“A alma do homem é uma lâmpada de D’us" (Pv 20:7).
O homem é um conglomerado complexo de céu e terra, espírito e matéria, fogo e pavio. Assim como a lâmpada, o homem t é constituído por três elementos que determinam a direção de suas ações. O pavio da vela, a chama, e o óleo podem ser comparados ao corpo e alma do homem, na fonte da Torá com suas mitsvot.
Sua alma, semelhante à chama quando acesa sempre aponta para cima, em busca de inspiração. Ela arde intensamente dentro dele, inspirando-o a se conectar ao seu Criador. Ele deseja romper totalmente os laços com o mundo físico a fim de transcender as barreiras da existência material e poder unir-se ao seu Criador.
A alma, quando livre para expressar-se, incentiva o homem a empreender buscas espirituais, quase o livrando da gravidade física que cerca sua realidade. No entanto, semelhante a chama da vela, após a alma realizar sua dança celestial, ela retorna novamente para iluminar este mundo e deixar sua impressão única na realidade física. Aderindo a Fonte final, a alma é abraçada. Somente porque sua existência é tão distinta, a alma é capaz de cumprir o propósito de sua descida, razão pela qual foi criada.
O corpo do homem, assim como o pavio da vela são bem físicos. Com limitações, necessidades e desejos, o corpo aprisiona e escraviza a alma dentro dele. No entanto, ao mesmo tempo que impõe restrições, o corpo abriga a alma e proporciona um meio para a sua expressão singular. A alma só pode sentir, perceber e saborear a realidade através dos sentidos do corpo, e somente é capaz de mover-se livremente utilizando os membros do corpo humano. Só pode pensar se for através da mente humana. O corpo tão físico é quem fornece um meio e uma oportunidade para o relacionamento da alma com a Criação.
Torá, como o óleo da lâmpada, é a fonte para os ideais do homem, dando a direção para uma vida significativa que o conecta ao seu Criador. As mitsvot acendem o potencial humano, mostrando-lhe, de uma forma concreta, como utilizar suas habilidades e talentos para um propósito Divino.
Esclarecedor, pura e clara, como o óleo, a Torá e suas mitsvot direcionam o potencial para atingir seu objetivo final.
"O espírito do homem gravita para cima" (Cohelet. 3:21).
Quando o homem é fiel ao anseios de sua alma, direcionando-a através da sabedoria e da luz da Torá, colocando na prática o cumprimento das mitsvot com todas suas faculdades e membros de seu corpo, ele gera luz tornando-se "uma lâmpada de D'us."
Toda sexta-feira ao entardecer, quando uma mulher risca um fósforo, acendendo uma chama que ‘bebe’ o óleo das luzes de Shabat, ela está desenhando, de forma muito real e física, esta luz. Esta não é uma luz passageira e ilusória, que a remove brevemente das preocupações mundanas, mas uma inspiração permanente que impregna a escuridão profunda de nossa realidade física. Estas chamas elevam o comum saturando de santidade o mundo e a Criação como um todo. E o Universo passa a ganhar uma perspectiva mais verdadeira, em harmonia e fiel a vontade de seu Criador.
Assim como as luzes físicas representam a alma do homem e do ser, cada mitsvá traz uma luz espiritual real a este mundo. As velas de Shabat dissipam fisicamente todas as trevas espirituais colocando fim à escuridão que nos rodeia. Já que envolvem a luz física, as velas do Shabat, mais do que qualquer outra mitsvá, harmoniza essa dicotomia que vacila entre corpo e alma na essência do ser humano, trazendo luz e inspiração para a temporalidade da vida.
"Um fogo perpétuo permanecerá em chamas sobre o altar; e não será extinto. " (Vayicra 6:6).
"Nosso coração é o altar. Em tudo que você faz, deixe uma centelha do fogo sagrado queimar dentro, para que você o transforme em uma chama" (Baal Shem Tov).
Quando o fósforo beija a vela, cria uma luz sagrada, revelando algo invisível e intangível, ao mesmo tempo vasto e potente: a energia Divina que envolve e ao mesmo tempo imbui toda a criação. Ao acender as velas do Shabat, a mulher tem o poder especial de revelar toda a santidade do Shabat. Seu ato de acender a vela e recitar a bênção apropriada atrai a aura especial deste dia sagrado que se espalha em pontos de luz em todos os lares judaicos que iluminam o mundo.
Chana Weisberg é diretora editorial do Chabad.org. Possui diversas obras publicadas, é palestrante internacional cujos temas envolvem espiritualidade, educação e questões relacionadas à mulher.
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Enfrentando a Infertilidade
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Por Leah Weitz-Cohen Eu mal a conhecia. Miriam era uma profissional com trinta e poucos anos – trabalhamos no mesmo escritório, lado a lado por cerca de um ano. Ela era sempre muito simpática, inteligente e charmosa, mas nunca fomos muito chegadas porque ela morava em outra comunidade e não freqüentávamos os mesmos círculos. Creio apenas que cada qual estava muito preocupada com si mesma, e como nossas vidas eram tão diferentes, elas nunca coincidiam. Gostávamos de trabalhar juntas, falar sobre isso e aquilo, mas não tínhamos muito em comum. Afinal, o mundo dela parecia girar em torno do seu trabalho, ao passo que minha carreira era minha família, e o escritório apenas uma pequena parte da minha vida.
Eu sempre achei que ela fosse feliz; tudo em sua vida corria exatamente conforme os planos – ela amava o trabalho e estava fazendo carreira na empresa, tinha um marido atencioso e bem-sucedido, e tinham acabado de comprar uma bela casa. Tudo estava indo bem. Tudo estava perfeito. Ou assim eu pensava.
E então, um dia, assim do nada, enquanto estávamos ao lado da máquina de café, ela de repente explodiu em lágrimas. Chocada, tentei acalmá-la, e quando ela se sentiu um pouco melhor abriu o coração para mim.
Tudo corria bem em sua vida… exceto uma coisa.
Ela não conseguia engravidar.
Miriam contou-me que ela e o marido estavam tentando conceber, jamais esperando ter problemas, mas após dois anos de tentativas, nada acontecera. A princípio eles riram, achando que fosse "estresse devido ao trabalho", mas após algum tempo viram que o problema era mais sério. E, embora tudo o mais estivesse bem, neste aspecto tudo ia mal. E isso era o que eles desejavam acima de tudo.
"Eu só pensava naquilo", disse-me ela. "Eu me sentava para uma reunião com um cliente e ficava pensando em ter bebês. Lembro-me que uma vez uma colega de trabalho fez uma observação inocente sobre viajar no fim de semana com o marido e deixar os filhos com a mãe. Ela estava nervosa pensando que as crianças sentiriam falta dela, e achando que a mãe teria dificuldade para cuidar de três crianças pequenas. Ela sorriu para mim e disse: "Você tem sorte, não tem estes problemas." Rangi os dentes, sorri para ela, e depois fui ao banheiro chorar durante duas horas."
Eu me senti mal por alguém ter dito aquilo a ela, e depois vi como facilmente poderia ter sido eu. O que eu tinha dito no passado? Eu tinha sido insensível? Jamais me ocorrera que este assunto era doloroso para ela. Não tendo qualquer idéia de que ela lutava com problemas de fertilidade (na verdade, jamais tinha percebido que alguém lutava com problemas de fertilidade) eu não sabia o quanto este tema poderia trazer sofrimento para tantas pessoas.
Fiquei chocada – eu tinha trabalhado com esta jovem durante um ano, tínhamos conversado casualmente sobre todo o tipo de coisas, e eu deduzira que sua vida estava exatamente como ela planejara. Porém o tempo todo ela estava se sentindo infeliz, e escondendo isso muito bem. E então um dia, na hora do café, ela não conseguiu mais segurar – desabafou tudo – e para alguém que ela mal conhecia!
A princípio eu não sabia como reagir. Ironicamente, eu sempre me sentira um pouco intimidada por ela. Miriam era uma verdadeira fortaleza. Perto dela, uma mulher extremamente bem-sucedida, eu me sentia uma dona de casa comum. Mal sabia eu que ela valorizava tanto aquilo que eu tinha. Miriam parecia precisar de alguém para fazer confidências, alguém objetivo e de certa forma afastado da sua vida pessoal; e eu tive a responsabilidade de escutar. Embora eu não soubesse por que ela me escolhera, achei que se ela o tinha feito, eu deveria tentar ajudá-la da maneira que pudesse.
Ela me contou que tinha começado a consultar um especialista em fertilidade, que a mandava fazer testes e mais testes – sem resultados.
"Eu estava acabrunhada; ia ao consultório médico fazer exames de ultrassom para ver quando eu estava ovulando, e depois corria de volta para o trabalho. Muitas vezes cheguei atrasada, e embora o chefe fosse muito compreensivo, eu me sentia mal por ter de explicar a ele e aos colegas por que eu estava sempre atrasada e muitas vezes ranzinza. E quando comecei com a medicação, sentia-me mal fisicamente também. E depois de tudo aquilo, minha menstruação chegava. Eu estava um feixe de nervos."
Porém apenas ir ao médico, explicou ela, não basta. Aparentemente cada médico tem uma especialidade específica, e um médico que ajuda um casal talvez não consiga ajudar outro. Miriam disse que conheceu muitos casais que passaram horas intermináveis atrás de médicos que não ajudavam, faziam-nos perder tempo em tratamentos que só aumentavam sua ansiedade. Às vezes eles aguardavam durante meses para consultar um médico, apenas para ouvir que deveriam parar de tentar, que estavam velhos demais para conceber.
"Você não sabe o que fazer, com quem falar," disse ela. "E eu não podia falar com ninguém à minha volta – minha família se sentia mal por nós, eles não queriam tocar no assunto; minha irmã mais nova estava preocupada com os próprios filhos, e obviamente o assunto era pessoal demais para eu conversar com os colegas de trabalho. Todas as minhas amigas também tinham os próprios filhos para mantê-las ocupadas, ou então não estavam interessadas em ficar grávidas… e elas certamente não queriam ouvir os meus problemas. Eu me sentia só, como se fosse a única pessoa no mundo com estes problemas – eu não tinha ninguém a quem me voltar."
Bem… eu certamente estava lisonjeada por ela ter decidido confiar em mim, praticamente uma estranha – deve ter sido um ato de puro desespero da parte dela. Mas eu também estava empolgada; aqui estava um problema que eu pessoalmente – graças a D'us – conhecia pouco, algo que para muitos é importante. Em retrospecto, é claro, eu deveria ter percebido como deve ser difícil ter dificuldades para conceber, especialmente em nossa comunidade. Afinal, o Judaísmo dá um valor incrível à vida em família e à criação dos filhos. E é impossível não ter a vida girando ao redor dos filhos depois que você os tem. Desde o momento da concepção, nossa vida muda para sempre.
Estou envergonhada por admitir que jamais dei muita atenção ao tema da infertilidade. Acho que eu simplesmente acreditava que as pessoas tinham filhos quando quisessem. Depois que Miriam e eu conversamos, comecei a pensar quem mais eu conhecia que pudesse estar afetada. Jamais me ocorrera que talvez algumas pessoas que eu achava que não queriam filhos na verdade não podiam tê-los. Jamais pensei em ser sensível quando conheci pessoas e logo perguntava: "Então, quantos filhos você tem?"
Comecei a me perguntar quantas pessoas talvez tenham histórias sofridas para contar sobre a minha falta de consideração.
A primeira coisa que eu fiz depois da minha conversa com Miriam foi pesquisar no computador para aprender mais sobre infertilidade. Infelizmente, Miriam e seu marido estão longe de serem os únicos – são apenas um dos milhares de casais que têm problemas para conceber. Na verdade, parece que cerca de um em cada sete casais podem ter problemas com fertilidade a certa altura da vida conjugal. E parece que o número aumenta à medida que o casal fica mais velho. Isso significa que cerca de 15% dos casais pode não conceber após tentarem durante doze meses. Alguns subseqüentemente conseguirão sem qualquer intervenção, mas a maioria precisará de ajuda médica. Infelizmente é um problema que afeta a muitos… e eu não tinha a menor idéia.
Poucos meses depois do "incidente da máquina de café", Miriam chegou ao escritório um dia parecendo mais calma do que eu a vira por um longo tempo. Ela finalmente encontrara um médico em quem confiava, que lhe dava apoio emocional e conforto para ela e o marido, e os estava orientando através de todo o processo de tratamentos de fertilidade. Ele os estava ajudando a recuperar o controle de sua vida. Com essa ajuda positiva, ela continuou o tratamento com maior confiança e um renovado senso de esperança.
Miriam continua a agradecer-me "por estar lá" quando ela precisou de mim; a verdade é que eu aprendi muito com ela e tenho muito a lhe agradecer. Aprendi a ser mais consciente, a abrir meus ouvidos e meu coração aos outros. E se alguém escolher confiar em mim para expressar seus sentimentos, ou se alguém apenas aparentar que precisa de apoio, farei o melhor possível para escutar, deixá-la falar livremente das suas frustrações e desapontamentos.
Por causa de Miriam eu comecei a ser voluntária num centro para casais com problemas de fertilidade, partilhando com essas pessoas suas esperanças e preocupações. Há centenas de casais como Miriam e seu marido, a maioria sofrendo em silêncio. Talvez sejam nossos vizinhos, nossos amigos, pessoas com quem vamos à sinagoga; e muitas vezes ficamos alheios, insensíveis, ou absorvidos demais em nossa própria vida para prestar atenção às preocupações dos outros. Por meio desse incidente, fiquei determinada a ajudar, de qualquer maneira que eu possa. E não apenas fornecendo informação sobre fertilidade àqueles que sofrem com isso, mas para aqueles que felizmente não têm esse problema, para que estes se tornem uma fonte de apoio e força para aqueles que têm, em vez de uma fonte de sofrimento e tristeza.
E o mais importante, aprendi a contar minhas bênçãos e a jamais contar com algo como certo. Espero e rezo para que um dia eu consiga ver Miriam e o marido felizes, bem como outras famílias que tentam conceber, para que eu esteja lá para saber quando conceberam e tiveram um bebê saudável, e com gratidão dar as boas-vindas a um pequenino em suas casas.
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Lidando com a Fertilidade Secundária
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Por Elana Mizrahi Quando tentei conceber pela primeira vez perguntei ao médico se eu teria de passar por tratamentos de infertilidade toda vez que quisesse ter um filho. Eu queria que ele me dissesse que uma vez que eu engravidasse, poderia deixar de lado todas as injeções e comprimidos, para conceber naturalmente. Ele não o fez. Em vez disso, respondeu sinceramente: "Eu não sei."
Tratamento após tratamento, mês após mês, ano após ano meu útero continuava vazio. Nada acontecia, exceto que a dor em meu coração ficava mais forte. Eu me sentia como se todas ao meu redor estivessem grávidas e tendo bebês. Especialmente em minha comunidade é difícil não sentir que você é "a única" sem filhos.
Clamei a D'us, implorei a Ele. Olhava para nossas matriarcas em busca de orientação e ajuda para superar este teste. Conversei com rabinos e amigos. Aos poucos percebi que eu não tinha controle sobre isso. Era a primeira vez na vida que eu tinha uma revelação tão clara da grandeza do meu Criador e como eu estava completamente em Suas mãos.
Então parei de me preocupar. A voz teimosa dentro de mim que dizia "Você terá filhos" jamais desapareceu por completo, mas aquietou-se. Deixamos de lado os tratamentos convencionais, fizemos uma pausa, e então decidimos tentar uma abordagem diferente. Mudamos nossa dieta, tentei acupuntura e tomava ervas. Pouco depois concebi, e meses depois nosso filho nasceu.
Demorei meses para perceber que eu realmente tinha um filho. Era difícil acreditar que esta vida linda viera do meu corpo e que eu era sua mãe. A gratidão que sinto é imensurável. Por que então o anseio retornou, bem como o sofrimento e a incerteza?
Rezo diariamente pelos casais sem filhos e sinto-me culpada pelos meus sentimentos. Por que não posso simplesmente ficar encantada com aquilo que tenho – a bênção que D'us me deu? Em vez disso, meus olhos se concentram na barriga das mulheres grávidas. Vejo irmãos brincando juntos e famílias grandes caminhando pelas ruas. Abraço meu filho e me pergunto se algum dia poderei ter novamente a sensação da vida crescendo dentro de mim. Pergunto-me se serei capaz de dar-lhe irmãos e irmãs para brincar.
Voltei à acupuntura e à dieta. Nada aconteceu, ainda. Portanto, estou esperando e me vejo na mesma situação de dois anos atrás, embora hoje, tendo um filho, tudo mudou. A vozinha dentro de mim insiste: "Você já tem um, não há motivo para não ter outro." Porém a voz está desaparecendo.
Estou outra vez completamente nas mãos do meu Criador. Admito a Ele, para mim, que mesmo com tudo que faço, não tenho controle sobre isso, sobre qualquer assunto. Vejo que abrir mão me ajuda a passar pelos momentos mais sombrios.
Uma amiga minha perguntou-me como posso fazer isso: como eu pude desistir? Expliquei a ela que abrir mão e deixar D'us tomar conta não é desistir. Na verdade, é a única maneira de lutar uma batalha.
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