosse inteligível meio que inlocalizável.
4. Hava Nagila é uma canção do folclore de Israel. Ela chegou a ser cogitada para o repertório?
Três músicas que a gente pensou em gravar, mas descartou para não cair no óbvio: Hava Nagila, hevenu shalom alecheme o próprio Hatikvah que é o hino nacional de Israel. São três músicas que passaram pela nossa cabeça, mas a gente quis fazer uma coisa que viesse numa linguagem musical mais diferente. Tem algumas músicas óbvias como Adon olam,Avinu Malkenu e Yerushalayim shel zahav, mas a gente conseguiu fazê-las em arranjos completamente inusitados que contribuam para a história da música judaica como ela exista há milênios até hoje.
5. Como definir a emoção ao gravar canções escritas por célebres compositores da cultura judaica como Nurit Hirsh que escreveu mais de mil canções?
A emoção é muito grande. A pós-modernidade está centrada no eu e isso acaba por colorir todas as igrejas, religiões e denominações. O importante sou eu, é o meu relacionamento com Deus, é a minha visão das coisas... Eu não sou contra isso, mas eu tive uma oportunidade de entrar numa questão do coletivo como eu nunca tinha entendido antes. Alguns conceitos bíblicos são de comunidade, o próprio conceito de santidade na Bíblia é um povo, uma comunidade. As músicas são litúrgicas, não é você quem canta, mas um grupo de pessoas; as orações não é você quem faz, elas foram escritas por outra pessoa. Você se insere num coletivo de milênios. Tradução é uma coisa maravilhosa, mas uma coisa é você ver o original do quadro de Van Gogh outra coisa é você ver a cópia num livro. Cantar o original, as palavras exatas que Isaías escreveu há aproximadamente 800 a.C., cara, é muito incrível, é de uma experiência que eu recomendaria para todo mundo de mergulhar no texto judaico, de pesquisar e de cantar essas músicas que tratam do coletivo, do indivíduo inserido dentro da comunidade.
6. A música judaica é usada para as celebrações do povo judeu e cada uma tem seu significado. Fale-nos um pouco sobre essa parte da música no meio do povo de Israel:
Preciso dar honra ao mérito. O Edson Nunes, que é o meu grandessíssimo amigo, produziu o CD juntamente comigo e, como ele estava muito mais adiantado nos estudos de judaísmo do que eu, essa parte de repertório ficou mais a cargo dele. Nas oito músicas tradicionais, ele escolheu Avinu Malkenu que é uma oração pedindo pelo perdão e pela misericórdia divina. Se a gente dividir em boxes, as primeiras três canções são orações – uma oração litúrgica, uma oração tradicional e uma oração nossa (o Pai Nosso) –, as próximas três músicas falam a respeito da Nova Jerusalém que são Yerushalayim shel zahav num estilo israelense, od yishama que é o estilo mais asquenazi do Leste europeu com aquelas músicas bem alegres e o l’shana habaa que é o estilo mais separdi que é o judeu árabe. O próximo bloco são músicas que falam da lei de Deus – l’cha Dodi que é a música litúrgica de introdução ao sábado, savlanutam shelhakedoshim que é uma música inédita que é a primeira mensagem angélica de Apocalipse 14.8,12 e v’haer enenuque é a música litúrgica da retirada do rolo da Torá. As últimas três músicas são duas músicas de Isaías 12 e Isaías 40 e osse shalom que é a música que fecha todos os cultos judaicos. O fato de serem 12 tribos de Israel e 12 músicas, a gente quis valorizar essa herança.
7. Esperava-se ver Leonardo Gonçalves usando os típicos trajes judaicosna capa do CD, mas o Carlos André Gomes (designer da gravadora) disse que a ideia para a capa surgiu durante as trocas de email entre vocês. Que ideias suas foram aproveitadas na arte desse projeto?
Eu sou por natureza uma pessoa prolixa que gosta de explicar as coisas. No meu primeiro email, ele tinha que entender quem era eu, qual era esse projeto, como ele surgiu, qual a ideia e qual o propósito. A partir disso, a gente se encontrou pessoalmente e ele tinha uma ideia maravilhosa que acabou não dando certo. Ele descobriu que a cidade de Jerusalém quanto mais você cava mais cidades você vai descobrindo porque tem uma cidade em cima da outra porque tem várias camadas geológicas de civilizações que já habitaram aquele lugar. Ele quis representar isso juntamente com a questão da raiz, mas ele não ficou satisfeito com o resultado e num segundo momento ele veio e deixou só a raiz com um fundo preto representando sobriedade. A ideia não poderia ter sido melhor e a gente se surpreendeu quando viu e deu aquele estalo. Tem tantos significados, embora seja uma coisa só, tem camadas de significados. Esse CD é a celebração da minha descoberta da minha ascendência judaica, no fundo é minha jornada pessoal musical atrás das minhas raízes. Outro significado é a Raiz de Davi que aparece no Antigo Testamento, especialmente no livro de Isaías, que é o símbolo do Messias. Quer um significado um pouco mais novo-testamentário tem Romanos 11 que é o ramo enxertado que são os gentios, o ramo natural que seria o judaísmo e a raiz de ambos os ramos é Deus. É uma capa sóbria e um disco bastante solene, contemplativo e reflexivo. A gente jamais faria uma capa com a Torá porque eu não quero fingir que sou judeu, quem sou eu para me apropriar de símbolos milenares. O nosso approach é muito mais light, queremos travar um diálogo em primeira mão artístico porque as tensões entre judaísmo e cristianismo são milenares.
8. Como nasceram as canções inéditas?
Letra de música é a coisa mais fácil de se fazer que tem a Bíblia inteira. As letras já estavam prontas, é só pegar o texto bíblico e musicar. Elas não nasceram em português e sim em hebraico. Eu fiz duas e meu irmão (André R. S. Gonçalves) fez duas e a ideia de fazer Isaías 40 me veio quando estava em Israel. Meu irmão já estava compondo a savlanutam shelhakedoshim e a mimmayne hayeshua, um trecho importantíssimo de Isaías 12.
9. Como o álbum foi recebido pela comunidade judaica?
Eles ainda estão começando a receber. Eu tenho tido um feedback muito legal de algumas pessoas como o Walter Feldman (deputado federal de São Paulo), a própria cantora Fortuna que é a mais expoente de música judaica. No dia do lançamento, cerca de 40 judeus passaram um feedback maravilhoso. Recebi uma ligação de uma mulher que trabalha no Einstein para a gente colocar esse CD a disposição do pessoal. A Patrícia que faz a assessoria de imprensa junto ao povo judaico. A gente ainda não tem um feedback em massa, mas o feedback isolado tem sido fenomenal superando todas as nossas expectativas. No futuro, a gente precisa ver na medida em que esse CD for chegando aos lugares onde precisa chegar.
10. Sentiu receio do CD não ser bem aceito no mercado por ser algo inédito no Brasil?
Olha... Eu nunca tive esse receio porque minha motivação nunca é comercial com nenhum dos discos. Eu penso em fazer o que creio que Deus colocou em meu coração e se vender bem e se não vender tudo bem. Isso está nas mãos de Deus, se foi Ele que colocou no coração, Ele tem que fazer aquilo ser pelo menos comercialmente viável. Eu não tive nenhum pingo de receio em relação a esse trabalho porque, desde que percebemos a qualidade que poderíamos alcançar com esse CD, a gente sempre focou no público internacional. Esse é um disco não vai ficar velho, daqui a dez anos ele vai estar tão atual como hoje. Como ele é um estilo mais tradicional, o tradicional não fica velho porque já é velho só que ao mesmo tempo é contemporâneo. Não me surpreenderia se ele se tornasse o meu disco mais vendido de todos os tempos daqui a uns quinze anos. Ele vai ter uma dinâmica de venda mais lenta do que um disco comercial e eu louvo a Deus porque a Sony está compreendendo isso também e está sendo uma coisa fantástica.
11. Você sempre conta com participações especiais em seus trabalhos e como foi a gravação de l’cha Dodi?
A gente fechou um time para esse disco. Todos os pianos foram gravados pelo Wendel Mattos que inclusive ontem (segunda, 15) estive no enterro dele que faleceu de madrugada, ele estava lutando contra um câncer já fazia quatro anos. O último período dele de saúde plena foi quando ele gravou essas músicas e foi com ele que nasceu o conceito musical desse disco porque a gente entregou as músicas que queríamos gravar na mão dele. Ele fez os arranjos e, quando entrou em estúdio e a gente gravou, falamos que esse CD está superior ao que a gente imaginava. Todos os pianos foram tocados por ele, todos os violões foram tocados por outra pessoa, todos vocais foram feitos por um time de quatro pessoas e a gente tinha que escolher pessoas que já falassem, pelo menos, duas ou três línguas por ter uma facilidade com a pronúncia. O time contou com meu irmão André Gonçalves que, mesmo morando em Brasília, participou fazendo arranjos e dando opiniões, tem uma cantora chamada Regina Mota que já tem dez discos gravados e fala fluentemente o espanhol e o inglês e a Patrícia Lessa que é prima da esposa do meu irmão. Essa faixa, embora a gente faça quatro dobras soa um coral, foi o momento de cada um fazer um solinho e deixar o seu registro.
12. O shofar é considerado um instrumento sagrado e uma de suas funções é despertar o povo para o Dia de nosso julgamento. Essa foi a intenção ao usá-lo na canção savlanutam shel hakedoshim?
O shofar significa alerta. No Antigo Israel, quando o inimigo cerca a cidade era o shofar que tocavam. Na questão litúrgica, o shofar é utilizado como toque de alerta no Dia da Expiação. Como a música é a do texto de Apocalipse que é “Temei a Deus e dai-Lhe glória / Pois é chegada a hora do Seu juízo / E adorai Aquele que fez o céu e a terra e o mar e as fontes das águas / Aqui está a perseverança dos santos / Os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Yeshua”. É alerta total, então tinha a ver com o shofar, além disso, todas as trombetas do Apocalipse são shofares. A gente colocou o shofar e quem tocou foi o próprio Edson Nunes.
13. No encarte, você diz que a arte nos possibilita enxergar coisas completamente distintas. Pude perceber que nas fotos você traja roupas semelhantes às dos judeus ortodoxos, mas calça tênis. Foi um modo de mostrar que, mesmo sendo algo mais erudito, o CD pode alcançar a turma jovem?
Esse CD musicalmente é um encontro... Vou falar do Wendel, a pessoa e a música dele. Baseado nisso, escolhemos todos os instrumentistas com esse critério. O Wendel é um instrumentista com formação erudita que ama MPB, tocou a vida inteira na igreja e gosta de jazz. A gente queria com um pé no erudito, mas que fosse contemporâneo. Aquela tensão entre o erudito e o contemporâneo é uma coisa que faz parte desse disco inteiro. Então, você tem o vocal um pouco mais puxando para o erudito, meu jeito de cantar extremamente pop, o piano com um toque erudito, mas com harmonia e aberturas de MPB, de coisa mais contemporânea. Na roupa eu também quis traduzir isso: estou de calças jeans preta, um blaserzinho, uma camisa social e de tênis. Chapéu preto ia ficar muito sério, entendeu? Tinha que ficar equilibrado senão ia ficar religioso demais. Embora o disco seja extremamente religioso, a questão religiosa dentro do judaísmo sempre acrescenta um peso e a gente não queria que ficasse uma coisa pesada.
14. Você também fala que a comunicação tem se tornado algo raro. Seria essa a real causa dos vários problemas que vemos na sociedade?
Sem sombra de dúvida e, até explicando melhor essa citação do encarte que você fez, na verdade a gente tem muita gente discursando, todo mundo tem discurso hoje em dia. A gente tem aquele grupo que se fecha no seu próprio discurso (que é o que mais tem na verdade) não só entre cristãos e judeus, mas entre as denominações. Eu tenho meu discurso e você tem o seu, eu te faço o meu discurso e você nem precisa me ouvir. Nosso discurso não tem ponto de encontro, a gente não dialogou, não houve troca de informação, houve confronto de ideias. O mundo hoje pertence aos fundamentalistas não importa em qual religião. O fundamentalismo está em alta, quanto mais fundamentalista melhor. No Islã, os grupos fundamentalistas estão crescendo mais que os muçulmanos não-fundamentalistas e no cristianismo também. Parece que a regra hoje é quanto mais aberto você é, mais fadado ao fracasso seu grupo religioso será. Mesmo no nível acadêmico, os grupos estão cada vez mais se afastando uns dos outros. Existe uma outra vertente que diz que somos todos iguais e não existem diferenças entre nós. Esse disco não quer ser nem um nem outro. Reconheço as diferenças que existem entre o judaísmo e o cristianismo, celebro e aceito essas diferenças, isso não me impede de querer buscar o diálogo e a comunicação. Como promotor desse diálogo e dessa troca de ideias, quando você ouve música como você vê um quadro, podemos discordar completamente, mas sentimos a mesma coisa porque somos seres humanos de prismas diferentes, mas nos unimos naquele momento por um sentimento ou que seja. Isso pode ser a base de um diálogo mais aberto, mais inteligente e mais profundo.
15. O jovem de hoje realmente sabe o que é e tem uma cultura significativa?
Não só o jovem, mas o Brasil de uma maneira geral valoriza pouco a arte. Em especial, as gravadoras valorizam mais o produto do que a arte, por isso até minha grande surpresa desse CD está sendo tão bem aceito e trabalhado dentro da gravadora e, em segundo lugar, por parte do público. Isso também não me surpreende porque as pessoas estão sedentas de arte, as pessoas estão sedentas de significado, as pessoas estão sedentas de profundidade. Esse disco não é profundo por minha causa, é profundo por causa da cultura judaica na qual estou me inserindo que é muito mais profunda do que minha experiência de vida. Fiz 31 anos na semana retrasada e estamos aqui falando de uma cultura milenar e a profundidade vem disso. Eu tive o privilégio de participar nessa cultura milenar e me mergulhar numa profundidade religiosa que ultrapassa o eu, minha experiência pessoal.
16. E o que pode nos adiantar sobre o CD em português?
Estou em fase de fechar repertório. O projeto está previsto para ser lançado no ano que vem na ExpoCristã. Uma coisa que acho interessante, embora sejamos cristãos, nossa mentalidade é completamente grega e ocidental e não muito bíblica no sentido do judaísmo. Normalmente o cristianismo tende a separar as coisas – o santo do profano, o salvo do perdido – e existem algumas tensões maravilhosas na Bíblia que, se você entende com um conceito um pouquinho mais semítico do que a Bíblia foi escrita, você entende que coisas adversas podem conviver. O Reino de Deus é vindouro, a Jerusalém de Ouro que Ele vai trazer e instituir já existe agora e precisa ser promovido agora. Normalmente os grupos religiosos se focam ou no Reino de Deus vindouro ou no Reino de Deus aqui. Os que focam no Reino de Deus aqui são os que fazem mais assistência social, são as denominações mais de esquerda e, os que focam no vindouro, são os cristãos mais de direita. Tem essa separação até política sendo que as duas coisas podem e devem conviver pacificamente. Tem uma frase do Martinho Lutero que “se eu soubesse com certeza que Jesus voltaria amanhã, hoje eu plantaria uma macieira”. Acho que é assim que a gente precisa viver a nossa vida e o assunto do meu próximo CD vai ser em torno dessa tensão do agora e do vindouro.


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